- Ano: 2019
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Fotografias:João Morgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Largo do Campo Lindo teve como objetivo a reabilitação de um edifício do Séc. XIX, há várias décadas usado como habitação multifamiliar e comércio, e a sua reconversão numa moradia unifamiliar. Implantado no extremo Norte do largo co Campo Lindo, o edifício desenvolve-se de gaveto com a rua da Igreja de Paranhos, o que lhe confere uma imagem urbana pouco comum na moradia burguesa do Porto.
Apesar do avançado estado de degradação e adulteração, a casa mantinha muitas das características da construção original de meados do Séc. XIX, nomeadamente as paredes resistentes em alvenaria de granito com pisos sobre estrutura de madeira, tetos em estuque e soalhos de madeira de Riga. Fruto do uso, R/C (comércio) e pisos superiores (divisão em quartos para estudantes) os espaços e detalhes construtivos foram sofrendo intervenções que transformaram irremediavelmente o caráter da preexistência.
Assim, a intenção de converter o edifício numa moradia unifamiliar obrigou a uma restruturação absoluta do espaço que culminou numa nova organização interior, nova marcação da entrada e relocalização dos acessos verticais, pelo que o resultado se assume como uma reinterpretação das soluções construtivas e espaciais da época, mais do que uma reconstrução do existente. O novo programa organiza os espaços sociais (escritório, sala e cozinha) ao nível piso térreo e quartos no primeiro piso e espaço das crianças no desvão cobertura.
O gesto mais visível de todo o projeto concretizou-se na criação da garagem (Norte) que implicou no desaterro de um socalco que originalmente fazia a ligação exterior entre o piso térreo e ao primeiro andar. Este desaterro possibilitou, como consequência, o aumento de um pequeno pátio existente e a sua conversão num logradouro que articula a casa e a garagem. Todos os detalhes de acabamento, materiais, pormenores de carpintaria, assim como as soluções estruturais e construtivas são reinterpretações das soluções originais ainda visíveis aquando do levantamento.
A proposta assume-se como uma resposta pragmática às exigências do programa, onde a preexistência serviu de guia a um diálogo entre os distintos espaços temporais: passado e presente. Assente no princípio simples, re-habitar respeitando o caráter e conceito do edifício. Foi intenção que a nossa passagem pelo edifício se diluísse entre todas as intervenções das quais já foi alvo, abandonando assumidamente a pretensão de afirmação autoral pelo desenho.