- Área: 30285 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Robert Hösl, Adriano A. Biondo
O terreno
A Schweizerische Bundesbahnen Immobilien (SBB) não é apenas a maior empresa de transportes da Suíça, mas um dos maiores proprietários de terras do país. A SSB é responsável pelas ferrovias federais da Suíça e todas as suas estações além de uma série de terrenos e propriedades anexas a estas infraestruturas. Durante anos, a maioria dos terrenos próximos à linhas e estações ferroviárias da Suíça encontravam-se subutilizados, mas de alguns anos para cá, o banco imobiliário federal decidiu investir alto para transformar estes espaços, construindo novos edifícios comerciais e habitacionais, contribuindo para a densificação dos centros urbanos nas principais cidades do país. O mais recente destes projetos é o Meret Oppenheim Hochhaus, projetado pela Herzog & de Meuron e localizado em pleno centro da cidade da Basileia.
A nova torre que domina o skyline da terceira maior cidade da Suíça faz parte de um projeto mais amplo de requalificação urbana da área central da cidade da Basiléia. Em 2002, a Herzog & de Meuron venceu o concurso de arquitetura para o redesenho de uma área então chamada de Südpark, um concurso organizado pela própria SBB, proprietária de duas grandes áreas situadas ao sul da principal estação ferroviária da cidade. Apesar de sua localização central, estas enormes porções de terra encontravam-se completamente isoladas do centro da cidade, conectadas à estação central através de uma passarela elevada sobre os trilhos do trem. Juntos, o Südpark (concluído em 2012) e o Meret Oppenheim Hochhaus constroem um novo contexto espacial para uma área historicamente esquecida, reconectando à estação central ao centro da cidade. Além disso, o projeto desenvolvido pela Herzog & de Meuron unifica duas porções historicamente desconectadas do centro da cidade, reaproximando a estação central e o Südpark do bairro de Gundeldinger, no limite norte da área central. Carinhosamente apelidado de “Gundeli” pela população local, o Gundeldinger é um dos mais vibrantes e dinâmicos bairros da cidade da Basileia.
Volumes empilhados
Formalmente, a torre projetada pela Herzog & de Meuron é o resultado de um empilhamento de volumes de diferentes tamanhos. Durante o processo de projeto, os arquitetos testaram distintos arranjos e proporções, estudando como as várias funções programáticas poderiam ser melhor ajustadas às demandas do projeto como um todo. A ideia de empilhamento de volumes permitiu aos arquitetos decompor a escala monumental do edifício em uma cidade majoritariamente horizontal, construindo diferentes relações entre o pátio da estação e o contexto histórico do bairro de Gundeldinger do outro lado. Esta superposição de volumes gera uma espécie de topografia construída, desencontros que constroem terraços, plataformas, vazios e outros espaços exteriores, elementos que fornecem uma série de espaços exclusivos e uma relação complexa entre o interior e o exterior.
Volumes programáticos
O Meret Oppenheim Hochhaus é um edifício de uso misto com apartamentos, escritórios, um café e um restaurante. Cada um dos volumes que compõe a arquitetura do edifício representa um programa específico. O café e o restaurante encontram-se diretamente vinculados ao espaço da rua ao longo da Güterstrasse e da Praça Meret Oppenheim. Nos primeiros cinco pavimentos encornam-se os espaços comerciais e escritórios. As moradias por sua vez, ocupam a parte superior da torre, do sexto ao vigésimo quarto pavimento. O edifício residencial conta com um acesso independente para uma maior comodidade dos moradores, além de usufruir de generosos espaços abertos no sexto, sétimo e décimo quinto pavimentos, áreas externas que funcionarão como espaços de uso comum e áreas de encontro ao ar livre, tanto para os usuários dos escritórios quanto para os moradores dos apartamentos. Estas diferentes plataformas, em distintos níveis, oferecem perspectivas únicas para o panorama da cidade da Basileia.
Fachada
O edifício é caracterizado por um dinâmico jogo de volumes. Através de sobreposições e deslocamentos estes volumes acabam criando uma série de saliências, terraços e vazios, elementos que dão ao edifício uma aparência única. Suas enormes fachadas contam ainda com um inovador sistema de brises solares metálicos, chapas perfuradas que podem ser abertas ou fechadas de forma independente em cada uma das unidades. A fachada propriamente dita do edifício encontra-se deslocada desta primeira camada de proteção solar, criando terraços que geram uma sensação maior de profundidade em todos os lados do edifício. Esse espaço de transição funciona como um filtro entre o espaço interno e externo, proporcionando impressionantes vistas do interior para o exterior e transformando a aparência do edifício ao longo do dia.
Esta profundidade entre a dupla fachada do edifício é uma das principais características deste projeto, um mecanismo que proporciona um melhor controle das condições de iluminação e ventilação dos espaços interiores. Através deste filtro dinâmico, a aparência do edifício se revela de diferentes formas em distintas orientações assim como se transforma não apenas ao longo do dia, mas também durante a noite. A imagem do edifício transita entre um arranha-céu monumental e um conjunto de volumes confusos e permeáveis, uma estrutura que se adapta aos seus usuários e também às condições climáticas, como a luz do sol ou o vento. Essas mudanças constantes refletem a individualidade de seus usuários, construindo um diálogo com os moradores do edifício e do bairro e entre a arquitetura e a cidade.