- Área: 313 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Kyungsub Shin
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Fabricantes: Alto, Eagon, LINNO, Sehwa Brick, Total Marble
Terreno
Localizado em uma paisagem serena com vista para a Montanha Bugaksan, o terreno está implantado em uma região histórica de Seul, onde tanto a tradição quanto a modernidade genérica de Gwangwhamun, compõe o panorama do seu entorno. O cliente, professor aposentado e famoso erudito, decidiu substituir a antiga casa em ruínas por um novo projeto, uma casa memorável para passar seus anos de aposentadoria.
Demolição
Não foi uma decisão nada fácil para o cliente demolir a antiga casa de 50 anos, construída pelo próprio pai. A antiga estrutura era responsável pela preservação das memórias de uma vida aconchegante e uma infância alegre e divertida. Após anos de hesitação, o cliente decidiu finalmente substituir a casa estruturalmente defeituosa. Após a operação de três dias, alguns fragmentos do piso de madeira e as esquadrias das portas e janelas foram resgatadas para que pudessem servir de recordação, incorporando importantes memórias do passado.
O início
Alguns esboços do organograma da casa foram fornecidos pelo cliente no início do projeto. A ingenuidade destes desenhos nem um pouco profissionais, fora de escala com proporções distorcidas, representava a sensibilidade sutil e detalhada sobre uma nova casa carregada de nostalgia. Uma casa não deve ser apenas um objeto de expressão egocêntrica do arquiteto que a projeta, mas um espaço para recordar as lembranças, viver o presente e sonhar com o futuro. Assim, o papel do arquiteto foi impor rigor e ordem nos esboços do cliente, respeitando e honrando suas memórias implícitas.
Ordem
O grid composto por nove quadrados, 3 kahn x 3 kahn, é uma das tipologias mais representativas da arquitetura no leste da Ásia, seja tradicional ou moderna. A partir desta organização estrutural, a Casa Cheongun foi concebida espacialmente com simetria e centralidade. Idealizado como espaço modesto, porém abstrato, o diagrama de nove quadrados foi transformado em uma estrutura espacial concreta dotada de programas e funções. A Casa Cheongun foi projetada para funcionar tanto como residência privada quanto como instituto de pesquisa. O espaço central da grade integra funcionalidade programática com espiritualidade espacial. O espaço da sala de pé-direito duplo se extende através do segundo pavimento até a abertura zenital da cobertura, permitindo que o espaço central da casa receba iluminação natural e ar puro.
Organização central
O grid de três por três não corresponde apenas à projeção horizontal em planta, ela também está presente na seção vertical do edifício. O pátio é responsável por configurar tanto o espaço de domínio público em seu centro, quanto por organizar a distribuição da área íntima ao seu redor. A composição espacial resulta bastante equilibrada devido a esta organização centralizada, tanto centrípeta quanto centrífuga. O espaço comum entre a área da cozinha e o quarto de hóspedes no térreo, mantém o equilíbrio entre o espaço servido e servente. A circulação vertical através do pátio gera seqüências visuais rítmicas que comprimem e liberam tensões espaciais. O vazio no segundo pavimento concilia a vida pessoal e acadêmica através da perfeita simetria entre o quarto principal e a biblioteca. No terceiro pavimento está situada a sala de chá, e em seu centro, encontra-se a principal entrada de luz natural que banha todo os espaços internos. Esta geometria quadrada concêntrica em planta e seção, é responsável pelo princípio espacial e iconográfico da casa. A conformação concisa do espaço central pelo pátio de luz, harmoniza-se com a liberdade espacial criada através das amplas janelas horizontais das fachadas.
Materialidade e forma
Para um erudito dedicado à educação e à pesquisa, a organização central da casa representa a essência e o rumo da vida. Materiais resistentes e sólidos foram utilizados na estrutura central. Este espaço interno sereno e puritano tem a sua contrapartida na fachada externa de tijolos, que proporcionam vitalidade e ritmos sutis à forma do edifício. Os tijolos reciclados também foram utilizados nas varandas de modo a mediar a transição entre exterior e interior.
Refletindo o aspecto espiritual da materialidade, a solução em arco foi escolhida tanto conceitualmente quanto como técnica estrutural do projeto. O arco central de acesso orienta os visitantes através do vestíbulo para o salão. No espaço central da casa, arcos consecutivos criam uma série de filtros para proporcionar uma atmosfera aconchegante e tranquila. Os arcos da sala de estar, conservatório e varanda enquadram a paisagem do jardim e protegem o espaço central do clima hostil. A Casa Cheongun está localizada em um dos distritos mais tradicionais de Seul, marcado pela coexistência paradoxal de arquiteturas tradicionais, coloniais e contemporâneas. Os arcos também podem ser interpretados como a metáfora desta coexistência, preservando memórias coletivas a partir da materialidade habitual do bairro.
A presença da Casa Cheongun é resultado da organização centralizada, de sua simetria e das relações contextuais com seu entorno. A fachada norte, percebida como um pódio, inclui a composição rítmica e simétrica de um pórtico de acesso e duas entradas de veículos. A simetria torna-se ainda mais óbvia na elevação norte por trás do muro, com um eixo central entre a entrada principal e seu arco superior. A elevação sul, voltada para o jardim principal, possui uma simetria menos explícita com uma série de janelas em arco. A presença e simetria da casa é uma manifestação clara da organização do programa ao redor de um pátio central, resultando em um estado de equilíbrio perene, que equilibra as complexidades e contradições inerentes à vida.