Na semana passada divulgamos o resultado do Concurso para a nova sede do SESC em Limeira, estado de São Paulo. O projeto vencedor foi desenvolvido pela equipe formada pelos escritórios gruposp, JPG.ARQ e Pedro Mendes da Rocha. Conheça o projeto em detalhes abaixo:
Dos arquitetos
Partido
A nova unidade do SESC em Limeira será um conjunto de aproximadamente 17 mil metros quadrados formado por um embasamento de concreto onde se apoia uma barra em estrutura metálica. Esta configuração proporciona uma interação dinâmica entre os diversos programas do equipamento, além de se adaptar à topografia do terreno, respeitando os atuais fluxos entre bairro e avenida.
Esse partido de projeto resultou da adoção das seguintes diretrizes: a) articular a área de convivência com a passagem existente entre bairro e avenida formando uma praça de chegada, como um espaço complementar ao programa original, que acolhe os visitantes e distribui todos os usos e programas da nova unidade; b) adaptar o edifício ao terreno de forma a potencializar o uso e acesso aos programas do novo conjunto; c) construir um edifício capaz de inaugurar um marco visual na paisagem local sem agredir a atual configuração espacial do bairro.
Dessa forma, a nova unidade do SESC em Limeira deverá ser uma referência urbana. Um edifício preciso marcado por sua austeridade construtiva, pautada pela redução de ações construtivas e pela busca de expressividade dos materiais, tornando a arquitetura mais econômica e resistente.
Programa
Os usuários acessam a nova unidade por duas entradas: uma pela via Luiz Varga e outra pela rua João Chiarrochi, na parte superior do lote, mais próxima do conjunto habitacional Olindo de Luca. Ambos os acessos acontecem por amplas escadas que levam o visitante diretamente até a praça de chegada localizada no pavimento térreo. Essa praça é aberta, dotada de arvores e equipada com elevadores públicos que reforçam o fluxo de pessoas transversal ao lote que existe atualmente entre o conjunto e a avenida. Nessa praça estão a central de atendimento e a clínica odontológica, programas que garantem vida e movimento a esse grande átrio central. Por uma entrada lateral pode-se acessar as salas de ensaio e os camarins do teatro. Ainda contiguo à praça de chegada, no pavimento térreo, mas descoberto, está o pátio lúdico multiuso. Ao passar pela central de atendimento, o visitante acessa os vestiários e chega às piscinas cobertas. Mais adiante, na porção mais ensolarada do lote, sobre o embasamento, estão as piscinas descobertas.
Ainda no átrio central da praça de chegada, por uma escada se acessa uma ampla passarela no primeiro pavimento. Nesse piso estão, de um lado, área de convivência, cafeteria, galpão de uso múltiplo, salas para oficinas culturais; e de outro, biblioteca, midiateca, área infantil interna, além de parte do programa esportivo: vestiários e ginásio poliesportivo. Pelo espaço de convivência, que aqui também é o foyer, chega-se até a plateia do teatro e ao palco.
O acesso aos níveis superiores e inferiores do conjunto se realiza por meio de duas torres posicionadas nas laterais da grande lâmina metálica. Nessas torres estão as escadas de acesso, elevadores e sanitários.
No segundo pavimento, ainda em torno do átrio central, estão, de um lado, programas como as salas de uso educativo flexível, salas para atividades físicas, técnicos esportivos, salas de tecnologia e internet; e de outro, a sala técnica de projeção do teatro e o vazio da caixa cênica.
No terceiro pavimento, também organizado pelo grande átrio sobre a praça de chegada, estão, de um lado, comedoria e cozinha; e de outro, o setor gerencial, que se abre para um terraço. A comedoria, aqui posicionada, funciona como indutor do público pelo espaço da nova unidade.
O embasamento abriga o estacionamento e demais áreas técnicas como o setor de apoio, manutenção, serviços, paisagismo e estrutura predial, e as áreas de instalações específicas. Também no embasamento estão previstos programas de carga e descarga relacionados ao teatro e outros serviços como remoção de lixo.
