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Arquitetos: Atelier JQTS
- Área: 85 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Diana Quintela
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Fabricantes: Aresta Renovada, Jular, Santomargo
Descrição enviada pela equipe de projeto. Casa NOVERCA é o projecto de um espaço multissensorial destinado aos alunos com multideficiência da Escola Básica Maria Veleda, em Santo António dos Cavaleiros, e é o resultado de um processo iniciado há cerca de cinco anos com a direção da escola. Quando em 2012 fomos contactados pela direção do agrupamento de escolas tomámos conhecimento do desejo de criar um espaço autónomo destinado aos alunos com multideficiência, e da falta de meios para o concretizar.
Uns anos antes o governo tinha tomado a decisão de integrar todos os alunos com multideficiência nas escolas sem nunca ter criado as condições necessárias para que tivessem um espaço de ensino autónomo e adaptado às suas limitações. Em condições ideais estes alunos teriam duas ou três disciplinas em conjunto com os outros estudantes, e no resto do tempo teriam acompanhamento individual, num espaço próprio e com equipamento de estimulo sensorial. Talvez seja relevante assinalar que entre todas as escolas do país, raros foram os casos em que foi possível a criação de uma unidade de multideficiência própria, que certamente facilitaria a integração destes alunos.
Desde o início optámos por colaborar activamente nesta iniciativa, oferecendo não só o projecto de Arquitectura, mas também a dedicação para o tornar possível através da angariação de verbas e procura de parceiros. Na primeira visita ao local tivemos oportunidade de contactar diretamente tanto com os professores como com os alunos em questão, alguns dos quais com multideficiência de grau elevado e que mereceram a nossa particular atenção, algo que nos levou também a estreitar relações com a escola e com esta iniciativa, muito para além do próprio projecto arquitectónico. Deste modo decidiu-se agendar um conjunto de reuniões periódicas na biblioteca da escola dedicadas a professores e pais de alunos com o intuito de ir desenvolvendo um projeto comum e ir aceitando a pluralidade de opiniões até chegarmos a uma proposta arquitectónica final com o menor custo possível devido às limitações inerentes.
Posteriormente conseguiu-se agendar reuniões presenciais com a Câmara Municipal de Loures e Junta de Freguesia onde inicialmente se conseguiu um apoio institucional que com o passar do tempo se tornou efectivo a vários níveis. Ao longo dos cincos anos, através da realização de vários eventos de angariação de fundos, da participação em concursos de arquitectura e de concursos de projectos educativos, foi possível garantir a verba mínima para a execução do projecto (que inevitavelmente teve de voltar a ser reajustado à verba existente). Este passo foi possível também graças à grande colaboração da empresa Jular, especializada em construções em madeira e que permitiu através deste projecto explorar um protótipo que trás à luz um novo sistema construtivo, da empresa Santomargo, que realizou as fundações em betão armado, e da empresa Aresta Renovada, que se encarregou de alguns acabamentos finais suplementares. Todas se solidarizaram com o projecto através de diferentes modalidades.
NOVERCA é um projecto com aproximadamente 90m2 e funciona como uma pequena casa para estas crianças. Tem uma pequena cozinha para aprenderem a lidar com questões domésticas, uma sala principal de actividades, uma pequena sala de estudo, um espaço especial de estimulação sensorial, a Sala Snoezelen, e uma casa de banho. Em termos arquitectónicos trata-se de um espaço simples constituído por um pódio de betão armado que estabelece o plano horizontal sobre o qual assenta toda a estrutura de madeira onde todas as paredes desempenham uma função estrutural, travando-se entre si e contribuindo para a unidade geral. Por sua vez, a cobertura formada por um conjunto de vigas esbeltas, formam um plano compacto que assenta e descarrega o seu peso sobre as paredes para as estabilizar novamente. Isto significa que todos os elementos (paredes e cobertura) contribuem solidariamente para a resistência estrutural do edifício, isto é, não existe diferença entre estrutura espacial e estrutura portante. Ironicamente, o único pilar existente em todo o projecto surge de forma inesperada, solitário, massivo, com um acabamento cru em betão armado e fugindo à ortogonalidade do espaço. Não chega a tocar o tecto embora seja evidente a sua vontade. Contradiz a lógica moderna e destaca o seu carácter eminentemente fenomenológico e simbólico.