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Arquitetos: Guilherme Machado Vaz
- Área: 4700 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Luís Ferreira Alves
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Fabricantes: O/M Light - Osvaldo Matos, Onduline, Weber
Descrição enviada pela equipe de projeto. Através de uma investigação do contexto histórico dos edifícios industriais da Real Vinícola, construídos entre 1897 e 1901, o projeto de arquitetura - 100 anos depois - tem como suporte as ruínas existentes no local e a sua reabilitação.
“No momento em que o edifício rui” segundo Simmel, “isso não significa outra coisa senão que as meras forças da natureza começam a predominar sobre a obra humana: a equação entre natureza e espírito humano desloca-se em favor da natureza”.
O objetivo principal deste projeto foi restabelecer o equilíbrio das forças entre a natureza e o espírito humano. Um equilíbrio que passou por uma negociação com ambos. Com a natureza, que reivindica, numa luta infindável, um espaço que outrora foi seu; o espírito humano manifestado há cem anos atrás e que construiu esse espaço; e aquele que obrigatoriamente terá de se manifestar hoje e dialogar com os anteriormente referidos.
Exemplo desse diálogo, são as árvores que se mantêm no interior de um dos edifícios e que foram mantidas, criando-se - para que tal fosse viável - pátios exteriores. O edifício voltou a ser ocupado, mas respeitou-se o direito adquirido pela natureza ao longo dos anos em que o local esteve ao abandono.
Procurou-se desenhar – sempre que possível - de acordo com o projeto original. Toda a volumetria exterior foi recuperada, o desenho das asnas de madeira manteve-se, reconstruíram-se carpintarias. Tentamos manter o espírito industrial do lugar.
Houve alteração de funções o que implicou novos espaços, infraestruturas e legislação a ser cumprida. As caixas de escadas em betão (concreto) colocadas no exterior do edifício foram necessárias por razões de segurança contra incêndio. Optou-se por não as introduzir no interior devido ao impacto negativo que as mesmas teriam na estrutura de aço da laje que exprime toda a sua beleza na repetição quase infinita do módulo estrutural criado pelos pilares e as vigas. Foi necessário abrir-se janelas no alçado nascente do quarteirão. Uma vez que estávamos a introduzir um novo elemento no projeto, optamos por assumir o carácter contemporâneo da intervenção em vez de a dissimular, funcionando a janela como uma moldura que é encostada à parede, contrariamente às janelas existentes que são massa retirada à mesma.
Para além de procurar este equilíbrio entre as diferentes forças intervenientes, quisemos que o mesmo fosse visível e se manifestasse em toda a sua verdade porque acreditamos que a matéria deveria, neste caso particular, ser lida no espaço e no tempo.