A Fonte Andrade Junior é uma edificação pavilhonar construída para abrigar a fonte de águas sulfurosas da Estância do Parque do Barreiro, em Araxá, Minas Gerais. Situada numa pequena península junto ao lago desenhado por Roberto Burle Marx de onde também provém a lama para os banhos [1], a fonte substituiu um edifício de 1932 quando da implantação do projeto paisagístico para o complexo hidromineral [2].
Encomendada ao arquiteto Francisco Bolonha em 1943, então estagiário no escritório do paisagista, o projeto foi elaborado em consonância com a emergente linguagem da arquitetura moderna no Brasil como desenvolvida por Oscar Niemeyer na Pampulha, mais especificamente na Casa do Baile [3]: ambas edificações se definem pela laje impermeabilizada em concreto armado, de contornos curvilíneos, acompanhando o lago e protegendo volumes circulares em suas extremidades.
Enquanto a casa de máquinas é definida pelo único volume opaco a tocar a laje, os bebedouros foram locados em cotas rebaixadas acessadas através de rampas circulares. Para além desse desnível, os ambientes são sugeridos apenas por baixas muretas e fechamentos em vidro que colaboram com a fluidez espacial prevista pela tipologia. Todo o perímetro junto ao lago foi fechado por um amplo pano de vidro curvo fixado em esquadrias metálicas fixas. Com possibilidade de abertura apenas na porção superior, esta tinha o intuito de proteger os usuários dos ventos.
A construção teve início em 1944 e foi acompanhada pelo engenheiro Andrade Junior, que também foi o descobridor da fonte [2]. Durante as escavações, foram encontrados os primeiros fósseis no Brasil, catalogados pelo paleontólogo Price – estes foram incluídos pelo arquiteto ao programa, que previu uma vitrine de exposição também em conta inferior. Hoje em dia, ela conta com um mostruário elevado em madeira, onde réplicas são expostas devido a inadequação das condições locais para a preservação dos espécimes.
Esse tema pré-histórico foi escolhido pelo paisagista para compor não apenas o desenho dos azulejos que revestem os fechamentos, mas também o mosaico em pedras portuguesas que compõe a paginação do piso – para além dos contornos ameboides, foram introduzidas figuras dos animais desenhados em pedras pretas e brancas. Embora o projeto original previsse desenhos extras em pedras vermelhas, este acabou simplificado ante à execução.
Atualmente, a fonte mantém seu uso original e encontra-se relativamente bem preservada. No entanto, em 1990 passou por uma reforma que alterou a laje impermeabilizada para uma laje em platibanda e calhas. Seu revestimento em mármore travertino, que permanece original nas colunas, foi substituído por pastilhas cerâmicas verdes. O pano de vidro curvo que delimitava o pavilhão junto à face norte também foi removido [4], sua presença sendo lembrada apenas pelo alinhamento de pedras adicionadas posteriormente para tampar seus pontos de fixação.
Notas
[1] GRAEFF, E., JAIMOICH, M. et al. Arquitetura contemporânea no Brasil. Rio de Janeiro, Gertum Carneiro Editora. 1947.
[2] PORTO, D. R. O Barreiro de Araxá: projetos para uma estância hidromineral em Minas Gerais. Dissertação de mestrado junto à Escola de Engenharia de São Carlos. São Carlos, 2005.
[3] L'Architecture d'Aujourd'hui nº 13/14 spécial Brésil. Setembro 1947.
[4] BORDA, L. et al. Fonte Andrade Junior. In: História e Preservação. Documentação da arquitetura moderna no Triângulo mineiro e Alto Paranaíba. UFU, 2008. [link]
Referências
ADAMS, W. H. Roberto Burle Marx: the unnatural art of the garden. New York, Museum of Modern Art, 1991.
Prefeitura do Distrito Federal: Secretaria Geral de Viação e Obras. Revista Municipal de Engenharia, nº4 Outubro/Dezembro 1948, volume XV.
Rolando Piccolo Figueiredo é formado em engenharia mecânica pela universidade de Bath. Atualmente cursa Arquitetura e Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e administra o perfil Oscar Niemeyer Works, focado em pesquisas sobre o trabalho pré-Brasília do arquiteto.
-
Arquitetos: Francisco Bolonha
- Ano: 1944
-
Fotografias:Rolando Piccolo Figueiredo