Publicamos, na semana passada, o resultado para o Restauro, Modernização e Ampliação do Museu Paulista, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Conheça, abaixo, o projeto completo da equipe escolhida como vencedora, coordenada pelo escritório H+F Arquitetos.
Paisagem Monumental
A perspectiva de intervir sobre o Edifício-Monumento do Museu Paulista, levantou, desde o início, a importância de uma reflexão básica sobre o que constituiria sua monumentalidade.
A identificação dos elementos “Parque” e “Edifício” como peças interdependentes e indissociáveis de uma Paisagem-Monumento conduziu a uma abordagem de projeto onde o foco reside menos nos novos elementos construídos e mais nas novas articulações entre o construído e o não construído existentes.
Argumentos do Projeto
O conjunto de intervenções propostas não quer ter destaque. O objetivo geral não é impor a face do novo, mas revelar de maneira nova o que já estava lá, por meio de articulações, disposições espaciais e percursos que as intervenções discretamente propiciam. A ênfase dos novos elementos não reside em sua aparência, mas no seu desempenho, no que são capazes de promover, na sua eficácia em dinamizar e potencializar as virtudes das preexistências.
Dois princípios fundamentais das proposições são: o de menor agressão à integridade física e visual do edifício e a possibilidade de reversão dos acréscimos propostos.
O primeiro plano de ações se concentra nas obras para recuperação da integridade física e reabilitação/modernização do Edifício-Monumento, além da criação de um setor novo, complementar e integrado, contendo grande parte dos serviços e áreas necessárias ao pleno funcionamento de um museu contemporâneo. Buscou-se conceber essa ampliação, não como um anexo ou apêndice, mas como um prolongamento subterrâneo do edifício preexistente que, por sua vez, abre a possibilidade de conectar o Museu ao Parque de uma forma mais potente e configura uma nova esplanada de acesso, que se estende até a Rua dos Patriotas.
O Edifício-Monumento foi projetado como elemento de propaganda de um regime, inicialmente da Monarquia, e depois encampado pela República, em um período que São Paulo começava a modificar o seu modo de construir, inspirando-se nos modos de fazer europeus. O projeto trazia em sua concepção estrutural grandes avanços da engenharia da época, encamisados, no entanto, pelos preceitos formais do ecletismo. Revelar essa condição é uma oportunidade que o presente concurso oferece. As intervenções propostas no interior do edifício buscam dar visibilidade a esses elementos estruturais e permitir o acesso público aos seus bastidores, proporcionando aos visitantes uma nova possibilidade de leitura desse momento histórico.
Além disso, as novas circulações possibilitam habitar o vazio conformado pelas fachadas do coroamento da torre central, conferindo conteúdo a um continente até então deserto. A iconografia histórica do museu retrata momentos de apropriações espontâneas desse espaço, revelando um potencial latente que o projeto original não aproveitou. A operação proposta resulta na criação de um terraço-mirante, invisível desde o exterior, a partir do qual se descortina a topografia do Ipiranga, a relação desta com a implantação do edifício e seus desdobramentos através do parque e dos sucessivos elementos que estruturam aquela paisagem.
Ritual de ingresso
Um dos elementos mais marcantes do Edifício-Monumento é o ritual de ingresso que este propõe: a lenta elevação de cota através da escadaria frontal e rampas laterais; o ingresso ao abrigo do saguão principal e sua floresta de colunas; o descortinamento do grande vazio central iluminado, da escadaria monumental e da figura de D. Pedro I. Desestruturar esse ritual, fazendo com que o público proveniente do novo acolhimento acesse o edifício de uma outra maneira, representaria o sacrifício de uma referência coletiva cuja preservação é fundamental.
A partir dessas considerações, a interligação proposta insere com precisão cirúrgica e interferência mínima um conjunto de escadas rolantes e elevadores em pleno saguão principal. Alinhada ao eixo compositivo central da arquitetura original, esta conexão integra funcional, visual e simbolicamente, o ritual de ingresso original a seu prolongamento subterrâneo, criando um percurso contínuo marcado por contrastes de luzes, linguagens e tempos.
Torre infraestrutural
As principais ações destinadas à modernização infraestrutural e à adequação funcional do Edifício- Monumento foram agrupadas em uma única intervenção: a inserção de uma torre de circulação vertical e serviços (nova escada protegida, elevadores para público e transporte de acervo, conjuntos de sanitários, shafts de instalações e áreas técnicas) no interior da porção sul de seu corpo central, área já bastante descaracterizada e atualmente ocupada por funções de natureza similar.
Essa localização permite alcançar todos os níveis (existentes e propostos) do museu com impacto mínimo na volumetria do conjunto: o leve afloramento da torre sobre o plano da cobertura tem pouca ou nenhuma visibilidade ao nível do solo devido à presença do bosque e aos ângulos possíveis de observação.
Acolhimento: coração público do Museu
O novo setor de acolhimento, localizado na ampliação sob a esplanada, foi desenhado com a intenção de potencializar a interação entre as atividades públicas previstas no programa.
Ao redor de um amplo saguão central, com vista para as fontes e jardins localizados no parque ao lado, distribuem-se as áreas de atendimento ao público, bilheterias, salas educativas e de uso múltiplo, acessos às exposições e ao auditório, descanso, loja, café e a boca do túnel que realiza a conexão com o Edifício-Monumento.
Ao colocar-se como um aglutinador de atividades públicas, esse espaço possibilita a fricção entre os diferentes tipos de visitantes do museu, os usuários do parque e a população de um modo geral.
Arquitetos
Localização
Independence Park - Av. Nazareth, S/N - Ipiranga, São Paulo - SP, BrasilEquipe Arquitetura e Restauro
Eduardo Ferroni, Pablo Hereñú; Amanda Domingues, Anna Beatriz Ayroza Galvão, Camila Paim, Carolina Klocker, Griselda Kluppel, João Pedro Sommacal De Mello, Joséphine Poirot-Delpech, Levy Vitorino, Michele Meneses de Amorim, Olympio Augusto RibeiroConsultores
Arnaldo Ramoska (Instalações), Eduardo Léo Kayano (Climatização), Heloísa Maringoni (Estruturas), Marcos Lima Verde Guimarães (Geotecnia), Nilton Miranda (Bombeiros), Ricardo Heder (Iluminação)Ano do projeto
2017