- Área: 1166 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Pedro Napolitano Prata
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Wish é uma escola bilíngue de educação holística, que constrói sua pedagogia através de uma visão completa do indivíduo. Aspectos físicos, emocionas, sociais, culturais, corporais, criativos, intuitivos e espirituais são tão importantes quanto o intelecto racional. Para além do conteúdo das disciplinas, o entendimento das vontades e aptidões da criança são usados para resignificar e efetivar o aprendizado.
O processo de projeto se desenvolveu em conjunto com os usuários, na busca das soluções para que a nova sede pudesse vir a ser justamente um reflexo da sua pedagogia. Para entender a complexidade de interações envolvidas nessa abordagem de ensino, foram realizadas dinâmicas com todos envolvidos. Numa sala, quatro arquitetos, cada um em uma mesa. Grupos misturados de alunos, professores, coordenadores e responsáveis pela manutenção sentavam e discutiam conosco um assunto determinado pelo responsável da dinâmica, nosso professor Caio Vasão. Assim criamos não somente um panorama de questões práticas e funcionais a serem abordadas, mas também de expectativas sensoriais, algumas abstratas, outras literais; às vezes irrealizáveis; às vezes precisas e factíveis.
Sobre o sítio, tratam-se de dois terrenos no bairro do Tatuapé. Um baldio, outro continha dois galpões, o menor com um pé direito mais alto, o maior com um mezanino de estrutura de concreto independente da estrutura da envoltória. Dentro deste contexto foram elencadas operações pautadas por ações de demolição e enxerto, retirando excessos de construção e inserindo novos elementos, de forma a atualizar a tipologia industrial em uma ferramenta educacional.
Abordamos a planta como território composto por zonas de contração e expansão, em que existem fronteiras e bordas, mas elas sãotênues, permitindo e incentivando a transgressão, catalisando a apropriação imaginativa, entendendo as crianças como sujeitos ativos.Os corredores, lugares em que a única função é o movimento contínuo do ir e vir, não existem. Todos ambientes sãoexpansões da sala de aula formal e propícios para a assimilação de conhecimento.Consequentemente, para chegar de um ponto ao outro, é possível escolher diferentes percursos, diferentes interações, escolher o que encontrar e o que não.
A conformação longitudinal do edifício rente ao lote vizinho demandou aberturas zenitais e recortes nas lajes, para a entrada de luz no pavimento térreo, sempre vinculados às circulações verticais. O uso de diferentes vedos permitiu variações na filtragem da luminosidade, adequada de acordo com às necessidades do programa. Complementares e associadas aos vedos, as prateleiras dão menor ou maior privacidade às salas de acordo com sua ocupação.
As principais bordas são compostas pelo conjunto de salas com duas tipologias: as de vedo fixo/translúcido e as de vedo móvel, onde painéis pivotantes fazem a delimitação dos espaços. Os painéis dão suporte às atividades que acontecem à sua volta, servindo de armário, apoio de mochilas, instrumentos, livros e trabalhos dos alunos. Ao serem pivotados, os painéis mudam a configuração do espaço à sua volta, abrindo a sala de aula para os ambientes adjacentes. Expandem para receber atividades com mais interação, contraem para atividades introspectivas.
As salas de aula são encaradas como pontos de apoio para o entorno, algo como porto seguro para os alunos dentro da deriva na escola como um todo. Possuem desenho não ortogonal, geram inflexões que desdobram, em suas bordas, espaços ao mesmo tempo contínuos e distintos, sem discriminação clara, delimitada dos usos. Somados espaços de aprendizado formal e espaços de aprendizado informal, as salas e o seu espaço contíguo, cada qual com suas características, visam atender às diversas demandas de ambientes que a pedagogia aberta possa necessitar.
Uma pesquisa feita pelo escritório através da captação de vídeos para analisar a pós-ocupação, demonstra a apropriação dos diferentes espaços pelos alunos e educadores para diferentes atividades: grupos de crianças desenvolvem uma pesquisa na sala, aulas expositivas acontecem fora das salas, alguém joga xadrez no banco, uma menina faz uma leitura escondida embaixo da escada, um sarau na rampa ou uma reunião de professores nas mesas do refeitório. Apropriações estas que acabam por validar o projeto como catalizador de apropriações e como aparato que expõem os alunos aos conflitos inerentes do convívio coletivo.