Uma pausa no declive
O requerimento consistia em uma segunda moradia para uma família aos pés de uma montanha localizada no setor sul da Lagoa Aculeo, Paine. As condições do terreno com uma inclinação de 30% criam a seguinte problemática: como promover o encontro familiar em um programa tradicional? A obra procura resolver isso através da criação de uma pausa, um novo horizonte que, por um lado nos projeta desde o terreno até o final da inclinação, e que, por outro, faz com que os corpos construídos delimitem um espaço para o encontro. Assim, a paisagem é uma justificativa e um pano de fundo para os atos cotidianos. A construção protege porém ressalta e reforça a ideia de domínio. Para isso, propõem-se separar o programa em dois volumes, um com as áreas comuns e outro somente com as áreas de dormitórios.
O primeiro volume é acessado pela parte superior do terreno, disposto perpendicularmente em relação à rua para assim não obstruir a vista dos morros circundantes. Isso gera também o fato de que a obra pode ser percebida com um menor tamanho do que realmente é, diminuindo sua escala perante o contexto, acompanhando e não interrompendo. No seu interior, a cozinha, sala de jantar e estar (nessa ordem desde o acesso) compartilham um único ambiente que termina em uma grande janela que emoldura a paisagem. Seu perímetro abre-se para o pátio limitado pela piscina, a qual, por sua vez, é protegida do vento pelo segundo volume.
Esse segundo volume é disposto paralelamente a cota da montanha, um pavimento mais baixo, transformando-se em apoio para o primeiro volume, além de terraço e contenção do pátio/piscina, esse volume cria, na sua parte inferior, uma varanda mais íntima para as habitações como uma circulação exterior aberta e coberta, acima do grande terraço, que é extensão do estar e do pátio projetando vistas sobre as coberturas vizinhas até a lagoa. Esse novo horizonte, a pausa na inclinação, procura materializar a criação de uma sobreposição de atividades, assim a arquitetura na sua relação e proximidade com o entorno potencializa a reunião das pessoas, a experiência de um contexto criando um espaço com sentido de lugar, mas sempre diferente.