- Área: 200 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:João Morgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto reporta-se à intervenção efetuada no imóvel localizado na rua da Estrada Nova, em Arada. A obra localiza-se numa rua com construções adjacentes relativamente consolidadas, numa rua central de ligação entre a capela da Nossa Sra. do Desterro e a Igreja Paroquial de Arada.
A habitação, com algumas décadas de existência, foi sendo gradualmente adaptada, havendo uma natural reorganização e adição de estruturas de apoio, pequenos espaços edificados que, ao longo da vida do imóvel, permitiram a criação de condições de utilização concordantes com a vida dos seus proprietários.
A atividade agrícola desenvolvida então condicionou assim em larga medida a disposição dos espaços construídos, tendo como base a necessidade de manter uma passagem livre desde a rua de acesso, a Nascente, até ao logradouro no lado oposto, a Poente.
A alteração da habitação, encontra-se desenvolvida conforme os pressupostos enumerados de seguida:
- demolição total dos espaços cobertos e também dos espaços de apoio, anexos à volumetria principal da habitação construída inicialmente;
- reocupação parcial do espaço anteriormente ocupado por parte das construções de apoio, junto ao limite Norte do terreno, mantendo a organização funcional da casa apoiada numa implantação com encosto às empenas dos vizinhos mas essencialmente com o intuito de permitir uma exposição solar preferencial das construções a Sul, nascente e Poente;
- demolição da escada exterior de acesso ao piso superior da habitação;
- reorganização funcional da habitação, transferindo todo o programa de utilização comum, como salas, cozinha e restantes espaços de serviço para o piso inferior (habitação e anexo) e permitindo uma utilização do piso superior estritamente relacionada com as unidades de descanso de utilização efetiva, quartos e instalações sanitárias de apoio;
- criação de espaços exteriores cobertos de apoio, ao nível inferior, para estendal e apoio à sala e cozinha, assim como utilização de varanda existente no piso superior para inter-relação funcional com os quartos;
- criação de espaços de apoio exterior distintos, nomeadamente através de uma certa hierarquização e distinção funcional, pátio de acesso, pátio de utilização mais prolongada, logradouro e jardim de apoio;
- remoção de elementos construtivos de escassa qualidade na construção principal, a recuperar, potenciando o desenvolvimento de uma imagem mais cuidada, sóbria e coerente com a forma de construir contemporânea;
- desenvolvimento de uma certa dualidade na interpretação da relação entre o elemento existente, a remodelar, e o elemento novo, a construir, assumindo uma certa tensão interpretativa, confronto de linguagens e formas, no sentido de garantir a verdade material e construtiva dos vários espaços criados.
A casa mantém a escala inicial, mesmo com elementos novos, e essencialmente reintroduz uma lógica funcional que se coaduna às novas expectativas de utilização.
A sua imagem serena e visualmente pouco contrastante é subtilmente contrariada pela angulosidade das novas geometrias que tentam desenhar uma espécie de fio condutor, através de elementos como lajes, palas e pórticos, justapostos que estão ao volume de dois pisos que se manteve, mesmo provocando uma certa tensão e mistura, sem se saber ao certo o que resistiu e o que se adicionou, evitando uma solução mais óbvia e simultaneamente mais dualista entre o velho e o novo.
A incidência da luz nos vários planos construídos provoca uma leitura dinâmica, mutável e surpreendente pelas variações que provoca ao longo do dia e nas diferentes estações do ano, fazendo destacar um desenho despojado, valorizado pela espacialidade criada pelos jogos de luz e não tanto pela riqueza material com que são construídos.