- Área: 337 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Cátia Pimentel
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Fabricantes: Carvalho Baptista & C, GSI, Robbialac, Sika
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício situa-se na Rua das Aldas, no centro histórico da cidade do Porto. A área onde está localizado o edifício corresponde a um dos assentamentos que deram início ao processo de ocupação humana que daria origem à cidade do Porto, no Morro da Sé/Pena Ventosa. A quadra onde o lote está inserida fica dentro da antiga muralha e próxima da Sé do Porto. A edificação habitacional, possivelmente oitocentista, faz parte de um conjunto edificado consolidado e alinhado entre duas vias públicas. As vias dizem respeito à Rua das Aldas e à Travessa da Pena Ventosa que, de acordo com Fausto Martins, termina numas escadas convexas que denunciam uma aproximação à escada de Serlio. Pelo fato do edifício adaptar-se à modelação do terreno e ocupar a totalidade do lote, os dois primeiros pisos da Travessa só têm uma frente urbana, devido a uma diferença de cotas de 6,0m entre os arruamentos. Isso resulta numa volumetria de 4 pisos para a Rua e 6 pisos para a Travessa. O lote tem 5,0m de frente e 13,6m de profundidade, apresentando uma configuração tendencialmente retangular.
A simplicidade e elementaridade dos sistemas construtivos utilizados, dos materiais aplicados, da linguagem dos elementos arquitetônicos, da organização e distribuição espacial, e da quase inexistência de elementos decorativos, revelam uma construção rígida, sóbria e discreta.
“Todas as composições, quer na planta, quer na perspectiva, devem ter um caráter de ligação entre todos os seus componentes. Compor é o contrário de justapor, onde não existe a força de um discurso, mas apenas uma série de palavras isoladas, sem significado.”
No momento da elaboração do projeto, as condições de habitabilidade eram muito precárias. As estruturas dos pavimentos e da cobertura apresentavam abatimentos parciais, havendo mesmo áreas lacunares. O processo de infiltração das águas pluviais era acentuado, deteriorando os revestimentos dos pavimentos e das paredes. As umidades por capilaridade ascendente provocavam o destacamento das argamassas das paredes. Para agravar as condições de salubridade, a ventilação dos espaços interiores, na maioria dos casos, era simplesmente inexistente. Para a consolidação do quadro patológico contribuíam ainda fatores de índole arquitetônica, tais como alturas anti-regulamentares, compartimentos sem luz natural e degraus com dimensões impraticáveis, bem como a debilidade das infra-estruturas, nomeadamente gambiarras elétricas. A demanda do proprietário consistia na introdução do máximo de habitações possível para arrendamento de curta duração, criação de espaços comuns de serviços e uma habitação para si no último pavimento.
Perante as condicionantes da situação existente, do reduzido valor artístico dos elementos arquitetônicos e da demanda do proprietário, o caminho que considerávamos mais apropriado resvalava numa abordagem fachadista. Desse modo, tivemos a necessidade de controlar as fragilidades desse tipo de abordagem, bem como resistir à tentação de apresentar soluções tipológicas que estão surgindo atualmente na reabilitação urbana da cidade do Porto. Mezaninos e cubos modulares não seriam soluções adequadas, porque sentíamos que reforçariam essa atitude fachadista, reforçando a contradição entre invólucro e espaço interior, valorizando a justaposição em vez da composição. Dessa forma, à obrigatória necessidade de ser demolido integralmente o interior da edificação e à respetiva atualização arquitetônica, optou-se pela manutenção da organização e distribuição espacial original, pelo mesmo número de pisos, pelo mesmo número de unidades habitacionais (três unidades sem dormitório e três unidades com 1 dormitório) e pela mesma área de construção.
Garantir a manutenção destas características assegurou à intervenção uma atitude de responsabilidade, distanciando-a daquilo que para nós seria uma atitude meramente cênica. Desta forma, consideramos que se conseguiu garantir que o edifício, embora atualizado, continue a ser uma composição que testemunha e mantem continuidade com a história da habitação tradicional portuense. Apenas a morfologia da cobertura sofreu uma ligeira alteração, com a introdução de um mirante para tirar partido das relações espaciais entre interior e exterior. Essa alteração foi devidamente negociada com as entidades competentes para minimização do impacto com a envolvente. Para minimizar a atitude fachadista, a posição das novas lajes dos pavimentos foi determinada pelos vãos exteriores que se mantiveram inalterados. Conforme mencionado anteriormente, os espaços interiores, agora com alturas regulamentares, respeitam a organização espacial típica da habitação portuense da época, com as escadas a assumirem a posição central e os espaços mais amplos posicionados junto às frentes urbanas.
A escada de distribuição funciona como núcleo central e a ela são associadas as cozinhas e os banheiros, otimizando assim todas as infra-estruturas. Este núcleo em concreto tem a importância de ser o elemento estrutural sobre o qual todas as cargas das lajes dos pavimentos se concentram, liberando assim os demais espaços da presença de elementos estruturais.
Em contraponto à preservação e conservação das fachadas é assumida a contemporaneidade da intervenção através da materialidade da escada e dos espaços interiores. A escada em concreto adquire plasticidade não só através da sua cor e textura, mas também com a introdução de elementos arquitetônicos com padrões, quer naturais, quer geométricos, inspirados na azulejaria tradicional.
A espacialidade das escadas de distribuição, desde os acessos públicos da Travessa da Pena Ventosa e da Rua das Aldas até à última habitação, é feita através da plasticidade do concreto das paredes e tetos e da marmorite dos pavimentos, revelando certa frieza e assumida elementaridade. Os espaços interiores, salas e quartos, têm os pavimentos em assoalho e as paredes em branco interrompido por pequenas superfícies coloridas em vermelho de inspiração modernista. O uso do latão polido sem verniz em elementos como luminárias, torneiras, puxadores e acessórios do banheiro, pretendeu atribuir alguma temperatura e conforto aos espaços interiores.