-
Arquitetos: Jirau Arquitetura
- Área: 1275 m²
- Ano: 2016
-
Fotografias:Antonio Preggo
Descrição enviada pela equipe de projeto. A produção de Habitação Social no interior do Nordeste, quase que invariavelmente, gira em torno da construção de casas térreas, de dois quartos, banheiro único, cozinha (às vezes, integrada) e sala (ou salas). Este programa é tão repetido que, por vezes, inibe os empreendedores a criarem tipologias alternativas. Constatada a reincidência do tema, e convencidos da necessidade da criação de produtos diferentes, o trabalho seguinte foi o de persuadir o construtor. Esta tarefa não foi difícil, pois já havia uma relação de confiança entre o escritório de Arquitetura e este construtor para a proposição de produtos e modelos distintos aos ofertados por este mercado.
A ideia de juntar os terrenos num único, potencializando o número de unidades com o uso de sobrados geminados, todos com acesso independente à rua, foi aprovada. Mas, como condomínio, era necessária uma área comum, condominial: uma pequena praça, aberta e pública, foi imaginada como espaço de lazer dos condôminos e de integração com o restante do bairro, permitindo que seus vizinhos pudessem se apropriar do local, dando a ele vida e uso efetivo, num bairro totalmente carente de espaços de convivência. A praça teria um espaço protegido por grades, para jogos e brincadeiras de crianças, e outro, para descanso, sob a sombra das árvores.
Mas, o gestor de plantão do órgão municipal de licenciamento e planejamento – um não-técnico – rejeitou a ideia: “a cidade não quer essa praça”. E, assim, morreu de morte matada esta tentativa de presentear a cidade com um espaço aberto, ainda que diminuto. As casas subvertem a lógica tradicional local, pois os quartos se voltam ao quintal, ao interior e à intimidade, e deixa às salas a conexão com o exterior, com a rua. As salas se inundam de luz pois, além de estarem ligadas ao exterior, se ligam ao quintal, que pode se transformar num pequeno pomar, num jardim ou numa área festiva, com a instalação de uma churrasqueira ou uma pequena piscina.
As zonas social, de serviço e íntima estão bem delimitadas, pois, no térreo, encontram-se as salas, a cozinha e a área de serviço e, no pavimento superior, quarto e banheiro sociais e suíte. As fachadas incorporam um elemento típico da Arquitetura Moderna Pernambucana: O cobogó, elemento vazado que permite a circulação constante de ar e cria um inusitado jogo de luzes e sombra na escada. Elas brincam, também, com cores, quebrando a monotonia e a repetição exagerada da imagem do morar sem identidade. Imaginou-se, também, a possibilidade de expansão da casa, com o projeto de uma suíte mais confortável, voltada para a rua.
Por conta desta expansão planejada, ofertada ao cliente no ato da compra, os dois banheiros originais são ventilados e iluminados por cima, através de uma abertura zenital. A concretização deste acréscimo permitirá a criação de uma garagem coberta ou o aumento da sala, ambos até o limite do recuo inicial obrigatório de 3 metros. A dinâmica do mercado, seus humores e as diversas mudanças de rumo nas políticas de financiamento sugeriram a modificação de parte das unidades, dos sobrados inicialmente pensados para unidades térreas, mantendo algumas características do sobrado original, como as salas que se abrem ao exterior e para ao quintal, por exemplo.
Por fim, apesar das tentativas de diferenciação através das cores e da construção de gradis e muro com altura maior do que a dos muros usualmente entregues na região – uma região que vem se tornando uma cidadela fortificada – e, na expectativa de que o desejo de alteração fosse amainado, a realidade mostra que é muito difícil que o comprador mantenha as características originais do projeto, quase sempre em busca de uma sensação de segurança, que é falsa e ilusória. Estas alterações quebram o senso de unidade, na diferença, das habitações e ajudam a tornar mais inseguras as nossas ruas.