- Área: 1170 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Renata Mosaner
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Fabricantes: Capovilla, Kasa Conceito, Renato Oliveira, Sasmã, São Miguel, Viviane Catelã
Descrição enviada pela equipe de projeto.
Em 2014, foi implementada na cidade de Santos uma política pública de pacificação restaurativa com o foco na Cultura de Paz e do Diálogo, realizada através da Secretaria de Educação. O Decreto número 6.935 e a Portaria número 173/2013 de 17 de outubro de 2014, criados pela Prefeitura de Santos instituiu e nomeou uma Comissão de Gestão para a implementação e acompanhamento do Programa Justiça Restaurativa, pretendendo tornar Santos uma Cidade Educadora-Restaurativa.
O programa foi iniciado em nove escolas-piloto, escolhidas a partir de critérios como maior número de alunos e diversidade de modalidades de atendimento. São elas: UME Ayrton Senna, UME Cidade de Santos, UME Florestan Fernandes, UME Leonardo Nunes, UME Lourdes Ortiz, UME José Carlos de Azevedo, UME Pedro Crescenti, UME Pedro II, UME Vinte e Oito de Fevereiro.
Diante desse cenário, a partir da cooperação entre a Prefeitura de Santos, a VLI logística, a Agência Tellus e o AUÁ arquitetos surgiu a oportunidade de implementação de um projeto com objetivo de promover a construção de novas experiências de aprendizagem e alfabetização a partir do uso de diferentes tecnologias, possibilitando o desenvolvimento de competências socioemocionais e incentivo à leitura.
A Agência Tellus, consultoria focada em inovação e implementação de serviços públicos, iniciou um intenso processo de consultas a pessoas da comunidade e da rede municipal de educação de Santos, utilizando uma metodologia baseada em design thinking que cria soluções inovadoras “com” e não apenas “para” o cidadão. Foi realizado um diagnóstico inicial a partir de dados oficiais, pesquisas de campo, entrevistas, visitas e oficinas de entendimento, das quais participaram alunos, professores, representantes da Secretaria Municipal de Educação de Santos, diretores e coordenadores. A análise deste diagnóstico gerou um mapa de oportunidades, necessidades e desafios que balizou a fase de co-criação de soluções que novamente contou com a participação de diversos atores.
A partir da escuta e da co-criação, chegou-se ao escopo inicial do projeto Escolas que Inovam que se concretizou na implantação de uma Biblioteca e uma Estudioteca em cada uma das nove escolas participantes do Programa de Justiça Restaurativa, compreendendo renovação do mobiliário, pequenas obras civis de adequação, instrumentalização com equipamentos tecnológicos e a formação da equipe pedagógica.
Os objetivos destas ações são desenvolver competências do século XXI, promover novas oportunidades de experimentação dos recursos digitais, incentivar à leitura e alfabetizar os estudantes para as mídias a partir do uso de diferentes tecnologias a fim de possibilitar o desenvolvimento de competências socioemocionais, sempre tendo em mente a consideração das especificidades de cada escola na aplicação do conceito-modelo. Ao projeto arquitetônico desenvolvido pelo AUÁ arquitetos, coube criar ambientes que considerem atributos como flexibilidade, acolhimento e acessibilidade, repensando a disposição dos espaços sob o ponto de vista do conforto, do uso de mobiliário adaptável a diferentes usos e mídias e da criação de ambiências lúdicas que os tornem mais atrativos para alunos e professores.
No caso da Biblioteca, as intervenções consistem na renovação dos espaços já existentes, buscando solucionar problemas como a falta de suporte para pesquisa, acervo não informatizado, existência de poucos recursos para as atividades com o responsável da biblioteca e falta de espaços para leitura e para uso livre. A Estudioteca, por sua vez, trata-se de um programa novo que visa a suprir a demanda por espaços de estudo, pesquisa e planejamento de aulas, espaços aptos a receber eventos temáticos, encontros, formação de professores, reunião do grêmio, além de possibilitar a prática das aulas regulares do currículo em um formato diferente, apoiada no uso da tecnologia.
Os projetos propostos partiram da premissa de mobiliários moduláveis, de forma que o conceito padrão pudesse ser adaptável às diferentes salas existentes, mantendo a unidade das intervenções. Em ambos os espaços foram propostas arquibancadas-baú que além de servirem à reunião, ao convívio e à leitura informal abriga também livros, materiais e equipamentos de uso esporádico, liberando as salas para as atividades propostas. Os locais destinados às diversas atividades desenvolvidas nos espaços (investigação, leitura, experimentação, contação de histórias) são demarcados por manchas de cor que delimitam espaços no piso, sobem pelas paredes como superfícies escrevíveis e completam-se no teto, criando ambiências lúdicas e aconchegantes, relembrando os desenhos orla da cidade de Santos.
Para a preparação das equipes escolares em relação ao uso dos novos espaços, a Agência Tellus promoveu ao longo da implementação do projeto oficinas de orientação e formação das equipes pedagógicas, nos temas gestão e liderança para representantes do equipamento público, uso dos espaços, comunicação não-violenta e uso de equipamentos. Foram mais de 100 horas de capacitação, dedicadas à preparação dos diretores, coordenadores e professores ao uso do novo espaço.
Além das intervenções nas escolas, como parte do plano de implantação do Programa de Justiça Restaurativa em Santos foi proposto o Núcleo de Educação para a Paz, espaço de 110m2 dentro da Secretaria de Educação que tem como objetivo fortalecer e colaborar para a continuidade e efetivação da política pública de pacificação restaurativa e que abriga o grupo gestor do Programa, o Comitê de Justiça.
O espaço recebe dinâmicas, exposições e conversas com foco na resolução de conflitos existentes na comunidade escolar e no fortalecimento da cultura de paz no município, além de formar e capacitar a equipe escolar para atuar levando a política pública para dentro das escolas. Dessa forma, o Núcleo atua simbolicamente como espaço-sede das intervenções feitas nas escolas.
A partir deste programa o espaço foi organizado pela demarcação do círculo laranja centralizado ao átrio do edifício, circundado por painéis expositivos móveis escrevíveis azuis que configuram espaços múltiplos adaptáveis às diferentes dinâmicas, permitindo também a realização de atividades simultâneas.
Na porção de pé direito mais baixo está a sala de reunião e o canto da meditação, mais reservados, porém integráveis ao espaço central por meio do recolhimento dos caixilhos móveis de vidro. Acima do círculo laranja foi proposta uma instalação com tecidos coloridos entrelaçados que ocupa o vazio de pé direito triplo do edifício da Secretaria de Educação de Santos, reforçando a circularidade do espaço e simbolizando a reconciliação harmônica de partes diferentes, símbolo de integração e pacificação.