Comemorar o centenário de Sergio Wladimir Bernardes, reeditando na FAU-UFRJ, com inserções e mudanças a exposição realizada no Centro Carioca de Design (CCD), com curadoria de Adriana Caúla e Kykah Bernardes, não é só uma forma de homenagear o arquiteto formado aqui, em 1948, pela então Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA), de divulgar o acervo de seu escritório, que está sob a guarda de nosso Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD), e valorizar as pesquisas sobre sua obra, mas especialmente para evocar a sua presença hoje - para reconhecer o seu trabalho como uma forma de pensamento que nos incita a pensar.
Bernardes cultivou um espírito de liberdade, a postura da experimentação, o sonho com o compromisso de concretizar (e muito construiu) e contestar, em suas palavras, a “falta de criatividade, as omissões e a feiúra das cidades”; constituiu sua própria linguagem para além de uma “escola”, da referência a Lucio Costa e Oscar Niemeyer, como um pensamento criador que “passou entre”, e para além, de Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Buckminster Fuller, Archigram ou ainda Brunelleschi, Boullée, Durand, Gaudet e tantos outros; pensamento manifesto em diferentes escalas, do detalhe ao macro, explorando materiais e técnicas e conectando campos e saberes ... design, arquitetura e urbanismo ... biologia, ecologia, cibernética... (As reticências fazem todo o sentido para ele).
Na exposição na FAU, buscamos destacar seus projetos iniciais, pois contam muito de sua formação e do contato que teve com os mestres modernos, ainda no então Curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes. O contato com os princípios da tradição arquitetônica e com as premissas do movimento moderno em arquitetura e urbanismo podem ser observados nos edifícios expostos, como o Sanatório de Curicica, a Casa de Lota Macedo Soares, e a residência Hélio Cabal, cujas ferramentas projetuais podem ser também encontradas em seus projetos posteriores, como no Edifício Casa Alta.
Representam aqui o seu pensamento sobre o morar moderno a singular Casa de Lota, uma experiência a um só tempo de investigação sobre espaço fluente e integração com a natureza, de mistura de materiais tradicionais e novos, com a estrutura metálica francamente assumida; a residência de Hélio Cabal em diálogo com obras de contemporâneos no Brasil; o projeto dos edifícios Casa Alta e o conjunto de Casas Maria Cândida Pareto– diferentes respostas à problemática de um maior número de unidades e relação com a paisagem.
Como obras dos anos 1950 que usam a modulação e especialmente a experimentação estrutural moldada in loco, destacam-se a referida Casa de Lota, obra que não esteve presente na montagem do CCD, e o Sanatório de Curicica – ambas representadas nesta edição da mostra por maquetes produzidas por grupos de pesquisa da FAU/PROARQ – profa. Beatriz Oliveira, pesquisa Casas Brasileiras do Século XX e profa. Ana Albano Amora, pesquisas Lugares de Memória da Saúde e Arquitetos e Arquiteturas Brasileiras - Séculos XIX e XX. O projeto do Sanatório denota seu pensamento sobre o espaço hospitalar a partir de uma abordagem da arquitetura como terapêutica, em que o conforto do paciente se relaciona com a qualidade do espaço e a relação entre interior e exterior.
Bernardes também pesquisou e realizou projetos de grandes estruturas e coberturas para exposições– os Pavilhões – a exemplo do pavilhão da CSN (1954), criando lugar entre as margens da água, do icônico pavilhão do Brasil na Exposição de Bruxelas (1958) e do Pavilhão de São Cristóvão (1962). Podemos situar estes trabalhos como desejo não só de explorar novas possibilidades materiais e técnicas com a geometria não euclidiana, mas também de criar um espaço mutável, de oportunizar experiências, valorizando diferentes apropriações.
As escalas de projeto nunca o intimidaram, e na relação com o design, pensou um carro, a cadeira berço, a cadeira rede... pensou espaços construídos a partir de um sistema de módulos hexagonais, estruturas para arranjos diversos. Para as praias cariocas, idealizou os Postos de Salvamento que temos hoje, mas que originalmente seriam de material espelhado, o objeto desaparecendo para refletir o mar, a areia e a calçada...
