Novembro de 1943, faltando ainda ano e meio para o encerramento da grande tragédia do século XX, a 2ª guerra mundial e aqui no Brasil o mesmo tempo para o fim da ditadura do Estado Novo, um grupo de notáveis arquitetos da cidade de São Paulo, liderados por Vilanova Artigas, criam o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo. Cotizados, compram o terreno de 300 m² localizado na esquina das ruas Bento Freitas com General Jardim, a duas quadras da estação de metrô da Praça da República, novo centro da cidade de São Paulo, sucedendo ao antigo centro colonial, do outro lado do Vale Anhangabaú. Em 1945, organizam o 1º Congresso Brasileiro de Arquitetos realizado nesta capital. A seguir, a ação extraordinária foi a construção de seu edifício sede, cuja primeira etapa foi a realização em outubro de 1946 de um concurso, para o qual foram recebidos treze projetos. O júri, constituído de arquitetos cariocas Oscar Niemeyer, Firmino Saldanha e Hélio Uchoa também teve a colaboração de Gregori Warchavchik e Fernando Saturnino de Brito, decidiu pela reunião das equipes que apresentaram as três melhores propostas – equipes chefiadas por Rino Levi, Miguel Forte e Abelardo de Souza. Projetos de arquitetura moderna nesta cidade que antecederam o projeto da sede para o IAB-SP, foram para os edifícios Esther (1935), Prudência (1944), Louveira (1946) e a sede do jornal O Estado de SP (1946).
O edifício IAB-SP exibe os princípios corbuserianos da planta livre, estrutura independente e vedação envidraçada das fachadas sul e leste. “Boa descrição do prédio, será encontrada no parecer técnico do processo de tombamento pelo Condephaat – O edifício expressa externamente uma clara subdivisão tripartida. A ampla base, que se relaciona em gabarito com as construções vizinhas mais antigas, compreende no térreo uma sala polifuncional, o hall de acesso e, acima o andar duplo para a sede social do Instituto. O corpo central compreende quatro andares destinados a escritórios porém marcados, em relação ao corpo central, pelo recuo das janelas que foram assim projetadas, para atender ao Código de Construção, que permite a extensão das lajes dos pisos, em balanço até o alinhamento, desde que seja exclusivamente para fins de proteção da chuva e do sol.” No subsolo, em anos anteriores ocupado pelo Clubinho dos Artistas e Amigos da Arte e depois por um auditório, hoje está instalada a Central Galeria de Arte. E no piso térreo, desde final do ano de 2017, há uma filial do Z’Deli. “O sub-solo e a sede social do Instituto são servidos por escada privativa, primorosamente projetada e os escritórios pelo corpo de elevadores. Destaca-se, no interior do edifício, a solução do pé-direito duplo que integra o restaurante e o salão de reuniões da sede social do Instituto. “ (1)
A estrutura de concreto recebe revestimento de cores diferentes, pastilhas de vidro recobrindo pilares e bordas de lajes. As alvenarias do 1º e 2º pisos, na sua face externa para a paisagem urbana, revelam os tijolos aparentes e nas faces internas, os tijolos receberam pintura branca na década de 50. A caixilharia de ferro externa, exibe engenhosa maçaneta, que movimenta os módulos. A sede do IAB-SP “mobilizando, portanto, as exigências legais como dados definidores do projeto, resolvendo exemplarmente um programa complexo, ao mesmo tempo institucional, social, cultural e comercial, a solução oferecida produz um sofisticado jogo plástico e ao mesmo tempo permite a valorização do plano da calçada e a relação com a paisagem urbana. “ (2)
Além de suas qualidades arquitetônicas muito singulares, a sede do IAB-SP também incorpora algumas preciosas obras de arte, como o painel de Antonio Bandeira no saguão de entrada, o móbile “Viúva Negra” de Alexander Calder no pé-direito duplo no salão social do 1º piso e também o mural-objeto de Ubirajara Ribeiro. Subindo ao 4º piso, ao entrarmos no escritório do IAB-SP, avistamos a escultura de bronze “Atleta em Descanso” de Bruno Giorgi, bem como obras de outros artistas renomados. Final do ano de 1951, a revista Acrópole, anuncia em seu “indicador profissional” que os arquitetos Eduardo Kneese de Mello, Alfredo Ernesto Becker, Ariosto Mila, João Cacciola e Atílio Benedetti já ocupam seus escritórios no edifício do IAB-SP. Provavelmente neste mesmo período já estivessem lá instalados os escritórios de Vilanova Artigas e Rino Levi. No ano de 1973, Paulo Mendes da Rocha passa a dividir o 5º piso com Artigas, vindo do Conjunto Nacional. O engenheiro Miguel Badra Jr. foi o responsável pela construção do edifício e o logotipo do IAB é de criação dos arquitetos cearenses José Hissa e Ricardo Bezerra, obtido por concurso público, final dos anos da década de 1960.
O edifício foi tombado pelas três instâncias – municipal pelo Conpresp, resolução 44/92 em 11/12/1992; pelo estadual – Condephaat através da resolução SC 41/02 de 17/01/2002 e pela federal, IPHAN em 2014.
Esperamos sua presença!
Referências
(1) Paulo Sérgio Del Negro – Estudo de tombamento do edifício-sede do IAB-SP. Parecer técnico. Condephaat, 2001.
(2) José Lira – Pedido de Tombamento Instituto de Arquitetos do Brasil / SP. Julho 2013.
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Arquitetos: Rino Levi, Miguel Forte, Abelardo de Souza e equipe; Rino Levi, Miguel Forte, Abelardo de Souza e equipe
- Ano: 1946