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Arquitetos: Marc Thorpe Design
- Área: 500 ft²
- Ano: 2019
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Fotografias:Marco Petrini
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Fabricantes: Andersen Windows & Doors, Home Depot USA, JØTUL
Descrição enviada pela equipe de projeto. Uma das principais fontes de inspiração para o desenvolvimento deste pequeno e singelo projeto nas montanhas de Catskills, foram os escritos de Emerson e Thoreau. Este, certa vez escreveu: “Eu preciso de solidão. Eu vim a esta colina ao pôr do sol para ver as formas das montanhas no horizonte - para contemplar e comungar com algo maior que o homem. Este distanciamento e sacralidade é um incentivo infinito à solidão que procuro, cada vez mais convicto; acompanhado de certa fraqueza que só encontro na vida em sociedade.” - Henry David Thoreau, jornal, 14 de agosto de 1854. Edifício: “uma construção, especialmente imponente” e/ou “um complexo sistema de convicções.”
O “Edifício”, assim denominado, é uma modesta construção em madeira de cedro com pouco mais de quarenta e cinco metros quadrados. Implantada em Fremont, esta cabana ou refúgio encontra-se aproximadamente duas horas a noroeste da cidade de Nova Iorque, aninhada em meio à floresta. O projeto foi encarado como um exercício de síntese, de desapego. Uma busca pelo essencial, pelo fundamental. Inspirada pelos escritos de Emerson e Thoreau, a cabine é um exemplo de arquitetura neo-transcendentalista. Transcendentalismo, por definição, é a convicção na bondade inerente às pessoas e a natureza. A crença de que a sociedade e suas instituições corromperam a pureza do indivíduo e que as pessoas estão no seu melhor quando são verdadeiramente auto-suficientes e independentes. Neste projeto, tais conceitos se expressam em isolamento físico, em seu programa mínimo e auto-suficiente. O Edifício é um convite ao silêncio, um refúgio entre as árvores em perfeito equilíbrio com a natureza.
Aproximando-se dele, o Edifício não parece assim tão simples, pois permanece indefinido até descobrirmos como ele funciona. Como um objeto de arte contemporânea, é preciso percorrê-lo, decifrá-lo para então entender a sua relação com o contexto específico. Conforme proferido por Richard Serra, “acredito que precisamos sempre descobrir onde encontram-se as fronteira entre um objeto e seu contexto para então podermos articular a maneira como o espaço interage com o espectador.” A estrutura do Edifício funciona como uma moldura concebida para destacar as principais características do ambiente natural do lado de fora da casa. Ela opera como um ponto de inflexão, um espaço que amplia a nossa consciência à respeito do ambiente onde estamos inseridos. A fachada voltada para o leste é austera e opaca, ela serve como um anteparo de proteção, uma cortina onde a luz do sol projeta as silhuetas das árvores cirando um dinâmico jogo de luz e sombra. Este anteparo funciona como um tipo de camuflagem para a estrutura, dissimulando o seu volume em meio a floresta. Psicologicamente, esta interação entre luz e sombra, entre o espaço construído e natural, somente se estabelece através da memória. Ou seja, este Edifício só se revela através de sua interação com as sombras das árvores e com a luz do sol. De outra maneira, ele desaparece em sua própria solidão.
À medida que nos deslocamos ao redor do edifício, podemos entrever os espaços interiores através de uma única janela em fita que recorta as fachadas sul e oeste. Junto à face norte do Edifício, a entrada encontra-se recuada do plano de fachada, dobrando-se para dentro e abrindo um espaço vazio e protegido que se revela como uma típica varanda de casa de fazenda. Uma vez no interior do Edifício, o programa encontra-se dividido em quatro zonas: viver, cozinhar, comer e dormir. Esta organização foi definida a partir do “ciclo de vida”, conformado a partir das necessidades mais básicas dos seres humanos. No coração da casa, o núcleo de serviço serve para separar o espaço de dormir do programa restante da casa. Dentro dele encontra-se todas as instalações necessárias para que a casa funcione perfeitamente. Todos os sistemas e instalações utilizados neste Edifício foram concebidos para funcionar “fora da rede”. Sistemas solares para a produção de energia e aquecimento d'água, captação e reaproveitamento de água da chuva e um banheiro seco são algumas da estratégias utilizadas neste projeto. O sistema de aquecimento funciona através de uma estufa à lenha e o resfriamento é passivo, realizado através de ventilação cruzada. A iluminação talvez seja o sistema mais rudimentar, mas não menos idealizado, o qual provem do uso de velas.
Declaração do arquiteto: O projeto do Edifício nasce de uma convicção, uma crença no ser humano e em sua auto-suficiência. Queríamos encontrar um lugar onde pudéssemos estar em paz, uma arquitetura capaz de nos proporcionar paz interior. Algo disso foi encontrado no trabalho físico no interior da floresta, construindo um Edifício para a alma. Uma casa introspectiva, definida pela harmonia entre o espaço e a natureza de nossa existência. Nesse sentido, este Edifício se torna atemporal e sem fronteiras físicas. O projeto transcende o espaço físico para habitar dentro de nós, holística e eternamente. Uma arquitetura sistematicamente conectada à natureza através da tecnologia e infraestrutura sustentáveis. Este Edifício é uma estrutura auto-sustentável com uma pegada ecológica praticamente inexistente. Um projeto de arquitetura responsável para com o meio ambiente assim como para nós mesmos.