Como uma montanha de concreto em meio às árvores, o volume irregular de concreto de Neviges Mariendom ("Catedral de Santa Maria de Neviges") ergue-se sobre seus arredores. Construído em um popular local de peregrinação no oeste da Alemanha, Mariendom é a última iteração de um mosteiro que atrai inúmeros visitantes e peregrinos de todo o mundo há séculos. Ao contrário de seus predecessores medievais e barrocos, Mariendom, descaradamente modernista, reflete uma mudança significativa na visão de seus criadores: uma nova maneira de pensar tanto para as pessoas da Alemanha pós-guerra quanto para a Igreja Católica em geral.
Os peregrinos dirigem-se a Neviges desde o final do século XVIII, quando a igreja da época tornou-se anfitriã de uma Imacculata (uma venerada gravura de cobre retratando a Imaculada Conceição da Virgem Maria). A popularidade do local foi muito boa para o convento barroco existente, levando à construção de uma estrutura anexa no início do século XX. Mesmo com essa estrutura construída especificamente para esse propósito, milhares de peregrinos após a Segunda Guerra Mundial, demandaram a construção de uma edificação maior. Em 1960, foi decidido que uma nova igreja de peregrinação fosse construída para lidar com o afluxo de visitantes. [1, 2]
Com este objetivo em mente, o arcebispado de Köln (Colônia) organizou um concurso arquitetônico entre 1963 e 1964. O concurso solicitava uma igreja com assentos para 900 adoradores, e com espaço para mais de 3.000 pessoas; outras demandas incluíam duas capelas, um confessionário, uma sacristia, uma torre de sino e outros espaços auxiliares. O vencedor, escolhido pelo júri e particularmente pelo arcebispo de Köln, Josef Frings, quase cego na época, foi o arquiteto alemão chamado Gottfried Böhm. [3,4]
Frings havia supervisionado a construção de igrejas na área em torno de Köln desde que havia se tornado arcebispo em 1942. Isso fazia parte do esforço para reconstruir a Alemanha após a devastação da Segunda Guerra Mundial: centenas de igrejas centenárias foram destruídas em segundos por bombas durante os conflitos. Suas substituições foram quase universalmente construídas em estilo modernista, refletindo a austeridade do pós-guerra e as mudanças nos procedimentos litúrgicos. O próprio Frings defendia uma maior ênfase na celebração pública da Missa; consequentemente, ele sentia que o altar não deveria ser instalado atrás do coro, mas deveria ser uma mesa independente que se situasse entre a própria congregação. Este impulso para uma maior inclusão e abertura, que refletiu-se em muitas das igrejas construídas sob a supervisão de Frings, encontraria uma expressão pronunciada no projeto de Böhm. [5]
Apesar de estar situada numa pequena comunidade relativamente remota, Mariendom é monumental em escala. Böhm era um notável expressionista alemão que considerava que a arquitetura sagrada - contemporânea ou não - deveria provocar emoção no espectador. Se aproximando por trem, estrada ou a pé, pode-se ver um pico de concreto semelhante a uma montanha de longe. O caminho até a igreja é alinhado de um lado por um muro e pelos escritórios e o convento do outro, conformando uma sensação de procissão enquanto os peregrinos fazem a etapa final de suas jornadas. [6]
Não fosse a cruz de metal que adorna o pico mais alto de Mariendom, não haveria nenhuma indicação de que a imponente estrutura de concreto é uma igreja. Composto por uma série de cubos de concreto comprimidos e pirâmides, a massa amorfa e irregular foi, segundo Böhm, projetada para refletir o terreno montanhoso da região. (Observadores casuais, no entanto, notaram que Mariendom se parece mais com um iceberg de concreto do que aos montes mais arredondados e verdes da Renânia.) [7]
