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Arquitetos: extrastudio
- Área: 250 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. Este projeto localiza-se em Sesimbra, uma pequena vila de pescadores a sul de Lisboa, num lote invulgar, uma encosta de grandes dimensões a 600 metros do mar, que se estende desde a vila ao castelo, delimitada por um pinhal e uma estrada romana.
A paisagem aqui é de uma beleza cicládica, selvagem, com uma vista deslumbrante sobre o mar. Oliveiras, figueiras e pinheiros crescem sobre um solo de rocha, árido, pontuado por terra vermelha que no passado servia para a agricultura.
As clientes, duas irmãs, pretendiam transformar uma pequena casa construída nos anos 60 em casa de férias, para poderem reunir as famílias e amigos no Verão. Uma casa de férias deve convocar um universo próprio. Can Lis do Jørn Utzon e a Casa Rotonda da Cini Boeri são exemplos disto, casas essenciais, íntimas e generosas, profundamente relacionadas com o sítio e a cultura onde se inserem. Casas onde o tempo passa de forma diferente e nos ajudam a compreender fisicamente onde estamos.
A nossa primeira decisão seria dividir a casa em dois corpos, garantindo autonomia a cada família. Como gémeos, partilhariam as mesmas propriedades e dimensões, mas cada um expressar-se-ia de forma ligeiramente diferente; mais alto, exposto à paisagem, à procura do mar, outro mais recolhido e horizontal, buscando uma relação mais íntima com o terreno em redor.
Não sendo possível ultrapassar 125m² de implantação devido a restrições legais, são introduzidos pátios e é criada uma pérgula em redor dos volumes prolongando os espaços para o exterior, gerando zonas de estar ao ar-livre com vista sobre o mar, cobertas com vegetação, duplicando a área das casas. Esta é uma solução recorrente no universo mediterrânico, onde trepadeiras, vinha e jasmins oferecem sombra e proteção do sol no verão, tornando o interior mais fresco. Suspensas com 6 metros de profundidade, estas estruturas flutuam, uma filigrana de cabos e arames unindo-se num grande espaço de estar exterior onde toda a família se pode encontrar.
Encastrando-se no terreno, as casas surgem como um prolongamento da rocha, invisíveis na encosta. Para conseguir este efeito é utilizado betão com pigmentos castanhos desativado, testado inúmeras vezes até se encontrar uma cor idêntica à da terra em redor. A sua superfície, com os agregados do betão expostos, é simultaneamente áspera e macia ao toque, como uma pedra ou a pele de um animal. Para obter esta textura, todo o betão foi betonado ao anoitecer, utilizando-se um processo químico para retardar a presa, decapando-se a camada superficial na madrugada seguinte.
Construir nesta paisagem implica construir uma atmosfera diferente. Não sendo uma residência permanente convoca-se aqui um universo intenso e cru, mais próximo da terra, feito com matérias-primas em bruto, mineral, rígido e sensual.
No interior reduzem-se ao máximo os elementos. Os materiais são deixados à vista no seu estado natural, apenas as paredes são pintadas. Janelas e portadas correm totalmente para dentro das paredes, transformando toda a casa num espaço exterior. Comer, dormir e tomar banho faz-se ao ar-livre, abrigados do sol, deixando a brisa passar.