Este artigo foi originalmente publicado em 01 de fevereiro de 2018. Para ler sobre outros projetos icônicos de arquitetura, visite nossa seção Clássicos da Arquitetura.
Com o exponencial crescimento populacional paulistano na década de 1930 e o incentivo do mercado privado da construção civil, uma série de arquitetos foram convidados a projetarem edifícios com usos variados no centro da cidade. Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho foram os responsáveis pela concepção do Edifício Esther, ícone na primeira fase de verticalização da Praça da República. [1]
Em 1933, quando a cidade ultrapassou a marca de um milhão de habitantes, um considerável número de edifícios verticais passaram a ser construídos. [2] Em decorrência da expansão demográfica urbana e verticalização em massa entre os anos 30 e 40, o elevado preço dos aluguéis e valorização da terra na região do centro expandido marcaram transformações no quadro residencial e urbano. [3]
Os edifícios verticais que até então abrigavam em maior parte, tipologias comercial e de escritórios, restringindo a tipologia residencial verticalizada às classes mais baixas – projetos de interesse social e cortiços implicou resistência por parte da classe média em adaptar-se à ideia de ocupação.
O edifício implanta-se em um lote com 2.100 metros quadrados no perímetro conflagrado pela Avenida Ipiranga (frente), Ruas Sete de Abril e Basílio da Gama (laterais) e Rua Gabus Mendes (fundo)Erguido em frente à Praça da República.
Instituído em 1934, por meio de concurso organizado pelos proprietários e donos da Usina Açucareira Esther, com sede na cidade de Campinas, o projeto previa um edifício de uso misto, com salas comerciais, lojas e apartamentos. Na proposta de Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho, que acabara de instalar escritório na cidade do Rio de Janeiro, responsáveis pelo desenvolvimento de variados projetos e tipologias seguindo parte dos preceitos corbusianos, os arquitetos optaram pela divisão do programa integral em dois blocos distintos: Edifício Esther e Edifício Arthur Nogueira, em virtude da divisão do lote pela criação da Rua Gabus Mendes, permitindo qualidades urbanas e espaciais.
Urbanisticamente, com a criação dos blocos distintos e aproveitamentos da legislação, isso permitiu maior e melhor fluxo dos pedestres, não obstruindo a circulação entre as ruas que ladeiam o prédio. Enquanto isso, do ponto de vista arquitetônico, possibilitou maior aproveitamento da iluminação natural e ventilação às células habitacionais.
Na proposta, o edifício com 10 andares (1º ao 3º pavimento – comercial e 4º ao 10º pavimento – residencial) e cerca de 8 mil metros quadrados edificados e distribuídos entre e 103 unidades aos escritórios e apartamentos, dispõe de plantas variadas, de dimensões mínimas à apartamentos dúplex – edifício pioneiro na conformação deste, junto à áreas abertas e descobertas como observa-se nos andares superiores, conduzindo uma série de inovações espaciais em resolução à problemática das tipologias, anteriormente questionadas pelo público.
No total de doze pavimentos – subsolo que abriga a garagem, térreo e outros dez pavimentos dedicados a salas comerciais e apartamentos, o acesso vertical é realizado por meio de cinco elevadores distribuídos linearmente pelo corredor que corta horizontalmente o bloco, além de volumes cilíndricos laterais com fechamentos em vidro que abrigam as escadas, permitindo a entrada de luz natural difusa. Na altura do quarto pavimento, as reentrâncias das varandas, num jogo de cheios e vazios, quebra o formalismo assumido. Na cobertura, além do ático, o coroamento ainda dispõe de apartamentos.
Estruturalmente, é pioneiro como edifício de uso comercial a utilizar a armação do concreto no território nacional [4], permitindo liberdade na planta e melhor disposição dos ambientes.
Seguindo influências plástico-estruturais apontadas por Le Corbusier, o edifício foi o primeiro a utilizar os princípios racionalistas (planta livre, pilares de seção circular, térreo sobre pilotis junto às galerias, escadas dispostas em volume cilíndrico envidraçado, terraço-jardim e janelas em fita), antecedendo o Ministério da Educação e Saúde (MEC) finalizado em 1936, ainda que o Esther tenha sido oficialmente concluído apenas em 1938. [5]
Na conformação plástica da fachada, a simetria que marca o rigor geométrico junto aos panos de vidro em abundância pelas janelas, sacadas e caixas de escada, emoldura a privilegiada vista à Praça.
Tombado em 1990 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), quinze anos após a saída da sede da Usina Açucareira do edifício, acarretando na interrupção ao processo de manutenção e parcial descaracterização ao projeto original. Na década de 1970, com o fim da Sociedade Predial Esther, e transferência dos custos em manutenção aos condôminos, passou por decadente processo. Somente com o tombamento que o declarou como “(...)um marco importante na paisagem e na história da arquitetura paulista (...)” [6], retomou ao uso original.
Notas
[1] (FIALHO, 2007, p.82).
[2] (LIRA, 2017, p.32).
[3] (LIRA, 2017, p.32).
[4] (FIALHO, 2007, p.82).
[5] (FIALHO, 2007, p.82).
[6] (SP Patrimônio)
Referências Biblográficas
Edifício Esther. Disponível em: <http://www.arquivo.arq.br/edificio-esther>. Acesso em: 02 Dez 2017.
Edifício Esther. Disponível em: <http://refugiosurbanos.com.br/casas-predios/edificio-esther/>. Acesso em: 02 Dez 2017.
Edifício Esther – Tombamento. Disponível em: <http://sppatrimonio.com.br/71-2/#!/loc=-23.543195978009013,-46.63879752159119,16>. Acesso em: 02 Dez 2017.
História do Edifício Esther – O primeiro prédio mixed do país. Disponível em: <http://www.marketingimob.com/2012/04/historia-imobiliaria-edificio-esther-o.html>. Acesso em: 02 Dez 2017.
FIALHO, Roberto Novelli. Edifícios de escritórios na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo. 2007. P.82-83, 223.
LIRA, José. O visível e o invisível na Arquitetura Brasileira. São Paulo: DBA, 2017. P. 32-33
XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Editora Pini, 1983. P.04