Atuou sem pensar em limites disciplinares, pois desejava um mundo a ser vivido, de modo relacional, sem a dicotomia cultura e natureza, e fazendo da tecnologia um caminho para potencializar esta relação.
Bernardes pensou a cidade do Rio de Janeiro, pensou o Brasil! Pensou como um balão, livre e preso, subindo e descendo, do sonho ao concreto, do concreto ao sonho, como aquele que projetou para Bruxelas.
PROGRAMAÇÃO SB.100 FAU.UFRJ
19 de agosto (segunda-feira) – Exposição . FAUUFRJ
10h00 I Abertura da exposição SB100, café e inscrições (Mezanino)
11h00 I Projeção do filme Bernardes (Auditório Paulo Santos)
20 de junho (terça-feira) - Seminário SB100 . FAUUFRJ
Auditório ARCHIMEDES MEMORIA
10h00 I Abertura
Andrea Rego, Monica Salgado, Vera Tângari e rep. CAU RJ
10h30 I 12h30
Mesa 1 – “O personagem e o Acervo”
Mediação: Fabiola Zonno
Kykah Bernardes – “O homem Sergio”
João Cláudio – “O acervo e o NPD”
Ethel Pinheiro – “O número comemorativo SB100 - Cadernos Proarq”
Maria Angela Dias – “O edifício do Cenpes”
12h30 I 14h30
Exibição do documentário “Missão Rio”
14h30 I 16h30
Mesa 2 – “Obra e Pesquisadores”
Mediação: Ana Amora
Thaysa Malaquias (Mestre PROARQ) – “Sanatório de Curicica, herança da formação na FNA”
Fausto Sombra (FAU Maquenzie) – “Os pavilhões na obra de SB”
Adriana Caúla (UFF) – “Utopias na obra de SB”
Alexandre Bahia (Cau.PE) – “Uma exploração à obra de Sérgio Bernardes”
COMISSÃO ORGANIZADORA
Ana Amora, Coordenação Seminário SB100 – FAUUFRJ (PROARQ)
Kykah Bernandes, Coordenadora das Comemorações SB100 (Projeto Memória Bernardes Arquitetura)
Adriana Caúla, Coordenação das Comemorações SB100 (Expografia SB100 CCD) – EAUUFF
Ethel Pinheiro – FAUUFRJ (PROARQ)
Fabiola Zonno – FAUUFRJ (PROARQ)
Giovana Ramires – Doutoranda (PROARQ)
Cláudio Brandão – Doutorando (PROARQ)
Thaysa Malaquias – Mestre (PROARQ)
João Claudio Parucher – NPD (FAUUFRJ)
Romulo Guina – FAUUFRJ
Colaboradores
Michael Mouroco, Yrvin Gomes, Victor Huggo Amorim, Leonardo Silvestre – estudantes FAUUFRJ
Curadoria e expografia SB100 . FAUUFRJ
Ana M. G. Albano Amora
Fabiola Zonno
Claudio Brandão
Thaysa Malaquias
MODELOS
S A N A T Ó R I O D E C U R I C I C A
Concepção:
Ana Albano Amora, Romulo Guina, Thaysa Malaquias, Michael Morouco, Victor Huggo Xavier
Produção:
Ana Albano Amora, Romulo Guina, Giovana Ramires
Realização:
Coordenação de execução: Romulo Guina
Equipe de execução (desenho e modelo) e Montagem da exposição: Michael Morouco; Victor Huggo Xavier; Leonardo Silvestre; Ana Beatriz Lima; Miguel Soares; Byatryz Nogueira Guimarães; Mariana D. Farolfi; Danilo M. Gonçalves; Ana Beatriz B. Flores; Daniela Maria dos Santos.
C A S A L O T A
Pesquisa Casas Brasileiras do Século XX
APOIO
DIREÇÃO FAUUFRJ
Beatriz Santos Oliveira (pesquisa ‘Casas brasileiras do século XX’)
LAMO 3D
Ethel Pinheiro (CADERNOS PROARQ)
Carlos Silva & Rejane Verde – Serviços de Corte e Gravação