O Pós-modernismo está de volta, ao que parece, e o establishment arquitetônico tem sentimentos mistos sobre isso. Este revival vem se formando há algum um tempo. Em 2014, a Revista Metropolis criou uma “Lista” dos melhores edifícios pós-modernistas em Nova York que haviam sido negligenciados pela Comissão de Preservação da cidade e que, portanto, correm o risco de serem alterados ou destruídos. No ano passado, a lista de James Stirling na cidade de Londres iniciou uma discussão sobre o valor dos edifícios pós-modernistas da Grã-Bretanha a partir da década de 1980, na medida em que atingem a idade em que são elegíveis à listagem de preservação pelo Patrimônio Histórico. Mais recentemente, Sean Griffiths, co-fundador da antiga prática de arquitetura FAT (Fashion Architecture Taste), advertiu contra o avivamento pós-modernista, argumentando que um estilo que prosperou em ironia poderia ser perigoso em uma era de Donald Trump, quando a sátira parece não ser mais um instrumento político eficaz. O debate parece estar pronto para continuar, já que, no próximo ano, o museu John Soane em Londres planeja uma exposição dedicada ao pós-modernismo.
O que exatamente significa o "revival"? Certamente, há sinais de que a estética pós-modernista tem presenciado o ressurgimento em popularidade à medida que as pessoas se cansam do silencioso modernismo escandinavo e da icônica arquitetura baseada na tecnologia que tem dominado o Design e a Arquitetura nos últimos anos. Mas uma referência histórica ou o florescimento colorido não é mais um sintoma do retorno do ethos pós-modernista do que uma cadeira de Hans Wegner em um lobby de escritório corporativo, é um sinal de que estamos abraçando os valores sociais democratas dinamarqueses da metade do século. A questão mais interessante é se estamos, ou se deveríamos estar, a ver um retorno à filosofia da qual surgiu o movimento pós-modernista? E, em caso afirmativo, qual é exatamente essa filosofia?
Esta é uma questão considerada no novo livro de co-autoria de Terry Farrell e Adam Nathaniel Furman. Visualmente rico quanto ao tema, é um livro dividido em duas partes: que por meio de uma galeria de imagens arquitetônicas em 47 páginas separa as duas seções. Na parte inicial, Farrell oferece suas lembranças pessoais do auge e da queda do pós-modernismo, aproveitando suas experiências enquanto crescia ("chocado com a introdução em massa de um prédio alto em Newcastle"), o ecleticismo que apreciou como estudante e através da sua amizade com os pioneiros pós-modernistas Robert Venturi e Denise Scott Brown, e ainda sua carreira como arquiteta de notáveis estruturas pós-modernistas no edifício MI6 em Londres. Na segunda metade do livro, o designer e arquiteto Furman olha a era pós-moderna como estudioso e entusiasta do estilo, mesmo que muito jovem para ter vivenciado-o.
Enquadram o pós-modernismo não apenas como um estilo arquitetônico, nem mesmo um movimento claramente definido que ocorreu na década de 1980, mas sim como uma tendência surgida no trabalho de arquitetos de todos os tipos e em vários pontos da história, incluindo o trabalho posterior de Le Corbusier a uma estética "terrena" artesanal em edifícios como a capela em Ronchamp, designers modernistas escandinavos influenciados pelo movimento vernacular, como Alvar Aalto e o expressivo modernismo de Eero Saarinen. Furman aponta teóricos como Jane Jacobs, que defendeu a diversidade e a preservação das comunidades no planejamento urbano, e a exploração de Bernard Rudofsky da arquitetura vernacular como exemplos do ethos pós-modernista.
O argumento apresentado por ambos os escritores é que o pós-modernismo é uma espécie de anti-estilo. É definido não por regras específicas ou estéticas - não cores brilhantes, referências históricas e cores decorativas - mas por seu ecleticismo, inclusividade e contextualidade. Como tal, o espírito pós-modernista pode ser visto na materialidade do brutalismo, a exploração crítica do Superstudio da rede como um princípio organizador e a integração de Charles Correa do simbolismo indiano em seus projetos, bem como os edifícios que mais comumente pensamos como pós-modernistas.
O movimento, explicam, foi uma resposta ao que muitos viram como as ortodoxias da arquitetura modernista, que priorizava a racionalidade, o progresso e a ciência, sobre a intuição e a emoção. Enquanto os modernistas procuravam respostas universais aos problemas locais, os pós-modernistas tentavam restabelecer as lições do passado e a importância do contexto na arquitetura e no planejamento urbano. O pós-modernismo eventualmente se associou a uma estética particular e, no Reino Unido, pelo menos, as políticas neoliberais da era Thatcher, como instituições financeiras da cidade de Londres adotaram sua linguagem visual. Mas, como os autores apontam, não há nada intrinsecamente corporativo sobre o pós-modernismo: arquitetos como Ricardo Bofill apropriaram-se para construir habitações sociais em Paris, assim como o modernismo foi empregado para construir bancos.
Em última análise, Furman e Farrell estão tentando fazer um caso para a pluralidade contextual e histórica sensitiva que sustentou o movimento pós-modernista. Farrell enfatiza o reconhecimento do movimento da comunidade e do local e seu desafio inerente às estruturas sociais estabelecidas. Furman aponta seu potencial emancipatório, estabelecendo vínculos entre a diversidade e a não-conformidade que encoraja junto à condição social contemporânea: em que a internet e as mídias sociais oferecem-nos referências culturais de todas as épocas e locais e em que há uma crescente aceitação das minorias étnicas e sexuais e escolhas pessoais diferentes - quando a história está colapsando sobre si mesma e as certezas do passado estão se dissolvendo.
Não é difícil ver por que essas ideias estão ressoando hoje, num momento em que há uma reação contra o efeito homogeneizante da globalização e uma crescente aceitação da diversidade. Não há razão para que essas duas tendências estejam em conflito, mas, na realidade, a tensão surgiu entre os dois, quando uma divisão teórica foi criada em muitos países entre os "cidadãos de todos os lugares" e "cidadãos de algum lugar". Como diz Farrell, no Reino Unido "a batalha interior do gosto e da cultura é sempre uma luta entre o que é global e o que é especial para nós". Nesse sentido, o projeto pós-modernista parece ser vulnerável à acusação ao que é muito amplo e escorregadio para definir - que está tentando ser tudo para todas as pessoas. Mas, assim como não proporciona verdades universais, também não pretende fornecer respostas ou soluções fáceis. É essa amplitude e abertura que permitiu que suas ideias prosperassem e talvez continuem a fazê-lo.
Debika Ray é uma jornalista frelancer baseada em Londres, escritora e editora com mais de 12 anos de experiência em uma variedade de publicações diárias, semanais e mensais. Até outubro de 2017, foi editora sênior em Design e Arquitetura na Revista Icon. Também é a fundadora e editora da Clove, revista especializada na cultura do sul da Ásia, lançada em 2017.