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Arquitetos: Diana Radomysler, Suzana Glogowski, Studio MK27 - Marcio Kogan
- Área: 5100 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
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Fabricantes: panoramah!®
Descrição enviada pela equipe de projeto. Densidade ou dispersão? Intensidade ou descontração? Público ou privado? Urbano ou suburbano? O problema, quando projeta-se condomínios em áreas periféricas, é a necessidade de síntese destes contrastes aparentes – não que tenhamos de optar entre eles, mas sim considerar um pouco de cada um com o objetivo de compor novas referências daquilo que nos é familiar e estranho, do que é cotidiano e inusitado.
Concebido pelo MK27 para o Somosaguas, este novo empreendimento nos arredores de Madri, é o primeiro projeto habitacional do estúdio brasileiro em solo europeu. A intenção foi criar uma nova tipologia habitacional, um novo bairro em que as casas estão dispostas em torno de uma rede de espaços públicos - ruas, praças, parques, e uma piscina - em que a área urbanizada é tão importante quanto as próprias unidades residenciais. É um projeto para um estilo de via urbano - um aceno para a tendência espanhola de viver na cidade e ocupar os espaços públicos, os quais sem dúvida, são mais importantes que suas próprias casas (que se configuram como lugares apenas para dormir ou siestas).
Concebido pelo MK27 para o Somosaguas, este novo empreendimento nos arredores de Madri, é o primeiro projeto habitacional do estúdio brasileiro em solo europeu. A intenção foi criar uma nova tipologia habitacional, um novo bairro em que as casas estão dispostas em torno de uma rede de espaços públicos - ruas, praças, parques, e uma piscina - em que a área urbanizada é tão importante quanto as próprias unidades residenciais. É um projeto para um estilo de via urbano - um aceno para a tendência espanhola de viver na cidade e ocupar os espaços públicos, os quais sem dúvida, são mais importantes que suas próprias casas (que se configuram como lugares apenas para dormir ou siestas).
Assim como o próprio empreendimento, cada casa foi construída com uma tipologia diferente. Há uma sutil insinuação, ainda que deliberada, evocando a configuração de um pequeno povoado - paredes brancas e volumes simples. Há algo que lembra a experiência das Siedlungs da Bauhaus – modelos de condomínios habitacionais estabelecidos como uma nova experiência de vida e arquitetura moderna no início do século XX - a paleta minimalista e moderada, a estética e a funcionalidade apontando para como a vida moderna deveria ser. Há um pouco da linguagem arquitetônica brasileira e seus amplos espaços abertos de convívio e ainda, francamente, uma pitada de casa de final de semana, uma sensação de um lugar de resguardo e repouso.
Na complexidade de sua composição, nas camadas da paisagem e no conjunto de espaços públicos, emerge a arquitetura. As casas são alongadas - atenuadas de tal modo que suas paredes são responsáveis por definir o encaminhamento das ruas, em vez de uma simples presença austera de cubos brancos desconexos. Uma série de intervenções, elementos urbanos e paisagísticos, aparecem para dinamizar os espaços entre as casas e impedir que se tornem vielas. Quebras, recuos, desníveis, terraços e áreas verdes criam uma variedade de espaços secundários e fortalecem a coerência da linguagem dentro do conjunto que, em teoria, pode ser ampliado e replicado, exatamente como pretendiam os arquitetos, fazendo com que o empreendimento seja visto como um protótipo para um projeto maior, um modelo que se torna mais eficiente e mais prático à medida vai crescendo.
Igualmente importante é a separação do tráfego de veículos das áreas pedonais. Aparentemente este empreendimento parece ser feito de casas de dois pavimentos, mas é na verdade, composto de uma seção transversal de três níveis, com uma ampla área subterrânea de estacionamentos. Cada unidade tem acesso individual ao subsolo, conectado cada casa a sua vez ao nível inferior, que de outra forma, parece nem existir. Com isso é possível usufruir das vantagens de uma garagem privativa, mas sem descaracterizar as fachadas das casas ou obstruir o nível da rua com grandes portas de garagem e calçadas rebaixadas.
As casas parecem bastante modestas em suas dimensões, com uma largura de apenas 5,5 m (todas com a mesma largura, embora comprimentos variados). No entanto, elas revelam uma complexidade surpreendente no seu interior através de um conjunto de cheios e vazios, planos e aberturas. Os térreos são transparentes - acomodando as áreas de uso social com amplas fachadas de vidro que se abrem inteiramente para os jardins, permitindo a expansão do espaço interno para o exterior e vice e versa. Nas casas menores, um espaço único abriga as funções de cozinha, jantar e living da casa, podendo ser subdividido ou integrado completamente que flui para o jardim.
