Descrição enviada pela equipe de projeto. A casa está localizada em Lumbisí, uma das comunidades indígenas mais antigas do país, colonizada pelos deslocamentos da população de Quito para os vales periféricos da cidade em busca de campo e um clima mais quente. O sobrado nasce de um loteamento de uma fazenda de final de semana criada nos anos 80. No lote existia uma construção precária que era a adega da casa de campo original, a qual foi reutilizada integralmente para a construção na nova residência.
Procurou-se reutilizar tudo, desde as peças de madeira até as ripas da cobertura, até os escombros gerados pela demolição de alvenaria do bloco de concreto e o concreto dos elementos estruturais. Esses escombros de concreto foram reutilizados para preenchimentos e fundações, enquanto os de bloco e cascalho foram triturados para se transformarem em painéis de concreto pré-fabricado utilizado como revestimento na fachada, o que evitou os despejos na obra que, por sua vez, produziu zero resíduos de construção.
Os escombros de construção geraram um considerável impacto ambiental na cidade e foram se multiplicando de acordo com o desenvolvimento imobiliário que viveu o Equador nos últimos anos. Até pouco tempo atrás as ravinas como aterros sanitários, afetando a fauna e flora que habitavam esses acidentes geográficos. Atualmente o Município de Quito implementou aterros para este tipo de resíduo, que trazem constantes complicações. A possibilidade de evitar a geração de escombros na obra reduz a quantidade de descarte de lixo e evita os longos deslocamentos das carretas que movimentam estes resíduos.
A edificação encontra-se no topo de uma pequena colina, permitindo vistas extraordinárias para o vale de Tumbaco e o morro Ilaló. Para leste, é vizinha de dois parques que garantem as visuais e ao norte e oeste relaciona-se com duas ruas que facilitam a divisão do programa em uma residência e um escritório de arquitetura, dando independência aos acessos, evitando conflitos de privacidade. O projeto é uma lâmina de 20 metros de comprimento por 6 de largura que se coloca perpendicularmente à rua secundária, o que permite um jardim triangular cuja dimensão se multiplica ao fundir-se com os parques. A lâmina parte do ponto mais alto da topografia, gerando um subsolo para estacionamento na parte inferior, evitando, assim, as movimentações de terra.
A continuidade da lâmina é rompida por um jardim posterior no pavimento superior, com um volume de quatro metros em balanço, onde localiza-se o dormitório principal, deixando livre a planta do térreo para gerar uma varanda externa coberta que se acessa a partir da área social. O térreo fica livre, aumentando a sensação de espaço. Existe um pé direito duplo na área de estar que se relaciona com a área social familiar do pavimento superior. Em seis meses de construção, o resultado é um edifício que se aproveita das problemáticas de sua implantação e obra para obter uma arquitetura contemporânea de baixo custo econômico e ambiental.