- Ano: 2019
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Fotografias:José Hevia
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Fabricantes: Ceràmica Cumella, Cortizo, Ikea
Descrição enviada pela equipe de projeto. O território de Cercedilla, um município localizado à 57 quilômetros de Madri em plena Serra de Guadarrama, tem sido transformado ao longo das últimas décadas por três grandes fluxos migratórios do campo para a cidade. Durante os últimos anos porém, consolidou-se um novo fenômeno, ou um novo tipo de habitante: um meio termo entre o rural e o urbano, uma população que volta ao campo sem nunca tê-lo abandonado de fato.
Esta dinâmica acabou por criar um novo tipo de relação entre os novos habitantes da cidade e as tradicionais comunidades rurais de Cercedilla, e é neste contexto que se insere o projeto da The Young Old House. No quintal desta casa, onde moram Ana e Manolo, as vacas do vizinho Luis, um criador de gado local, podem pastar livremente. Em troca, Ana e Manolo recebem verduras frescas produzidas na propriedade do vizinho. A convivência harmônica entre comunidades rurais tradicionais e os seus novos habitantes, nem sempre presentes, permitiu construir um outro tipo de relação entre os proprietários e a propriedade, algo fundamental para a manutenção do equilíbrio e o cuidado com a paisagem natural e as comunidades locais.
Depois de herdarem a propriedade em Cercedilla, Ana e Manolo decidiram criar suas quatro filhas neste ambiente semi-urbano e semi-rural. A antiga casa, construída nos anos 70 como uma casa de final de semana, não contava com nenhum tipo de isolamento térmico, tampouco com uma relação direta com a paisagem e o entorno. Por isso, procuramos desenvolver este projeto considerando três condicionantes: ampliação da área para melhor acomodar o casal e suas quatro filhas, criar novas relações entre a arquitetura e a paisagem e isolar termicamente a casa, resultando em uma casa mais confortável, econômica e diretamente conectada com a paisagem e a vida do campo.
Na primeira etapa do projeto, já finalizada, levamos à cabo a ampliação física dos espaços da casa adicionando três novos volumes cobertos e com revestimento cerâmico para diferenciá-los do edifício existente. Primeiramente expandimos a área de estar da casa, depois transformamos a garagem no quarto das crianças e por último, adicionamos uma área técnica para as novas instalações. Algumas antigas paredes de pedra foram recortadas para criar novas relações entre interior e exterior além de adicionarmos uma nova estrutura metálica que nos permitiu conectar totalmente a nova área de estar com a paisagem do lado de fora. Toda a cobertura foi substituída, porém, ao longo do processo reciclamos todo o antigo material, o transformado em mobiliário.
A partir do ano que vem, Sahari, antigo mestre de obras do local e agora contratado pela família, irá desmontar todas as paredes de pedra da casa, incorporando sobre elas as camadas de isolamento térmico necessárias para uma melhor manutenção e conforto dos espaços internos, e tornando a reconstruí-las com os mesmos materiais, desta vez com um novo padrão de assentamento. A casa então crescerá por etapas, realizadas ano a ano.
No projeto nada voltará a ser como era antes, ou melhor, nada voltará a seu antigo lugar. Tudo aqui se transforma: o mobiliário da casa está sendo fabricado com materiais reciclados da antiga fachada e da estrutura do telhado. Quatro vigas do telhado foram cortadas e transformadas em mesa de jantar, parte da fachada foi transformada em um banco e os antigos batentes das janelas foram adaptados para receber as novas portas e assim, tudo aqui será ressignificado e ganhará vida nova.
Junto à esta família de móveis construídos com materiais reciclados da antiga casa, adicionamos alguns novos elementos, a maioria construídos em metal: uma porta oculta que serve de acesso direto ao campo, luminárias giratórias utilizadas na mesa do jardim para iluminar os jantares durante os dias quentes de verão, quatro camas para as crianças e duas janelas tipo escotilha através das quais podemos ver a paisagem do lado de fora, de norte a sul.
O projeto pretende viabilizar uma coexistência saudável entre os moradores do campo e da cidade e entre o passado e o presente, um projeto que nos permite repensar nossos antigos modos de vida e adaptá-los para este novo território sem fronteiras.