- Área: 210 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Pedro Vannucchi
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Fabricantes: Aerovent Sistemas Ventilação e Melting - Anti Poluição e Ventilação, Equipamentos de Cozinha, Macom, Neobambu, Pedras Belas Artes, Pitco, RX Pinturas, Southbend
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto de preservação e adequação de uso converteu, no final de 2017, o andar térreo do emblemático Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP) - desenhado em 1946 por Rino Levi, Roberto Cerqueira César, Abelardo de Souza, Hélio Duarte, Zenon Letufo, Jacob Rucht, Galian Ciampaglia e Miguel Forte -, no restaurante Z Deli Sandwich Shop.
Arquitetura do centro
A intervenção criou, por meio do uso de materiais e da configuração espacial sintética, um diálogo com as remanescentes arquiteturas dos salões e espaços de acessos dos anos 40 e 50 do centro da cidade de São Paulo, encontradas nas imediações da Praça da República, onde o projeto está locado. Além disso, o projeto tenta preservar a condição de salão polifuncional desse térreo, privilegiando os espaços contínuos, com a menor quantidade de divisórias possíveis.
Materiais e atmosferas
Buscamos nos detalhes em latão dos caixilhos e maçanetas dos prédios residenciais, o mote para o desenho das luminárias e rodapés do grande balcão. Interpretamos a ambiência densa dos lambris das madeiras escuras e tropicais encontradas nos antigos restaurantes, bares e espaços comerciais como um iluminado pano de bambu amarelo vibrante. Transportamos os mármores e granitos dos embasamentos das fachadas e recepções dessas construções de meio de século para os tampos de trabalho e alimentação. Mantivemos o piso cimenticio pré-fabricado existente na loja - tirando proveito da sua resistência física singular, já em consonância com a arquitetura existente.
Mobiliário
Decidimos encarar o desafio de projetar as cadeiras e banquetas para a intervenção como forma de atender as expectativas de custo, qualidade e atmosfera desejada. Buscamos o imaginário das cadeiras de escritório dos anos 1950. Após meses de protótipos, chegamos à Cadeira e Banqueta Carlota, nome em homenagem a Charlotte Perriand. A cor do couro adaptou-se aos tons amarelos e beges da paleta de arquitetura, trazendo uma presença mais vibrante e alegre para o conjunto.
Iluminação
O contraste entre a luz branca de trabalho da cozinha e a luz aconchegante amarelada do salão norteou o partido do projeto de iluminação. Assim, as duas cores criadas pelas diferentes temperaturas de luz marcam os espaços na fachada, exprimindo a mudança funcional dos ambientes. No salão, a luz artificial é dada por fontes de dois tipos: (1) luminárias lineares especialmente desenhadas em latão e inox com lâmpadas led orientadas tanto para o teto quanto para as mesas; (2) sanca semi-embutida varrendo o pé direito de 4 metros altura junto a parede de bambu. Em ambos os casos, os planos refletores acentuam a cor amarelada das lâmpadas quentes já especificadas.
Desenho
Um enxuto números de operações, precisamente detalhadas, define o projeto:
1 - Balcão único com 10m de comprimento, disposto paralelamente à parede de fundo do imóvel (parede norte), que abriga funções essenciais do restaurante: bar, montagem de sobremesas e montagem de lanches. Em consonância a esta configuração a parede de fundo de bambu recebeu nichos técnicos em aço inox e equipamentos para suporte das funções operacionais.
2 - Parede alinhada ao eixo do último pilar circular do salão criada com intuito de guarnecer o salão, tanto da fumaça advinda da área de cocção e chapa de hambúrguer como da luz fria da cozinha. Essa intervenção, pouco comum na arquitetura moderna, mantém a relação visual entre cozinha e salão e expõe as linhas de montagem do restaurante através de janela quadrada de 1,80 metros.
3 - Volume que contém cabines sanitárias e pia compartilhada implantado junto a parede oeste do imóvel, resolvendo de maneira compacta essa demanda.
4 - Áreas subterrâneas de apoio, câmera fria, estoque, além de vestiários e sala operacional dispostas no subsolo - ocupando a mesma área da cozinha existente nos primeiros anos de vida do edifício.
