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Arquitetos: Andrés Jaque / Office for Political Innovation; Andrés Jaque Architects
- Ano: 2017
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Fabricantes: Areniscas Crema, Barnizados A Muñequilla Germán, Maderas Agulló, Micefrío, Nueva Castilla, Tapicerías Barajas, Tapicerías Pepe Barrientos, Tecnologías del Acero
Uma barraca de mármore.
O projeto transforma a antiga garagem do edifício mais significativo de Luis Gutiérrez Soto (1946), localizado no centro geográfico de Madri, em uma mescla de padaria, café e restaurante experimental. O desenho recupera o volume e a estrutura do edifício gerando um espaço de 5 metros de altura com grandes aberturas para a rua.
"[Transgênero] Zahara é uma mistura de deserto, causalidade e cafeteria".
Pedro Almodóvar, Má educação.
Desde 2008, a arquitetura de Madri sofreu a imposição da retórica de austeridade que foi traduzida em uma arquitetura de ladrilhos hidráulicos e produtos cerâmicos: acriticamente percebidos como restos do passado e que, entretanto, canalizaram a substituição do comércio tradicional por uma invasão de franquias corporativas apoiadas em sistemas de trabalho precários e temporários.
Em 9 anos, esse processo foi marginalizado e quase extinguiu o contexto dos artesãos do mármore, da tapeçaria de pele, do metal cromado e dos painéis artesanais que, desde a década de 60, foram a base social na qual se desenvolveu a rede de cafeterias de Madri. As cafeterias são lugares brilhantes e confortáveis que oferecem uma atenção amável porém anônima. Essa capacidade de tratar com similar cortesia todos os clientes, rapidamente fez desses lugares um espaço onde as mulheres e as comunidades LGTBQs encontrassem, historicamente, uma alternativa à tradição de uma parte importante de bares majoritariamente "masculinos" da cidade.
O projeto é o resultado da mobilização cuidadosa de uma rede de artesãos em perigo de extinção. De pintores capazes aplicar goma-laca na cortiça, de artesãos de madeira que se atrevem com chapeamentos radiais de folhas de oliveira, de marmoristas que são capazes de fabricar peças especulares de mais de dois metros de altura e apenas 20 mm de espessura. Com esse interesse em apoiar um contexto artesanal em vias de extinção, o projeto reintroduz no ecossistema da cidade no espaço dissidente da cafeteria como uma resistência à hegemonia corporativa da peça cerâmica.
Uma barraca de mármore. Aproveitando as capacidades do supermármore de trabalhar com tração.
Durante as décadas de 90 e 2000, o pequeno povoado de Novelda (Valência) converteu-se no centro do tráfego transnacional de mármore. Pouco ativo atualmente, ainda podem ser encontradas áreas extensas nas quais se acumulam blocos de mármore, ônix e granitos de todo o mundo; como uma arqueologia dos tempos prévios à hegemonia da austeridade.
Enquanto o tijolo e os ladrilhos hidráulicos foram sendo assentados em um discurso de falsa austeridade, raízes ultraconservadoras e falso localismo; os mármores de Novelda representam uma característica incrivelmente contingente. Essa condição do mármore é registrada no uso de numerosas tecnologias que estão associadas ao mármore como produto; como os reforços de fibra de vidro e resina ou os sistemas de ancoragem articulados e pensados para fazer do mármore uma espécie de supermámore capaz não somente de trabalhar com a compressão mas também com a tração.
Como desafio de engenharia, o projeto tem essa capacidade levada até o limite, criando uma espécie de barraca de mármore. A estrutura oferece mesas para os clientes e permite que outros usos, como cozinhar, sejam organizados em uma área em forma de "C" no seu perímetro.