- Área: 1500 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Beer Singnoi / Ketsiree Wongwan
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Fabricantes: Danpal, Polydec, Sinpongstorn
Descrição enviada pela equipe de projeto. Os casamentos, como muitos dos ritos de passagem, celebram a transição das pessoas de um determinado status para outro. Essa mudança geralmente envolve um percurso, uma procissão: na maioria das culturas ocidentais, a noiva entra caminhando por um corredor que, mais tarde, o casal percorre junto no final da cerimônia. Na Tailândia porém, as coisas são ligeiramente diferentes: o Khan Maak, como é chamada a cerimônia de casamento neste país, é uma procissão que antecede o compromisso de noivado, e tradicionalmente deve acontecer do lado de fora da casa da noiva. Nesta ocasião, o noivo deve atravessar uma série de obstáculos, ou 'portões dourados' e 'prateados' (construídos com cordas para celebrar a festa nupcial), para chegar até a noiva.
Enraizado nesta cultura única, o principal elemento do projeto da sala de cerimônias Aube, é o corredor do Khan Maak, que percorre toda a lateral oeste do edifício principal e termina na sala de celebração. Aqui, o percurso do noivo é definido pela arquitetura, ainda que seja mantida a sua tradicional e principal característica: um espaço ao ar livre. Este corredor, é uma re-interpretação das vielas urbanas das pequenas cidades da Tailândia, onde os noivos celebram sua festa bem aos olhos de todos os vizinhos e convidados. A sensação de estar caminhando por uma rua é acentuada pela presença de alguns espaços fechados entre as arcadas do corredor, ocultando e revelando o percurso do noivo ao longo do caminho.
Historicamente, a Tailândia tem se apropriado de diferentes culturas, misturando distintos elementos do típico casamento tailandês com outras variações mais modernas importadas de outras culturas e ritos. Hoje em dia, os casamentos tailandeses são uma mistura de Khan Maak com elementos da cultura chinesa e algo que nos lembra as cerimônias de casamentos ocidentais. Um espaço projetado para este fim, portanto, deve ser flexível para acomodar esta vasta variedade de credos e culturas, seja em sua forma mais elementar ou aquelas impregnadas de elementos emprestados de outras tradições. Atualmente, os casamentos, não só na Tailândia, se tornaram uma espécie de evento publicitário, onde a imagem da festa é tão importante quanto o próprio casamento.
O projeto da sala de cerimônia Aube tenta conciliar esta nova função, equilibrando-se entre a necessidade do espetáculo e a experiência autêntica do casamento. O interior branco tem a vantagem prática de simular as paredes de um estúdio fotográfico, uma atmosfera potencializada pela luz difusa que penetra pelas claraboias e favorecida com o jogo de luz e sombras criadas pela geometria curva de seus elementos.
A sua localização, na região suburbana de Bancoc, exigiu que o projeto respeitasse um gabarito baixo, resultando em um edifício introspectivo e independente. Logo na entrada, os convidados esperam o noivo em um espaço de galeria onde encontram-se as fotografias do casal. Literalmente como um grande jardim, esse espaço é responsável pela transição entre o espaço da rua e a sala de cerimônias. Internamente, o edifício conta com dois espaços principais: a sala de cerimônias (casamento) e a sala do noivado. O salão principal tem capacidade para até 290 pessoas e está cercada em três lados por um pátio, enclausurado em uma estrutura em forma de "U" que dá acesso a outros espaços complementares. A sala do noivado acomoda até 150 pessoas e encontra-se separada do salão principal pelo pátio, onde a noiva joga o buquê.
A estrutura do percurso do Khan Maak poderia ser um simples simulacro dos tradicionais elementos espaciais das pequenas cidades tailandesas. Entretanto, decidimos fazer algo diferente, transformando a estrutura das arcadas em elementos modulares de meio arco que poderiam ser rotacionadas em diferentes direções, proporcionando ao edifício uma aparência mais moderna e aberta à diferentes interpretações. Como resultado disso, criamos uma laje sinuosa que parece serpentear através do percurso do noivo até a sala de cerimônias. Formalmente falando, o corredor do Khan Maak foi construído utilizando elementos de isopor e gesso para dar forma a uma superfície curvilínea branca contínua, enquanto em outras partes da estrutura, o aspecto escultural é alcançado utilizando concreto branco.
Os arcos e paredes curvas se repetem também no interior do edifício, incluindo a escada escultórica do pátio, de onde a noiva joga o buquê. Os arcos que formam ambas as paredes externas do salão principal e o fechamento do pátio se sobrepõe, ampliando a sensação de movimento. Curvas e arcos estão por toda parte, aparecendo novamente nas vigas da cobertura que moldam as claraboias que coroam o salão, assim como no acabamento da parede atrás do palco. Através de suas formas e recortes, a arquitetura cria uma atmosfera memorável e aconchegante, que reflete o significado por trás do nome do edifício, Aube, que literalmente significa "abraço".