Patrimônio Moderno
Além do diálogo com às qualidades materiais e espaciais associadas ao Edifício do IAB, a intervenção se alinhou com os princípios de reversibilidade. Enchimento de piso nas áreas de cozinha - para receber hidráulica e gás - evitou intervenções na laje existente. Na mesma linha de raciocínio, o painel de madeira destacado da parede permitiu instalar toda a infra-estrutura de elétrica sem demolições. Tais operações, além de facilitar a reforma, permitem mudanças futuras de uso no imóvel e que o salão possa ser revertido para o estágio anterior ao da nossa atual intervenção, sem a necessidade de complexas obras.
Os restaurantes do centro
Ao longo do projeto, pesquisamos e visitamos restaurantes e edifícios pelo centro histórico de São Paulo, onde coincidentemente também trabalhamos. Procuramos entender a lógica construtiva e o uso de materiais dessas arquiteturas e trazê-las de forma sutil para a nossa intervenção, sem criar uma emulação do entorno, mas sim buscando um respeito e inserção histórica nesse contexto. Pensamos uma atmosfera que se remetesse a esses restaurantes que permanecem há décadas elegantemente nos mesmos lugares, verdadeiras "instituições" da alimentação em SP, como o Almanara, o La Cassarole, o Churrasqueto, o Itamarati, a Casa Godinho entre vários outros.
Como homenagem a esses restaurantes e suas arquiteturas - quase sempre com autorias desconhecidas - deixamos uma lista de lugares que frequentamos e nos inspiramos ao longo do desenvolvimento desse projeto. Arquiteturas de extrema inteligência funcional, construtiva e estética, que sobrevivem ao crescimento rápido e agressivo da metrópole.
1. Churrasqueto - Painel de madeira/fórmica, coifa embutida em estrutura revestida de fórmica; cadeira escolar Cimo, só arandelas. Churrasco e molho de cebola com pão roseta deliciosos. R. 24 de Maio, 237 – República;
2. Rong-He - A arte do macarrão ao vivo. Janelão e macarrão fresco, aberto na hora. R. da Glória, 622 – Liberdade;
3. Almanara, República - Pé-direito alto, revestimento de parede até altura de 2.10, com sistema que já forma sanca de iluminação para parede. Cadeira de couro em tons marrons. O restaurante mais bonito de São Paulo, desde 1950. R. Basílio da Gama, 70 – Centro;
4. Fuentes - Piso em ardósia, paredes bege, toalha de mesa rosadas. Garçons estilosos em uma instituição espanhola. Rua do Seminário, 149 – Centro;
5. Bar e Restaurante Guanabara - Balcão linear alto perpendicular a entrada. Luminárias pendentes em pé direito alto. Av. São João, 128 – Centro;
6. Aska - Balcão único, cozinha parcialmente aberta. Melhor shoyu lamen da cidade. R. Galvão Bueno, 466 – Liberdade;
7. Bologna - Detalhes dourados, espelhos, tipografias altas. Camarão empanado vitela tonné imperdível. R. Augusta, 379 – Consolação;
8. Restaurante Itamarati - Luminárias suspensas por correntes; lambril de madeira nas paredes até a altura de 2.10m. Fórmica em tons beges. Melhor bolinho de bacalhau. R. José Bonifácio, 270 – Centro;
9. Casa Godinho - Relógio, lambril, piso existente. Mercearia de produtos. Empada de palmito imbatível para comer de pé. R. Líbero Badaró, 340 – Centro;
10. Acrópole - Cozinha no caminho do banheiro. R. da Graça, 364 - Bom Retiro;
11. Restaurante La Farina - Fórmica bege; layout fixo com divisórias removíveis para integrar mesas. R. Aurora, 610 – Centro;
12. Giramondo - Elegantebalcão de mármore verde. Cafés com personalização. Rua Marconi, 19 – República;
13. Churrascaria Boi na Brasa - Esquina na mesma quadra. Uso do lambril. Aberto até bem tarde. R. Marquês de Itu, 139 – República;
14. Star City - Torre da choppeira, entrada vestibulada e bem demarcada. R. Frederico Abranches, 453 - Vila Buarque;
15. La Cassarole - Painel de madeira, quadros pendurados no lambril. Um dos melhores restaurantes de SP desde 1954. Largo do Arouche, 346 - República.
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