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Arquitetos: Shanghai Dachuan Architects
- Área: 65 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Archexist
Descrição enviada pela equipe de projeto. Inspirado nos campos de lavanda do sul da França, o novo Parque da Ciência e Tecnologia de Chengdu é resultado do esforço comum empreendido pelos governos da França e da China. É neste contexto que surge o projeto da Igreja do parque Sino-Francês localizado na capital da província de Sichuan, no sudoeste da China. Influenciada pela arte impressionista que transformou o realismo através de suas pinceladas à mão livre ao longo da segunda metade do século XIX, a Igreja do Parque Sino-Francês de Chengdu também procura transgredir – à sua maneira – a essência formal das tradicionais igrejas católicas ocidentais. O projeto desenvolvido pela equipe do Shanghai Dachuan Architects pode ser visto como uma espécie de arquitetura ideográfica.
A partir de uma profunda compreensão da história da arte e da arquitetura francesa, procuramos adaptar seus principais conceitos e valores para o nosso contexto específico de forma a melhor expressar o espírito inerente à liberdade e diversidade da cultura deste lugar. Pensando nisso, procuramos romper com a tradição construtiva, abrindo mão de materiais mais tradicionais para construir um edifício atemporal, simples e minimalista, uma estrutura abstrata construída com luz e sombra.
“A arquitetura nasce do refinamento, do manuseio correto e preciso dos volumes à luz do sol. O resultado disso é uma imagem clara, tangível e inequívoca. É por esse motivo que a arquitetura pode ser vista como uma imagem de si mesma.” - Le Corbusier
Construímos este edifício como uma imagem, uma imagem extraída da abstração das tradicionais formas das históricas igrejas ocidentais. Ao pôr do sol, a igreja é atravessada pelos raios do sol, transformando-se em um edifício quase etéreo, uma imagem que se desfaz no ar. Seus elementos construídos parecem desaparecer com a ressonância da luz, transformando-se em apenas uma imagem de si mesma. Uma igreja feita de luz, mas uma luz outra, diversa do fulgor dramático característico do espaço interior das tradicionais igrejas ocidentais. Esta materialidade volátil é a essência deste projeto.
A pureza de suas formas e a simplicidade de sua imagem é resultado de um minucioso e complexo projeto estrutural. Procuramos dissimular a sua complexidade para que apenas a simplicidade de suas formas pudesse sobressair. Finalmente, a arquitetura do edifício é composta por uma série de elementos de seção e perfis variáveis, os quais conforma uma cúpula suspensa que dá forma ao espaço interior da igreja. Estes elementos representam a imaterialidade e atemporalidade deste edifício, uma estrutura que parece pairar no ar, flutuando em meio a paisagem natural chinesa, fora de lugar e suspensa no tempo.
A estrutura em si encontra-se oculta atrás destes elementos aéreos, e é composta por um perfil tubular de aço de seção quadrada de 240 mm. Este perfil de suporte foi criado conforme a silhueta de uma tradicional igreja ocidental enquanto que os perfis secundários são responsáveis pelo travamento da estrutura como um todo. Desta forma, assim como a arquitetura nasce da fusão entre estrutura e envoltória, os limites entre espaços interiores e exteriores parecem se diluir no ar.
Depois de definida a forma da estrutura do edifício, a escolha dos materiais passou a ser nosso principal foco durante os dois meses que separaram a concepção do e a construção do edifício. A fim de simplificar ao máximo o processo de construção fomos forçados a desenvolver uma série de detalhes altamente refinados. Como não queríamos utilizar a solda, optamos por utilizar um dos materiais mais simples e por tantas vezes esquecido: perfis tubulares de alumínio. Com isso conseguimos construir um edifício leve, resistente, de fácil manutenção e reciclável.
Como tivemos que lidar com um orçamento limitado e um cronograma de obras bastante enxuto, procuramos desenvolver um projeto preciso e detalhado a fim de minimizar os futuros problemas durante a fase de construção. A igreja foi construída inteiramente com perfis quadrados de alumínio, sem sequer um único ponto de solda. O processo de construção foi simples e isso não apenas proporcionou uma economia de tempo mas também de dinheiro. Até mesmo à noite, a configuração do edifício é capaz de conter a luz interior, proporcionando uma sensação de densidade que contrasta com a atmosfera leve e diáfana do dia.
O projeto da Igreja do Parque Sino-Francês de Chengdu se baseia em dois conceitos principais. Primeiro, a expressão da pureza de espírito proporcionada pela simplicidade de suas formas e a maneira como o edifício responde às diferentes condições de iluminação. Segundo, a própria imagem do edifício, que sugere a arquitetura de uma igreja, porém, mais moderna e abstrata. A arquitetura ideográfica aqui proposta funciona como um poema, uma poesia abstrata que reverbera em nós provocando diferentes emoções.