- Área: 1000 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Pedro Vannucchi
Descrição enviada pela equipe de projeto. Contaminações trata de contatos, de como uma linguagem artística toca outra, a infecta, em sua forma e em seu conteúdo. Partindo de três obras fundamentais da literatura brasileira dos últimos cinquenta anos, o projeto explora as fronteiras entre as diversas formas de expressão artística.
Os universos de Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, de Sérgio Sant’Anna, e Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato, assim como os de seus respectivos contaminadores, materializam-se na exposição de modo a sugerir um novo e inusitado diálogo entre as obras.
A metáfora dos anos de chumbo e os pitorescos habitantes de um país da “América Latíndia” estão em Zero e convivem com as cenas do seu contaminador: o filme Oito e meio, de Federico Fellini. Além do filme, convive também com a instalação Cubo Curioso Abrigo Ternurinha, de Franklin Cassaro.
O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro nos traz o Rio do início dos anos 1980. A presença/ausência do protagonista no contexto carioca é o ponto central do conto. No ambiente dedicado ao conto, as gaiolas de Call Waiting [Chamada em Espera], videoinstalação de Eder Santos, ganham novos significados no contato com o “Pássaro da perfeição”, presente de John Cage a João Gilberto.
A classe trabalhadora ocupa os espaços de Eles eram muitos cavalos. Como na estilhaçada narrativa de Ruffato, aqui pessoas comuns rompem o silêncio e ganham voz. Ritos de Passagem, instalação de Roberto Evangelista montada no galpão, foi o elemento disparador e contaminador desta obra.
Com projeto expográfico de Daniela Thomas e Felipe Tassara, Contaminações se espalha por todo o Sesc Ipiranga. Com isso, o Sesc convida o público a refletir sobre o fato de que as manifestações artísticas são capazes de contaminar a realidade cotidiana e a vida de cada um de nós.
Cenografia
Híbrido de cenografia e instalação, o projeto expográfico criado por Daniela Thomas e Felipe Tassara para Contaminações busca proporcionar ao público uma experiência de aproximação com os livros Zero, O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro e Eles eram muitos cavalos distinta da própria ação de leitura das obras.
O projeto parte da infestação, desta vez literal, da unidade do Sesc Ipiranga, utilizando as páginas de Zero para tomar todas as paredes do hall de entrada. Ao desnudá-lo, revela toda a singularidade de um livro que, com seus grafismos e desenhos, foi um dos expoentes da literatura brasileira nos anos 1970.
Como elemento comum a todos os ambientes, a exposição tem a presença impactante dos personagens que povoam as três obras. A opção de utilizá-los como chamariz para a imersão no imaginário dos autores foi pautada pela percepção de que a consistência que apresentam configura um ponto de contato entre os livros.
Assim, estão espalhados pelos diferentes espaços os grotescos e até mesmo um tanto surreais heróis e vilões da resistência contra a ditadura de Ignácio de Loyola Brandão, os homens e mulheres da classe trabalhadora paulistana que ganham voz com Luiz Ruffato, e também as personalidades ficcionalizadas por Sérgio Sant’Anna — que não poupa nem a si mesmo da sua fértil imaginação.
A expografia fica completa com a Bolha de Leitura, inicialmente criada por Daniela ao lado de André Cortez e Patrícia Rabbat para uma ação de ocupação do Sesc 24 de maio. Se, por um lado, ela permite a leitura performática dos livros contemplados pela exposição, tornando-a uma experiência visual que não interfere no ambiente em que está instalada, por outro, com certa dose de ironia, ressalta o caráter um tanto anacrônico do livro impresso na contemporaneidade.
Para além do projeto expográfico, Daniela e Felipe também atuaram na curadoria dos artistas cujos trabalhos dialogam com as obras. A seleção buscou reunir produções que conversassem com o repertório dos autores, sugerindo outras contaminações que expandissem o alcance da exposição.