Uma vez que os visitantes entram na igreja, a grande massa do edifício é brevemente obscurecida em um foyer de teto relativamente baixo, proporcionando um momento de suspense visual antes de entrar no volume cavernoso do principal espaço de adoração. Como o exterior, o interior é formado de concreto geometricamente irregular na escala de uma catedral, as juntas dos planos inclinados de cobertura acima intercaladas com grelhas que permitem a luz natural no espaço. O espaço é dominado pelo altar, que, embora não esteja no eixo da entrada principal, é colocado centralmente seguindo a preferência do Arcebispo Frings. Três pavimentos de galerias se encaminham do lado direito, permitindo vistas de peregrinos e proximidade com o altar mesmo quando a igreja está lotada. No lado esquerdo, envoltas em relativa escuridão, estão duas capelas, incluindo a Marienkapelle que abriga a relíquia de cobre. [8,9]
De acordo com o estilo particular de Böhm, as extensões cinzentas de concreto são pontuadas com janelas de vitrais brilhantemente coloridas. Principalmente vermelho, azul e verde, as janelas projetadas pelo próprio Böhm - retratam, em resumo, uma série de temas marianos típicos, incluindo uma grande rosa vermelha. Para a Marienkapelle, Böhm também criou uma elaborada composição centrada em torno dos Ichthys, o peixe simbólico que representa Cristo. Dispersos por toda a igreja estão obras escultóricas de outros artistas, incluindo uma coluna de mármore e um altar desenhado por Elmar Hillebrand; O próprio filho de Gottfried Böhm, Markus, também foi responsável pela pintura da igreja inferior. [10]
Uma vez construída e consagrada em 1968, Neviges Mariendom tornou-se a segunda maior igreja da Alemanha, superada apenas pela catedral gótica em Köln. O volume de concreto do edifício, embora com a aparência de ser impregnável, começou a apresentar goteiras na década de 1980; no momento da construção, a tendência natural do concreto de apresentar fissuras não foi, evidentemente, levada em consideração. Os remendos de concreto realizados durante a década de 1980 provocaram críticas, já que eram de uma tonalidade diferente do material original, e considerou-se que eles arruinaram a pureza estética do edifício. Sob a supervisão do filho do arquiteto, Peter Böhm, no entanto, espera-se que um segundo esforço para esconder o concreto resolva o problema, mantendo a aparência exterior original da igreja tanto para os peregrinos como para os entusiastas da arquitetura. [11]
Referências
[1] Altvater, Ricarda. "Nachkriegsarchitektur in Nordrhein-Westfalen." Mariendom Neviges. September 10, 2012. [link].
[2] "Velbert-Neviges | Maria, Königin des Friedens." Straße der Moderne. Accessed August 19, 2017. [link].
[3] "Nachkriegsarchitektur in Nordrhein-Westfalen."
[4] “Velbert-Neviges | Maria, Königin des Friedens.”
[5] James-Chakraborty, Kathleen. "'Abstract forms were espoused more quickly by the German church than by industries'." Architectural Review. April 19, 2016. [link].
[6] James-Chakraborty.
[7] “Velbert-Neviges | Maria, Königin des Friedens.”
[8] James-Chakraborty.
[9] "Nachkriegsarchitektur in Nordrhein-Westfalen."
[10] “Velbert-Neviges | Maria, Königin des Friedens.”
[11] Voogt-Müller, Bärbel. "Mariendom: Der „Betonfelsen“ ist undicht." Westdeutsche Zeitung. February 10, 2012. [link].
- Ano: 1972
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Fotografias:Yuri Palmin, Laurian Ghinitoiu
Ensaio fotográfico retrata a Igreja da Peregrinação de Gottfried Böhm em Neviges
Em 1986, o Prêmio Pritzker de Arquitetura anunciou seu primeiro laureado alemão. Em discurso durante a cerimônia de premiação em Londres, o Duque de Gloucester afirmou que o prêmio "pode não garantir a imortalidade", inferindo, talvez, que nem mesmo o mais prestigiado prêmio da arquitetura poderia competir com uma obra tão compacta, focada e contínua como a de Gottfried Böhm -- um "filho, neto, marido e pai de arquitetos."