Antecedentes
O projeto representou um grande desafio e, por sua vez, uma grande oportunidade para o programa, razão pela qual encontra-se localizado em uma área de alta padrão, mas com um contexto imediato deteriorado, mostrando uma visual direta de uma construção "abandonada" e uma estação de serviços na Av. Isabela Católica na cidade de Cuenca no Equador.
Programa
O projeto parte de um programa híbrido entre residência e comercio que surge da necessidade de gerar uma proposta que rompa com o esquema funcional que se insere no contexto comercial, o que determina o planejamento de residências entre 30 e 90 m2, de 1 a 3 dormitórios, buscando otimizar e potencializar os espaços, obtendo estrategicamente um maior número de moradias e, principalmente, uma maior acessibilidade de residências de menor metragem nessa região da cidade.
Módulos
Ao considerar com clareza que cada pessoa é diferente (única) e que a padronização de plantas tipo utilizada em projetos residenciais (grands ensembles) limita as pessoas e a arquitetura, e se planeja um sistema de construção padrão de lajes, no entanto, diferentes em sua funcionalidade, buscando potencializar as áreas emergentes (retiros laterais, posteriores, etc.), as características próprias de cada departamento (altura, localização), fazendo com que cada um funcione como uma entidade individual que minimiza-maximiza as visuais, a entrada de luz, a ventilação, etc.
"É maravilhoso quando chove, estar em sua casa e ver a água caindo em sua varanda... é uma das coisas que não são fundamentais, mas que realmente importam na vida cotidiana.", Jean Renaudie, 1980.
Adaptação
No cenário de acelerado desenvolvimento imobiliário da cidade, atentamos a um marco natural característico da cidade como o Barranco, extraído parte desse acidente geográfico para gerar uma relação entre um uso formal (arquitetura) e informal (natureza), onde buscou-se gerar um sistema vivo habitável em uma espécie de "colina artificial".
Subtrações no programa criam espaços flexíveis que funcionarão como pátios cobertos concebidos pela mesma arquitetura, os mesmos que liberarão o lugar com o objetivo de melhorar a convivência dentro deles ao estabelecer uma integração entre os habitantes e seu contexto, o que permitirá que as atividades cotidianas se integrem com o entorno urbano aproximando as sensações despertadas pelo viver em uma casa.
Integrou-se a vegetação na parede central da edificação com o objetivo de presentear cada unidade com seu direito a um solo "natural", que ao sair de seu pátio gere outra sensação visual com seu lado verde, criando um espaço de importância no programa da residência, experimentando uma sensação de distanciamento próximo com seu contexto próprio e externo, o que, por sua vez, gera a parte mais importante: a apropriação dos residentes do espaço.
Materialidade
Os espaços do projeto pretendem evocar uma conexão com a natureza ao utilizar texturas como "madeira" e "pedra" obtendo sensações que, ao serem unificadas com a vegetação e as virtualidades, permitem ao usuário estar em contato permanente com um entorno menos agressivos.
Edifício "Isabela" é um projeto que recupera o protagonismo do usuário - o relacionando com os agentes atmosféricos e seu entorno, deixando de lado o critério de gerar espaços herméticos - limitados para desenvolver uma melhor experiência dentro do espaço e a oportunidade para a cidade, que através de uma inversão privada, recupere valores básicos desenvolvendo um projeto que faz a cidade.
Deve-se reconhecer que nos programas residenciais não é necessário gerar modelos estereotipados, no entanto, a ideia é entender as edificações como organismos vivos que buscam a unificação geral e as soluções únicas, além de oportunidades de liberar os residentes, sendo isso a chave para a sobrevivência do programa.
“Utópico” e pragmático são determinados a cada vez, não pelo resultado, mas pelo pensamento de adaptação da cidade ao projeto como uma série em repetição de um critério similar, sem a tentativa de estar em uma situação de moda, mas de evidenciar uma perda de natureza do pensamento nas pessoas, na tentativa de recuperar onde se possa pensar em um, no outro, em todos, como um único organismo vivo. 1
1. 10 Histórias sobre a habitação coletiva, Fernandez Per, Aurora, Mozas Lérida, Javier. e Sanz Ollero, Alejandro. 2013. Vitoria – Gasteiz: A+T architecture