Nas unidades maiores, as áreas sociais também são ampliadas no sentido vertical através de um vazio de pé direito duplo configurado por uma ampla fachada de vidro, que eventualmente permitirá que a copa das árvores seja a própria cobertura da casa, mais uma vez reforçando a relação entre interior e exterior. Um corredor atravessa o volume cúbico no pavimento superior, introduzindo uma escala mais íntima para os espaços abaixo e acima dele, criando um contraste com a verticalidade da abertura na fachada. Escadas vazadas e espaços flexíveis aproveitam ao máximo as dimensões internas, desobstruindo visualmente o espaço da casa em todas as direções.
Acima da cobertura desta caixa de vidro cria-se um terraço aberto, de modo a maximizar o uso de cada plano horizontal da casa, onde existiria um telhado há um novo espaço público. Essa relação entre espaço interior e exterior é intensificada ainda mais através de algumas varandas que são definidas por aberturas nas pareces externas, assim como propuseram Le Corbusier ou Barragan anteriormente.
No pavimento superior encontra-se o espaço mais íntimo e reservado. Abrigando os quartos, este volume possui a parede voltada para o pátio frontal inteiramente opaca e com aberturas laterais, enfatizando a sensação de um espaço fechado, protegido e íntimo. O jogo de transparência e opacidade entre os dois pavimentos torna-se, de certa forma, a linguagem arquitetônica que define todo o bairro, um malabarismo de elementos sólidos sobre uma camada delicada e tênue de espaços internos e externos que se entrelaçam. Esta combinação sutil de materialidade e imaterialidade define a identidade visual do conjunto, casas sutilmente diferentes, mas que compartilham o mesmo vocabulário formal. Não há excesso de balanços e recuos, pois todos os terraços estão embutidos na estrutura de cada volume. Não há um simples elemento que pareça estranho. A natureza minimalista dos elementos arquitetônicos produz um senso de lugar único e uma paisagem urbana em que todos os elementos têm algo a ver entre si, todos são definidos a partir de sua função e não por um simples formalismo. A simplicidade da linguagem e sua coerência também colaboram com a construção de um vocabulário básico, flexível o suficiente para se adaptar segundo diferentes necessidades. Uma estrutura desenvolvida sobre um módulo quadrado de 1,25 m que permite múltiplas variações dentro da mesma linguagem arquitetônica. As quatro tipologias deste empreendimento não foram pensadas como casas extremamente luxuosas, são unidades que variam entre 94-230 metros quadrados, e satisfazem todos os requisitos necessários de uma residência familiar. As casas foram pensadas de tal forma que podem ser implantadas no terreno de forma bastante compacta e com uma densidade surpreendente. Madri é uma cidade densa e intensa com uma população de aproximadamente 80 pessoas por hectare. No Somosaguas, um bairro onde é possível espairecer e descontrair entre suas amplas áreas verdes, a densidade demográfica chega a 114 pessoas por hectare.
Em vez de uma implantação dispersa com casas afastadas umas das outras, elas estão implantadas entrelaçando-se, intimamente conectadas umas as outras, e por isso sua arquitetura é tão importante para promover um senso de privacidade e individualidade - os jardins protegidos, os terraços da cobertura, o massivo pavimento superior e assim por diante.
E no centro disso tudo está a água. Aquilo que você espera encontrar em um centro urbano, a praça definida pela igreja e a prefeitura, pelo mercado ou pela topografia, dá lugar a uma piscina comunitária como espaço de encontro. É, de certa forma, uma negação desta centralidade construída, uma renúncia ao centro urbano de uma típica cidade mediterrânea em favor de algo menos substancial. Mas por outro lado define uma área de uso comum bem no coração do conjunto, fazendo com que cada casa sinta-se parte de algo maior e coletivo, ao invés de promover espaços individuais, utópicos, cercados e autônomos. Se algo parece estar faltando aqui são as cercas e muros tão evidentes nas fotos aéreas das nossas cidades. As ruas e os espaços são tão fluidos que separá-los uns dos outros parece uma atividade quase impossível.
O problema com esses empreendimentos nos arredores das cidades é que facilmente se tornam defensivos, excessivamente privados e, ao fechar-se em si, abandonam a capacidade de transformar-se em lugares genuinamente públicos. Talvez, à medida que o bairro se desenvolva e se expanda, as ruas internas começarão a simular o tecido urbano do entorno, como rizomas. A natureza ainda embrionária dos arredores torna esta uma experiência incerta, uma espécie de condomínio fechado que aguarda pelo entorno para que possa integrar-se a ele. Seu sucesso depende de como será usado e como a cidade cresce ao seu redor. Mas como uma semente, um projeto catalizador da vida comunitária, já nos proporciona uma perspectiva fascinante e elegante.