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Arquitetos: A+P Arquitetos Associados
- Área: 1340 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Manuel Sá
Descrição enviada pela equipe de projeto. A vista, a partir da Baía de Todos os Santos, das Cidades Alta e Baixa, separadas pela encosta verde, é a imagem mais recorrente e representativa de Salvador. Localizada nesse cenário, a Casa do Carnaval está sendo implantada. Para abrigar esse equipamento que contará a histórica do carnaval de Salvador e abrigará atividades relacionadas à festa, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, decidiu restaurar e adaptar uma edificação eclética localizada à cavaleiro da encosta, ao lado do Plano Inclinado Gonçalves, um dos ascensores urbanos construídos no século XIX para ligar as Cidades Alta e Baixa.
Embora não seja individualmente tombada, a edificação é parte fundamental do próprio frontispício de Salvador e compõe o Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico do Centro Histórico de Salvador, tombado em nível federal em 1984 e incluído na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco em 1985. Ademais, encontra-se na vizinhança imediata da Catedral Basílica de Salvador (antiga Igreja do Colégio de Jesus), tombada em nível federal 1938.
A edificação em questão encontrava-se abandonada, após ter abrigado, por vários anos, um agrupamento da Polícia Militar. Além da edificação eclética propriamente dita, com dois pavimentos mais subsolo, constava de um acréscimo realizado posteriormente entre esta e o Plano Inclinado Gonçalves, adotando as linhas gerais da edificação principal.
O projeto elaborado a partir de 2015 se baseia nas reflexões de Marco Dezzi Bardeschi (2004, p. 218-219), para quem o patrimônio edificado corresponde a um palimpsesto, “uma forma de escritura que não se faz sobre ou às custas do texto existente” e que deve “respeitar estratificações, complexidades, heterogeneidades do construído”. Para Dezzi, portanto, “os arquitetos têm o dever de aportar nova matéria ao contexto da edificação, sem que isso penalize a estratificação e a distinguibilidade das fases construtivas e de uso”, pois é preciso “crer na autonomia – e na possível não conflitualidade com o existente – do projeto do novo.” (DEZZI BARDESCHI, 2004, p. 218)
Assim, os autores decidiram conservar quase integralmente a edificação eclética principal: suas fachadas, suas paredes autoportantes, as colunas localizadas no grande salão do pavimento térreo e as lajes de cada pavimento. No acréscimo, por sua vez, a intervenção foi radicalmente transformadora, mantendo-se apenas as medianeiras e parte da laje do primeiro pavimento, transformada em mezanino. O acréscimo pode, assim, ser transformado em um amplo espaço articulador de todo o equipamento, e recebeu duas novas fachadas envidraçadas: uma mais estreita, na face sudeste, e que abriga o acesso do público, e uma monumental, no lado noroeste, com vista privilegiada para a Baía de Todos os Santos.
Os principais espaços expositivos serão instalados nos grandes salões do pavimento térreo e do primeiro pavimento do edifício eclético. Um balcão contínuo externo, com estrutura em aço em balanço, é proposto no pavimento térreo, ao longo de toda a fachada noroeste da edificação eclética, visando permitir aos visitantes a apreciação da bela paisagem. O subsolo abrigará os sanitários e espaços administrativos, enquanto a cobertura, anteriormente em quatro águas, com telhas de fibrocimento e estrutura em concreto armado, foi substituída por um terraço no qual será instalado um pequeno café, que também desfrutará de uma vista excepcional.
A execução da obra civil foi finalizada, e está em execução a implantação da cenografia.