Descrição enviada pela equipe de projeto. Kalì é um projeto sem fins lucrativos que levou à construção de uma sala de aula de ensino médio na zona rural de Okorase (região de Ashanti, Gana). Um grupo de 20 voluntários internacionais trabalhou durante três meses junto à mão de obra local para construir uma unidade sustentável em terra e madeira, projetada por Irene Librando e Nadia Peruggi. O projeto ganhou o concurso de concepção e construção “Reinventing the African Mud House” pela fundação Nka e foi realizado entre setembro e dezembro de 2018 com um orçamento de 9000 euros.
A arquitetura tradicional na África Subsaariana sempre foi baseada em materiais locais como terra, madeira e palha. É um grande símbolo de sustentabilidade e tradições, mas está lentamente desaparecendo porque, mesmo entre as populações locais, é vista como pobre e obsoleta. Na verdade, cada vez mais projetos e materiais industriais “modernos” estão ocorrendo na especulação urbana descontrolada que muitos países subsaarianos estão sofrendo, de modo não ambiental e economicamente adequado a esses lugares.
É por isso que o principal objetivo da fundação Nka é dar um novo papel às construções em terra bruta, permitindo que os jovens arquitetos interpretem a arquitetura vernacular de maneira inovadora. A ideia é redesenhar os edifícios tradicionais para demonstrar que as técnicas locais, como as de terra crua, ainda são a melhor maneira de construir em termos de economia e sustentabilidade. Nosso objetivo tem sido colaborar com a comunidade local para que eles percebam que uma união harmoniosa entre técnicas tradicionais e melhoria de ideias pode ser a melhor solução para construir uma construção de alto desempenho e sobretudo, duradoura.
Isto foi especialmente relevante em Okorase, onde a Nka começou a colaborar com a ONG local RADeF para construir os espaços necessários para uma escola secundária. Nós estamos em uma vila onde as crianças tinham que andar nove quilômetros todos os dias sob o sol ou a chuva para continuar a escola depois da fase primária, então, a maioria preferia ir trabalhar nas plantações de cacau em vez de continuar estudando.
Depois de oito meses durante os quais financiamos 9.000 euros e reunimos um grupo de voluntários internacionais, chegamos a Gana e, com alguns trabalhadores especializados em técnicas construtivas em terra, em 90 dias construímos uma sala de aula de 66 metros quadrados para as crianças de Okorase, usando 133 metros cúbicos de terra vermelha e aproximadamente 03 quilômetros lineares em madeira, respectivamente abalroados e aplainados manualmente, já que a eletricidade não estava disponível.
Uma das formas de arte mais importantes em Gana é a produção de tecidos coloridos, usados principalmente para roupas tradicionais. Baseamos nosso projeto num tecido típico, pensando em um espaço que é modular e pode fornecer uma graduada sombra.
Três quartos do comprimento da sala de aula são definidos por duas paredes de taipa, 3 metros de altura e 8 metros de comprimento, e acomoda as mesas dos alunos, enquanto a frente é totalmente feita em madeira, a fim de obter um espaço iluminado para o quadro negro, que pode ser modulado por uma série de tendas, feitas de tecidos tradicionais ou de cera.
As paredes em taipa, juntamente com o teto elevado e as telas de madeira, não apenas geram o espaço da sala de aula, mas são cruciais para seu microclima. Quando há chuva na estação seca, as temperaturas na região de Ashanti oscilam entre 20 e 40 graus Celsius, e permitir que as crianças estudem em um espaço ainda fresco nas horas mais quentes do dia é extremamente importante para sua concentração.
As paredes absorvem a luz solar impedindo que o espaço interno fique muito quente, enquanto as telas de madeira permitem que a ventilação natural tenha seu curso direto, permitindo a entrada de ar frio na parte inferior do edifício, enquanto a cobertura elevada permite que o ar quente saia do espaço entre as treliças. Sob a cobertura também foi adicionada uma camada de espuma feita manualmente e que ajuda a isolar o espaço das telhas de ferro utilizadas para cobrir a sala de aula.
Finalmente, também procuramos formas inovadoras de usar os resíduos que não podem ser reciclados na aldeia. Isso foi realizado junto com nossos voluntários, que coletaram mais de 3000 sacolas plásticas (a usada em Gana para beber água e que normalmente acabam sendo queimadas), lavaram e as usaram para fazer algumas telas para a fachada do edifício (entre as treliças) e também uma rede de vôlei para o ensino fundamental.
O resultado é um espaço que, em sua simplicidade, atende às necessidades funcionais da escola, sendo moderno e, ao mesmo tempo, autóctone, resultado de uma relação de troca entre voluntários e moradores locais, que reúnem suas habilidades e conhecimentos ao benefício da comunidade.