Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto a seguir foi o vencedor do Concurso Nacional de Ideias para o Parque do Cocó em Fortaleza, no Ceará. São 1080 hectares de área de conservação ambiental atravessando a cidade e 50 hectares de área de projeto, é o quarto maior parque urbano do Brasil e, diante desta condição ele guarda a responsabilidade de promover a preservação e regeneração de importante floresta de mangue, além de poder servir à população como infraestrutura urbana para ações socioculturais, econômicas e ambientais. O projeto para o parque propõe soluções gerais que possibilitam pensar as 17 áreas de intervenção propostas pelo concurso em consonância com o restante da área de conservação e sua relação com a cidade que a rodeia. Trata-se de criar uma simbiose entre o uso do parque e a preservação ambiental.
Para isso, o projeto aqui apresentado atua simultaneamente em três ações de análise e estratégia de desenho. A primeira identifica, na escala urbana, as problemáticas e virtudes da costura entre o parque e a cidade, reconhecendo suas fronteiras, demarcando suas áreas de fragilidade e ruptura. Em seguida, na escala ecológica, mapeamos fraquezas e os potenciais dos processos ambientais, apontando a degradação e a resiliência dos ecossistemas envolvidos, considerando sua relação com a água, com a fauna e com a flora. A partir deste reconhecimento elaborou-se, na escala do construído, um conjunto de programas de uso e de desenvolvimento econômico que permitem, ao parque, tornar-se uma fonte de geração de riqueza e renda capazes de financiar sua própria preservação.
Reconhecendo o rio Cocó como elemento principal dessa paisagem e responsável pela sua existência, tomamos os regimes da água como guias condutores do projeto em suas mais variadas escalas. A água é o principal elemento paisagístico, participa da mobilidade, dos esportes, da pesquisa e do lazer. Pensando nela, desenhamos sistemas de drenagem e de tratamento de esgoto para reestabelecer as funções da natureza dentro da cidade, visando diminuir os impactos da urbanização.
O desenho urbano define uma zona de integração entre o parque e a cidade que trata o conjunto de quadras lindeiras como uma nova frente da cidade, inserindo o parque na vida urbana de modo a orientar o traçado e as atividades da cidade em direção a ele, assim como já acontece na orla nas áreas próximas ao mar. Esta "zona de amortecimento" contará com um redesenho de ruas e calçadas que receberão ciclovias, arborização e um sistema de drenagem verde capaz de mitigar os efeitos da poluição difusa da cidade sobre o Rio Cocó. O calçadão perimetral do parque também ganhará um novo desenho para tornar-se contínuo e agregar usos cotidianos integrados ao mesmo tempo em que trabalha de maneira mais clara os limites entre a área urbana e as áreas de preservação.
A área de parque foi dividida em 4 núcleos temáticos, contínuos entre si, com soluções que atendam a suas especificidades ecológicas, urbanísticas e programáticas. Essa estratégia facilita a apropriação pela população de uma área tão extensa como o Parque do Cocó, que muitas vezes passa desapercebido na cidade. Os Núcleos Esportivo, da Memória, o Laboratório da Natureza e o Núcleo Beira-mar, foram pensados para valorizar o potencial específico de cada área e seu entorno, criando um endereço próprio para cada região. O projeto cria um sistema de comunicação visual simples e marcante a ser distribuído ao longo do parque e da zona de integração urbana permitindo ao cidadão perceber e aprender sobre o parque e as dinâmicas ecológicas ligadas à ele.
O projeto paisagístico do parque teve como premissa o mínimo impacto sobre a área de conservação e o entendimento dos ciclos naturais da fauna e da flora, buscando localizar as principais atividades junto às bordas e minimizar a impermeabilização do solo ao máximo em direção ao rio. O desenho das áreas de intervenção priorizou caminhos capazes de conectar as 17 áreas do parque entre si e com a cidade, cruzando áreas de estar, jardins e espaços multiuso estrategicamente posicionados, respeitando e incorporando as pré-existências. Quando há necessidade, propomos a utilização de pisos permeáveis, mas também buscamos criar passagens em deck e pisos elevados que não interferem nos fluxos naturais das águas. Ao mesmo tempo, esse sistema permite a construção de piers com espaços de estar e de embarque, aproximando as pessoas do Rio e tornando-o navegável entre todas as áreas do parque.
Dentro do paisagismo do parque também foram incorporadas hortas urbanas; jardins de chuva e áreas de reflorestamento, criando uma paisagem multifuncional onde os processos fazem parte do ambiente percebido. O estudo da vegetação nativa definiu um conjunto de espécies voltadas para a recuperação do manguezal, das dunas e da mata e ao mesmo tempo proporcionou a seleção de um conjunto arbóreo capaz de espraiar pelas áreas de lazer, de cultivo e do entorno urbano uma vegetação típica da paisagem do nordeste brasileiro..
A proposta de sustentabilidade ambiental e econômica está expressa também na arquitetura do parque. Ao elegermos materiais locais e uma arquitetura que se organiza como uma família de pavilhões desenhada para aproveitar o clima quente, os ventos e ao mesmo tempo proteger o usuário de intempéries, caracteriza-se uma linguagem arquitetônica. Pensada também a partir de modos locais de construção, associamos madeira e tijolo cerâmico às técnicas inteligentes de captação de água e energia solar em edifícios modulares e flexíveis que abrigam diversas funções de apoio ao parque. No mesmo sentido, propomos um conjunto de 4 mirantes de madeira, localizados em cada um dos núcleos do parque, de modo a transforma-lo em um grande monumento à preservação ambiental, permitindo a quem sobe perceber a vastidão desse ecossistema e identificar sua inserção dentro de um contexto maior.
Arquitetos
Base Urbana, COTA760Localização
State's Coco Park - Avenida Padre Antônio Tomás, s/n - Cocó, Fortaleza - CE, 60060-170, BrasilEquipe Base Urbana
Marina Grinover, Catherine Otondo, LuisaFecchio, Rafael Andrade, Maria Gabriela R. Nacimento, Eduardo RadomyslerEquipe COTA760
Luis Guilherme Alves Rossi, Nicolas Le Roux, Paula Cerqueira LemosConsultoria
Eugênio F. Queiroga (Paisagismo), Tomaz G. Kipnis (Engenharia Ambiental), Armando S. dos Reis Neto (Ciência Ambiental)Ilustração
BhaktaKrpaAno do projeto
2017Fotografias
Courtesy of Base Urbana + COTA760