- Área: 711 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Shigeo Ogawa
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Fabricantes: Mitsubishi Electric, Toli, YKK AP
Arquitetura como arqueologia
Este projeto consiste na reforma de um antigo armazém de tijolos construído em 1896. Projetado e construído há 120 anos pela Shimizu-ten (atualmente uma das maiores empresas do ramo da construção no Japão), sua obra foi realizada utilizando as mais modernas tecnologias daquele período. Isto pode ser visto na qualidade dos tijolos utilizados e em como foram assentados. Os grandes vãos livres de 9m por 36m são superados por uma treliça de madeira bi-apoiada e pelas vergas das janelas que servem para ventilar e controlar a umidade do interior. Esta foi, provavelmente, a primeira vez na história da construção japonesa que um edifício de tijolos foi construído com tanta qualidade quanto nos países ocidentais. Por esse motivo, foi tombado como patrimônio industrial do país e um projeto de preservação e renovação foi desenvolvido para transformá-lo em centro comunitário na cidade de Honjo.
Uma pesquisa preliminar foi conduzida por uma equipe da Universidade de Waseda em vários campos, como história, estrutura, material, urbanismo e gerenciamento de desastres naturais, a partir disso, várias pontos em relação ao edifício foram esclarecidos. As paredes laterais de tijolos do edifício existente e a treliça de madeira ainda funcionavam como elementos estruturais do edifício, entretanto, as laterais menores não resistiram a ação do tempo. Outro fato importante é que não havia desenhos detalhados quando a obra foi concluída, e além disso, várias reformas foram realizadas uma vez que o armazém sempre foi uma propriedade privada. As informações obtidas com a pesquisa eram apenas fragmentos devido aos seus 120 anos de idade. No entanto, foram de suma importância para determinar o rumo do projeto de preservação e renovação. Através desta colaboração com a equipe de pesquisa, nossos arquitetos definiram dois temas principais para a elaboração deste projeto. O primeiro deles foi a necessidade de um reforço estrutural, mas que não causa grande interferência no espaço existente, o outro é o projeto do espaço em si, o qual abordamos a questão da renovação do edifício de forma pragmática, como a representação de sua transformação ao longo do tempo.
O reforço estrutural foi feito em aço com a finalidade principal de se diferenciar da arquitetura existente e ainda proporcionar uma performance sísmica tão boa quanto a de uma arquitetura contemporânea. As laterais menores, abaladas pela ação do tempo foram reforçadas com elementos horizontais, como o piso do pavimento superior e o telhado, que ficará completamente invisível quando concluído. As colunas de reforço em aço contrastam claramente com a materialidade do tijolo e trabalham em conjunto com as paredes existentes. Esta cultura de revelar os materiais construtivos é dominante na arquitetura japonesa, mas mesmo quando é possível preservar os edifícios antigos, a estrutura existente geralmente é usada apenas como uma fachada. Foi inovador para nós no Japão, fazer uma avaliação estrutural e utilizar a arquitetura existente como tal.
O armazém foi projetado e construído no período eclético das técnicas ocidentais e dentro da tradicional técnica japonesa, resultando em um edifício misto de técnica japonesa e ocidental (sistema dimensional). Por exemplo, as vigas foram construídas no módulo tradicional japonês "Shaku", enquanto as colunas foram construídas no módulo ocidental em "polegadas", outros elementos foram construídos em diferentes módulos, assim, sempre há uma lacuna entre eles. O reforço estrutural sísmico foi cuidadosamente inserido nessas lacunas de diferentes ordens, com isso é possível removê-las, se necessário, no futuro.
O conceito da renovação busca evidenciar as transformações dos espaços e as mudanças de função do edifício ao longo do tempo. Não encaramos estas mudanças como um problema, mas como uma representação do tempo através da estrutura do próprio edifício. Isso não significa que tenhamos mantido todas as alterações do passado. Removemos o desnecessário e reparamos as peças quebradas, entretanto, sem tentar imitá-las ou restaurá-las à seu estado original. Este manejo hábil das partes foi o ponto mais importante do projeto de restauração. Às vezes, podem até parecer grotescas, mas faz com que possamos lembrar da firmeza pragmática delas.
Ficaremos felizes se as pessoas puderem ver este edifício como um protótipo para projetos de preservação e restauro, onde há pouca documentação disponível e baixo orçamento para a obra. Não procura-se de reverter o fluxo do tempo, mas reconstruir sua história através dele, juntando os fragmentos históricos deixados ao preencher as lacunas com criatividade e conectá-las ao futuro. Esta é uma forma arqueológica de pensar a arquitetura, uma abordagem possível que serve para aqueles arquitetos que procuram participar de projetos de renovação do patrimônio construído. Quando você entra neste espaço, parece que o arquiteto não fez absolutamente nada. No entanto, essa sutileza é o que fizemos de melhor para essa arquitetura.