- Área: 300 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Gilbert McCarragher
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Fabricantes: Fortera, Inopera, Istoria, Vale Roofing
Descrição enviada pela equipe de projeto. Riding House Street é uma das mais heterogêneas ruas da cidade de Londres em matéria de arquitetura. Ela abriga uma extraordinária variedade de diferentes estilos arquitetônicos: partindo da igreja All Souls, projetada por John Nash no seu extremo leste, passamos por uma aleatoriedade de edifícios do século XIX e prédios comerciais do pós-guerra até culminar em modernas estruturas de concreto e blocos de apartamentos do século XX. Esta estética fragmentada encontra um ponto de equilíbrio no uso de tijolos como revestimento de fachada, muitas vezes criando um tecido continuo que se estende por centenas de metros. O projeto do Interlock procura absorver e integrar-se à essa narrativa histórica. Ele se acomoda perfeitamente entre seus vizinhos, adaptando-se aos seus gabaritos e mimetizando as onipresentes fachadas de tijolos da rua para criar um edifício de arquitetura indefinida - historicista e contemporânea ao mesmo tempo, uma estrutura bastante familiar ainda que completamente deslocada no tempo. Por isso, apesar de sua aparecia semelhante, os tijolos não são os mesmos. Estes blocos cerâmicos foram exclusivamente produzidos em dimensões não tradicionais, uma coleção de 44 diferentes blocos disformes e fora de qualquer padrão pré-existente.
Curiosamente, estes elementos ímpares se encaixam perfeitamente segundo um projeto cuidadosamente elaborado. Os diversos padrões dos blocos são visíveis na superfície da fachada à medida que eles se encontram com outros materiais como o aço o concreto e o vidro. Os tijolos parecem compôr uma estrutura viva, que se dilata e se acomoda entre os vãos e elementos contemporâneos da fachada. Para quem passa na rua, esta fachada de tijolos irregulares e disformes parece mais com o interior de uma máquina, um mecanismo repleto de engrenagens. Esta precisão milimétrica é o resultado de um projeto minucioso, onde cada elemento foi desenhado sob medida para então facilitar o processo de fabricação. Para contrastar com as fachadas de tijolos adjacentes, os arquitetos optaram pelo tradicional Staffordshire Blue Clay, mais comumente utilizado em revestimentos de piso e cobertura. Quatorze diferentes moldes de aço artesanais foram utilizados para a queimar os tijolos. Depois de prontos, esses 14 elementos "fundamentais" foram então divididos para criar seus 30 elementos "secundários". Mais de 5.000 tijolos foram utilizados para compor esta colcha de retalhos construída ao longo de três meses. A equipe de "montagem" utilizou plantas de elevação na escala 1:1 para a execução da fachada. Quando trouxemos estas 188 pranchas impressas para a obra, parecia que estávamos lidando com um precioso manuscrito de construção. Atrás desta impressionante fachada projetamos três novas unidades residenciais e um café no nível da rua com uma galeria no subsolo. O seu volume regular e a proporção simples de suas aberturas esconde a complexidade de um edifício projetado a partir do encaixe de cada tijolo.
Nos fundos, o edifício é definido como uma série de caixas empilhadas. Seus volumes de diferentes tamanhos vão recuando à medida que o edifício ganha altura de forma a criar uma série de terraços e permitir uma melhor iluminação das unidades. Dentro dessa lógica de escalonamento, foram criados uma série de aberturas e vazios que conduzem a luz do sol até o âmago do edifício, criando jardins de inverno e poços de luz. De frente para a rua, os quartos têm vista privilegiada para a movimentada rua e mais além para o skyline do centro de Londres. Junto ao jardim posterior, a luz é mais difusa, proporcionando uma atmosfera mais relaxante e aconchegante para as áreas de convívio da casa. No interior, a paleta de acabamentos e cores são simples e elementares. O café no térreo é abundantemente iluminado, contrastando fortemente com o peso desta fachada massiva e de poucas aberturas. Os montantes das aberturas foram reduzidos à mínima largura e extrudados para fora como molduras que definem o limite entre o que é cheio e o que é vazio. Esta paleta monocromática coexiste com apenas um outro material: o carvalho que reveste o piso e as bancadas. No subsolo do café foi criado um espaço de galeria, especialmente construído para abrigar exposições, workshops e palestras. O projeto é fruto de um trabalho a quatro mãos, uma colaboração entre arquitetos e clientes para reinterpretar a arquitetura histórica de Londres e reaproximar dela.