Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado no extremo sul da costa norueguesa, onde a confluência das correntes marítimas do norte e do sul provocam fortes tempestades, este é um projeto único tanto em relação à paisagem quanto à sua própria arquitetura. Incontáveis espécies de animais marinhos encontram nestas águas, parte salgadas parte salobras, o ambiente perfeito para procriar e se estabelecer, criando uma abundante e exuberante biodiversidade marinha. O projeto desenvolvido pelo escritório norueguês Snøhetta foi concebido para abrigar um centro de pesquisa marítima e um restaurante, como uma enorme baleia encalhada na costa rochosa de Lindesnes, o ponto mais austral da Noruega.
Esta região, única no mundo, é conhecida por suas condições climáticas extremas, passando da calmaria ao tempestuoso em poucos minutos e várias vezes ao dia. O projeto impõe uma simplicidade avassaladora sobre esta paisagem conturbada e vibrante, proporcionando aos visitantes experimentarem um estado de completa serenidade depois da excitação extrema proporcionada pelo ambiente exterior. Delicados detalhes construtivos e o perfume da madeira convidam os hóspedes a imergirem neste universo pacífico em meio às agitadas águas do Mar do Norte. A dureza do aço por onde as pessoas deslizam as suas mãos descendo a escada, pouco à pouco dá lugar à um espaço macio e aconchegante. O forro de madeira se desfaz sobre superfícies têxteis, suaves como a calmaria da água em um dia tranqüilo. Uma atmosfera aconchegante e serena proporciona aos visitantes um sentimento de perplexidade e admiração, como se estivessem mergulhando nas profundidades do oceano.
Como que submergindo, o percurso até o restaurante é uma metáfora do próprio oceano, a luz vai se abreviando e as cores se tornam mais escuras. As superfícies têxteis que recobrem as paredes acústicas do edifício, mudam suavemente de tom como o um pôr do sol visto de baixo d'água. A partir da entrada, a cor neutra do teto se transforma em um cálido arroxeado, um coral intenso, passando ao verde-mar e finalmente culminado em um azul-hera, a cor da meia noite que define a atmosfera da sala principal do restaurante.
No nível do mezanino, onde encontra-se a área do bar, o edifício emerge na superfície d'água. As pessoas sentadas no balcão podem observar uma janela vertical que culmina cortando a superfície do oceano e afundando-se até as profundidades do mar. Esta abertura poética faz a mediação entre a água e o ar, um cenário onde as tempestuosas águas parecem dançar com elegância para seus expectadores. Nas profundidades do restaurante, junto à sala de jantar para quarenta pessoas, encontra-se o periscópio do edifício. Um óculo horizontal de onze metros de largura e mais de três metros de altura que oferece vistas panorâmicas para a vida marinha do fundo do oceano, proporcionando uma experiência pra lá de imersiva na vida selvagem do lado de fora. Em virtude desta enorme janela para o mar, a atmosfera do restaurante se transforma ao longo do dia e do ano, banhando o espaços do edifício com uma luz filtrada pelo azul safira do mar durante um dia frio de inverno, para um profundo verde esmeralda durante o verão.
Um sofisticado sistema de iluminação LED minimiza cuidadosamente a refletividade do vidro da janela para maximizar as vistas para o lado de fora. São mais de 380 luminárias instaladas nos painéis de forro acústico, iluminando os espaços do restaurante com uma luz sutil, mas acurada. Estas luminárias podem ser facilmente dimerizadas, ajustando-se para responder às diferentes condições de iluminação natural do edifício. O lado de fora também será iluminado durante a noite, atraindo a vida marinha e proporcionando um espetáculo inigualável para o deleite dos visitantes.
Os materiais foram cuidadosamente escolhidos de acordo com o uso e a localização no interior do restaurante. A madeira que faz a transição do exterior para o interior lembra mais a arquitetura naval, um cais ou o ancoradouro de um navio. A medida que nos aprofundamos mais no edifício os acabamentos passam a ser cada vez mais refinados até culminar no palco principal deste grande teatro marinho, a preeminente sala de jantar. Para alcançar este refinado grau de acabamento, os arquitetos do Snøhetta trabalharam em estreita colaboração com a Hamran, uma marcenaria local que cultiva tradicionais técnicas de carpintaria desde 1930, responsáveis pelo belíssimo trabalho em carvalho norueguês.
O Under foi construído dentro de uma barca de concreto a apenas vinte metros do local. Todas as janelas foram instaladas antes do edifício ser submerso nas tumultuadas águas de Lindesnes. Durante o processo, a estrutura pousou delicadamente na superfície d'água, flutuando por conta própria e pouco à pouco foi transferida para o local e submergida com o auxílio de guindaste e rebocadores. Após ser completamente submerso, os trabalhos estruturais foram executados com perfeição milimétrica e o edifício-embarcação foi preso junto à uma laje de concreto ancorada no leito rochoso do Mar do Norte. Mas nem tudo foi assim tão simples. A estrutura foi preenchida com água para poder afundar com mais facilidade e para permitir a perfeita junção das estruturas. Depois de todos os parafusos serem devidamente apertados, a água foi drenada para fora, dando início aos trabalhos no interior do edifício.