- Área: 350 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Berenice Gómez Crosa
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Fabricantes: Casa Marco, Chacore
Em meio de um momento de formulações e reformulações sobre um modelo de cidade contemporânea em busca da otimização de vários recursos, o tema da habitação/produção ocupa um espaço relevante quando se trata de economia de energia, mobilidade eficiente, contaminação reduzida, etc. O espaço/tempo entre estas duas atividades é determinante: quanto maior a distância entre residência e trabalho, maiores se tornam esses fatores. A partir disso, a ideia da unidade produtiva urbana é uma saída. "Trabalho onde moro e moro onde trabalho" junto à reutilização de estruturas existentes para reforma e ampliação, são ações que colaboram com um modelo eficiente de cidade. Não estamos apenas diante de uma operação de reciclagem material, mas também ética.
O projeto consiste na reforma de uma residência existente para tornar-se uma residência/clínica médica, um espaço que não é inteiramente público, nem inteiramente privado, um espaço misto.
A clínica se articula espacialmente como umas barras de consultórios, paralelas à rua (uma delas existente e outra proposta), e um interstício que contém áreas comuns: escada, ponte, serviços e pátios, um retiro da linha municipal em forma de espaço público que conecta a rua com o interior de esperas e pátios, unificando-os em um grande vazio no nível térreo.
O edifício propõe o uso de recursos naturais próprios para economia de energia: os pátios N/S para ventilação e iluminação natural, diferenças de altura de cobertura para maior ventilação cruzada, ventilação por convecção e luz indireta L/O, além de um tecido cerâmico da fachada oeste, a mais exposta ao forte sol da cidade de Assunção.
Embora o tijolo seja um material de uso recorrente no Paraguai, muito reconhecido em sua lógica de material portante, nessa obra o utilizamos no sentido inverso, explorando outros modos não-tradicionais de construção. Amparados na técnica da pré-fabricação de painéis armados em obra, propusemos peles cerâmicas em condições estruturais diversas: penduradas e desmontáveis nas coberturas; em cortes, como uma pele dupla que unifica a rua, a construção nova e a construção existente; e, finalmente, em uma malha de altura dupla apoiada e um ponto de equilíbrio, com uma condição estrutural mista de tração, compressão e encurvadura lateral. Estas cascas cerâmicas funcionam como uma grande persiana que configura a peça principal do conjunto, já que representa o elemento que conecta o projeto à rua e proporciona uma escala pública ao edifício.
Na fusão entre espaço público (clínica) e espaço privado (residência), estes envoltórios cerâmicos em estado de suspensão funcionam como vínculo entre essas duas dimensões, onde sua condição tridimensional configura o encontro de um vazio misto entre o coletivo e o particular. Na horizontal e vertical, constroem o centro que configura o espaço comum e de encontro entre residência e clínica, entre o habitante permanente e o transitório, conectando-os com a rua. É uma marca, a característica de uma voz que pretende extrair a essência desta vida mista, oferecendo esse modelo à cidade como expressão de uma vida mais urbana e mais humana.