- Área: 170 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Fernando Schapochnik
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Fabricantes: Alfetec, Deluca, Tecma
Descrição enviada pela equipe de projeto. A residência de Holmberg é uma moradia unifamiliar localizada em um dos bairros centrais da cidade de Buenos Aires; pensada para uma família de quatro integrantes, um jovem casal com filhos pequenos, sua característica principal consiste em uma pele integral perimetral pela qual circula água fria e quente e que permite acondicioná-la termicamente, transformando-a em uma espécie de grande radiador.
Sobre um terreno entre empenas, de dez metros de fachada frontal por dezessete de fundo e com um afastamento de três metros, essa residência de três pavimentos, como um prisma de estrutura metálica e de construção a seco, se aproximada do térreo entre pátios, especificamente entre três jardins. Um voltado para a rua e oeste que funciona como acesso, um lateral e para a empena adjacente noroeste, que serve como espelho d'água ou pátio úmido para controlar o clima e, por último, um jardim de fundo que unifica o espaço verde como pulmão da quadra.
De planta flexível e sem divisões, todos os ambientes (estar, cozinha, sala de jantar e os três dormitórios nos pavimentos superiores), estão direcionados a vários desses pátios através de grandes janelas, gerando ventilações cruzadas em todas as direções e conectando-se todo o tempo entre si, visualmente, utilizando o terreno de ponta a ponta e explorando ao máximo suas dimensões.
Quanto à tecnologia e, além da sua estrutura metálica e das lajes de "steel deck" (formas metálicas usadas), toda a residência está pensada como um grande sistema de circulação de água que pode, por meio de tubos ou canos perimetrais ao prisma dos pavimentos superiores, intercambiar água fria por quente, sendo inverno ou verão entre dois espaços para armazenagem de água, um na sombra, no térreo, que é frio e outro quente, no pavimento superior, que recobre ou veda a casa na sua quinta fachada sobre o dormitório principal.
Esse último açude estará conectado também aos equipamentos de calefação por termopainéis que, no inverno, criarão uma "camada aquecida" rodeando a casa para limitar assim a perda de calor e economizar energia.
Todo esse sistema, pensado como pele exterior, gera a imagem final da casa, é assim que todas as tubulações que transportam a água e rodeiam o edifício, seja para irrigação ou para calefação, distanciadas prudentemente umas das outras, funcionam também como brises e como suporte para uma grande variedade de espécies, plantas, pássaros e insetos, transformando a fachada em um jardim ou ecossistema vertical.
Como estudo estamos muito interessados nesses temas e nos propusemos a avaliar a distância entre o efeito desejado desde o projeto e o que verdadeiramente ocorre com o uso das obras que estamos finalizando. Incluímos nesse memorial noções geradas por essa pesquisa:
Após relativamente pouco tempo da sua ocupação, e sem ativar ainda todos seus sistemas, a quantidade de espécies que proliferaram nos jardins, graças ao trabalho dos seus ocupantes e ao microclima criado pelo projeto, em relação ao uso do solo e sua circulação de água geral ou para irrigação, é assombrosa.
A cada visita, a casa nos recebe com uma nova espécie e a vegetação cobre os rastros da arquitetura; peixes, sapos, grilos, libélulas, borboletas, trepadeiras, árvores, orquídeas, rosas e como se isso fosse pouco, plantas aromáticas, tomates, abobrinhas, berinjelas, tudo cresce como se esse espaço se transformasse em um pequeno oásis no centro da cidade.
Os sistemas de ventilação cruzada, brises e isolamentos funcionam perfeitamente, permitindo que não sejam utilizados os equipamentos de climatização artificial. Os painéis solares esquentam a água sem nenhum suporte da rede e com todas suas conexões elétricas desligadas.
O açude, por ter criado um pequeno ciclo de vida entre peixes, plantas e recirculação de água, estabilizou-se como um ecossistema de água cristalina e é, hoje, com seu ruído, sua flora e sua fauna, o centro de atenção de toda a casa e um umidificador por natureza do térreo.
Pensamos que o interesse final sobre essa obra radica nas suas capacidades de conectar seus habitantes, sua flora e sua fauna com a arquitetura e que se tudo isso funciona, o êxito dessa moradia não estará baseado em nenhum dos preceitos dominantes sobre a beleza ou outras questões relacionadas diretamente com nossa disciplina.
Conceito das moradias "HABITAT" desenvolvidas pelo estúdio
O mundo contemporâneo nos mostra a recontextualização de alguns temas em relação à arquitetura e tudo isso envolve.
Hoje não podemos nos referir a uma casa desde uma olhada unidirecional, somente como o envoltório que abriga e conforta o homem, assim como não podemos pensar em um terreno separando a arquitetura do seu entorno. Quando queremos falar disso nos referimos à uma paisagem, uma conjunção equilibrada ou não entre o natural e o artificial com um resultado que somente pode ser fruto dessa particular conjunção. (Mesmo que essa ideia esteja ainda baseada em questões superficiais, domina o campo da teoria arquitetônica).
Entendemos então que para criar esse novo olhar em relação à arquitetura, deveríamos superar sua própria noção, programa, forma, expressão, etc.. tudo o que socialmente implica e falar de um conglomerado de mecanismos, entre naturais e artificiais, de interação com os vários fatores que possibilitam a vida na terra.
Por isso, talvez, sempre que nos referimos à uma casa, a um sistema de habitação, poderíamos falar sobre um habitat, uma porção da paisagem que constrói plataformas de colaboração entre o habitante e a habitabilidade, entendendo o habitante como os milhões de organismos que povoam a biosfera terrestre e a habitabilidade como uma ideia que supera o feito arquitetônico e que envolve a natureza e todos seus processos em função da sobrevivência desse "Habitante", com letra maiúscula.