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Arquitetos: Dongxiying Studio, CCDI
- Área: 300 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Chao Zhang, Xiongyi Zhu
O vilarejo de Fa Chang em Heyuan
O município de Heyuan é atravessado por dois rios: Dongjiang e Xinfeng. Enquanto o primeiro atravessa a cidade de norte à sul, o segundo corre no sentido oeste-leste. A confluência dos rios acontece bem no coração da cidade de tal forma que Heyuan, encontra-se cercada por água em três de seus quatro lados. Historicamente ocupada pelo povo "hakka", esta região da província de Guangdong, no estremo sudeste da China, é caracterizada por pequenos povoados. Desta mesma maneira, o município de Heyuan é composto por uma série de vilarejos e Fa Chang não é exceção. Com uma população cada vez menor, devido ao constante processo de êxodo rural na China, Fa Chang conta com apenas dois edifício públicos, de modo que o centro comunitário foi construído para manter viva e unida esta pequena comunidade no sul da China.
O Centro Comunitário
O terreno possui uma forma trapezoidal, rodeado por casas e terras agricultáveis, além de um pequeno riacho que passa junto ao limite sudoeste e define os fundos do lote. Em direção noroeste, a paisagem se abre em direção às montanhas e o acesso até o local se dá através de uma estrada de terra que conecta todos os vilarejos da região. O edifício é configurado por uma série de espaços abertos e permeáveis, contando apenas com um muro perimetral de tijolo junto aos limites leste e sul do terreno enquanto que, por outro lado, abre-se plenamente em direção noroeste e à montanha. Atravessando a rua, o Centro Comunitário conta ainda com uma pequena praça em forma de meia-lua, utilizada como espaço público e cinema ao ar livre nos finais de semana.
Espaço
O edifício principal foi implantado sobre um platô bem no meio do terreno. Embora mais alto que o nível da rua, o edifício é térreo e acessível considerando que esta é uma comunidade formada principalmente por idosos e crianças pequenas. Circundando o volume do edifício, um amplo deck de madeira define os limites do espaço, que se esparrama sobre o lote ampliando a sensação de espaço. O banheiro público foi acoplado junto ao muro perimetral, liberando o espaço do centro comunitário de qualquer instalação ou parede. O volume do edifício é definido por uma malha estrutural ortogonal de módulo 4x4 metros e um pé direito livre de 3 metros. Acima desta estrutura espacial conformada por pilares e vigas de madeira, os módulos da cobertura inclinada alcançam uma altura de até 4,5 metros em relação ao piso. A partir das aberturas criadas entre a defasagem dos módulos da cobertura, o espaço interior é iluminado por uma luz difusa que cria uma atmosfera agradável e aconchegante ao longo de todo o ano.
As vigas que suportam os elementos inclinados da cobertura cumprem uma dupla função: elas são responsáveis tanto pelo travamento da estrutura como cumprem a função de calha, recebendo um perfil “U” metálico incorporado de 200 mm x 200 mm que serve para a drenagem e encaminhamento das águas pluviais. Em uma das esquinas, um generoso balanço da cobertura define a entrada principal do edifício, enquanto que os grandes beirais juntos às fachadas oeste e sul criam um espaço semi-aberto de transição entre o espaço interior e o jardim. Junto a fachada sul, o ponto mais baixo da cobertura define uma linha horizontal que emoldura tanto as vistas do edifício para o bambuzal em primeiro plano quanto para as montanhas mais ao fundo.
Materiais
A natureza desta paisagem rural nos levou a adotar um modelo de construção diferente daquele da cidade. Foram utilizados materiais não industrializados como a madeira serrada e o tijolo de barro. Buscamos inspiração nas características locais com o comprometimento de construir um projeto de arquitetura que encontra-se ressonância nas memórias e na cultura do povo Hakka. O volume principal do edifício é definido por um sistema estrutural de madeira de pinheiro, encontrada em florestas não muito longe dali. A fim simplificar o processo construtivo, utilizamos apenas uma seção para todos os elementos estruturais de madeira, tanto pilares como vigas. As conexões entre estes elementos de bitola 200 x 200 cm foram feitas em encaixes macho-fêmea e sem a utilização de parafusos ou elementos metálicos. A maior parte dos fechamentos do edifício foram feitos com portas de madeira e vidro, exceto pela parede externa de frente para a rua, a qual foi construída com tijolos parcialmente salientes. O assoalho de madeira foi instalado sobre um leve contrapiso de concreto inclinado no mesmo sentido da cobertura, garantindo o escoamento natural da água da chuva.