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Arquitetos: Crisa Santos Arquitectos
- Ano: 2018
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Fotografias:Isis de Oliveira, Lucas Fonseca, Marcelo Oséas, Celina Germer
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Fabricantes: Rothoblaas, Amarante, Deca, Esmara, Euroaço, Lepri, Mabitec, Marmoraria Piramide, Martins Bastos, Neolith, Osawa, Portinari, Quattro Vetro, Rewood, Sorefi, TC Shingle, VGF, Zanchet, Zobel
Descrição enviada pela equipe de projeto. Crisa Santos tem uma peculiaridade única ao desenvolver projetos com foco na neuroarquitetura, que utiliza de ciência para criar projetos que oferecem sensações e percepções, provocando emoções aos usuários, visa o aumento de consciência e compreensão dos impactos da arquitetura sobre o cérebro e os comportamentos humanos. Exemplo disso é o projeto de revitalização do Parque das Cerejeiras, localizado no Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo. Referência na capital paulista, o cemitério, de 300 mil metros quadrados de área, tem a arquitetura abraçada pela natureza em uma simbiose perfeita, ressignificando o contato do ser humano com as suas sensações mais instintivas a fim de restabelecer o luto de forma mais natural, através da prática da biofilia. Utilizando-se da arquitetura paramétrica para algumas estruturas, além do uso dos ambientes ao ar livre, Crisa Santos concebeu este complexo voltado para o público dos bairros periféricos da região Zul da capital paulista.
O Parque das Cerejeiras é uma galeria a céu aberto, com esculturas, obras de arte e instalações criadas exclusivamente para o local. “Além de aprender o lado religioso e da espiritualidade, também expandi meu aprendizado com profissionais como geriatras, psiquiatras e psicólogos, a fim de entender o processo de luto. Queria, a partir de conversas e pesquisas, entender como os enlutados querem ser amparados, e como esse luto pode ser cuidado”, explica Crisa. “Também recorri a uma extensa pesquisa que o Sincep (Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil) fez, indagando as pessoas em luto o que eles buscavam no processo: pensavam em acolhida, fluidez, transformação”.
Crisa, então, tomou partido de uma iniciativa que foca na pessoa que fica: “proporcionamos espaços para que ela viva o luto em sua totalidade e da maneira mais branda possível. Causamos impactos construtivos para que a pessoa se sinta viva, mesmo na dor”. Em uma experiência que transpõe o metafísico, Crisa lança mão de elementos inusitados, como por exemplo, o portal da entrada do Parque das Cerejeiras: construída em madeira, a estrutura paramétrica remete ao movimento de um voo para um lugar sagrado; morrotes na grama fazem alusão à alma se elevando, uma ascensão aos céus; esta portaria reforça a liberdade de ir e vir do visitante e da comunidade que mora no entorno.
Um dos elementos mais simbólicos do Parque das Cerejeiras, a Praça da Eternidade é formada por diversos trechos com chapas de aço em movimento espiral, trazendo uma narrativa que faz uma alegoria a todas as fases da vida: nascimento, adolescência, fase adulta, geração dos filhos, a maturidade e a passagem. As curvas das chapas representam os capítulos dessa narrativa e assumem o papel de guardiã de nomes impressos em sua superfície. “A praça é um manifesto de vida e nela pulsa conectividade. É um local de afeto que assinala o parque como território de reencontros perpétuos”, explica a arquiteta.