Materiais e Sustentabilidade
A estrutura da nova unidade do Sesc em Limeira é concisa assim como o edifício que ela sustenta. O embasamento é feito em concreto armado e prevê a utilização de britas de borracha na sua produção. A modulação estrutural de 7,5 metros por 9 metros permite uma estrutura eficiente e econômica. Os arrimos que complementam o embasamento estão posicionados de modo a reduzir, sempre que possível, as intervenções de corte e aterro.
A grande barra metálica está apoiada diretamente sobre o embasamento, evitando grandes esforços estruturais e utilizando o aço de forma racional e sustentável.
As membranas metálicas que protegem esse volume, além de criar as perfeitas condições de iluminação natural para a utilização dos espaços internos, garante a criação de um microclima capaz de reduzir as altas temperaturas durante o verão. A luz solar filtrada por essas membranas desenha um jogo agradável de transparências no edifício e transforma-o em uma lanterna para o bairro durante a noite.
As piscinas serão aquecidas por sistema de placas solares, dispostas na cobertura do edifício. Além disto, esta ampla superfície poderá acolher placas fotovoltaicas para a geração de energia elétrica.
Paisagismo
O projeto de paisagismo foi idealizado com o objetivo de condicionamento cênico e micro ambiental das áreas ajardináveis da edificação do SESC Limeira, seguindo as vocações conservacionistas do local, onde é notória a necessidade de integração ambiental com os remanescentes vegetacionais das intermediações e, mais amplamente, integração com remanescentes florestais do bioma correspondente, a Mata Atlântica e suas fases transicionais para o Cerrado.
As composições florísticas propostas foram inspiradas no meio natural, sendo contempladas apenas espécies nativas e buscando o propósito de criação de ilhas de conservação do patrimônio biológico e socioambiental da região, fazendo com que, além de um jardim que compõe uma paisagem própria dos remanescentes naturais da região, seja também possível a implementação de atividade de educação ambiental e estudo do meio nas dependências do SESC, com a criação de canteiros experimentais e um pequeno viveiro voltado para cursos e oficinas. Nestes canteiros também estão contempladas áreas para manejo de pequenos núcleos agroflorestais como um fomento a possíveis práticas de agricultura urbana.
Um dos pontos fortes da integração do paisagismo ao edifício é o plantio de Mirtáceas que marca e atravessa o eixo de acesso principal. Jabuticabeiras, Pitangueiras e Cerejeiras do Rio Grande qualificam esta área do interior do edifício se tornando não apenas de passagem, mas também de permanência. A escolha dessa família botânica se deu pela sua beleza formal e pelo seu desenvolvimento em sub-bosque, ou seja, são árvores que se desenvolvem em ambiente interno quando bem iluminado.
A existência da área de preservação permanente limítrofe foi um ponto positivo e enfaticamente considerado na tomada de decisão quanto aos aspectos técnicos de modulação e volumetria de vegetação e sucessão trófica dos estratos arbustivo e arbóreo do projeto de paisagismo. Entrecortando estes módulos paisagísticos, a proposta é a de criação de caminhos e áreas de permanência que contenham material explicativo e iluminação direcionada, a fim de esclarecer e elucidar o usuário quanto a estes temas. A escolha das espécies vegetais foi feita com base em inventários técnicos florestais de remanescentes presentes na região.
Arquitetos
Localização
Via Luís Varga - Jardim Anhanguera, Limeira - SP, BrasilAutores
Alvaro Puntoni, João Sodré, José Paulo Gouvêa e Pedro Mendes da RochaPaisagismo
Gabriella Ornaghi, Bianca Vasone, Lilian Dazzi e Rodrigo Bordigoni [engenheiro agrônomo]Consultoria de Estruturas
Miguel Maratá [engenheiro calculista]Colaboradores
André Britto, Bruno Satin, Caio Ferraz, Fernanda Carlovich, Kamal Yazbek, Miguel Meister Neto e Paola OrnaghiÁrea
17010.0 m2Ano do projeto
2017Fotografias
Cortesia de Grupo SP + JPG.ARQ + Pedro Mendes da Rocha