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Arquitetos: Kruchin Arquitetura
- Área: 370 m²
- Ano: 2005
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Fotografias:Sérgio Guerini
Descrição enviada pela equipe de projeto. Uma clareira em meio à mata alta, uma nesga de mar ao longe. Algo já pronto, constituído como lugar, sedimentado. Nada a fazer, apenas instalar um grande banco e contemplar o que se oferecera ao olhar através dos séculos: a floresta brasileira do Conde de Clarac, de Rugendas, a descoberta,o olhar inaugural. Parecia-me impossível inserir qualquer coisa que não quebrasse o encanto. Talvez algo que apenas pousasse e que instantes depois desaparecesse no verde intenso da mata: apenas um ponto, como são vistos os pássaros, aqui, ali.
Um tiê-sangue. Uma saíra. Uma clareira em meio à mata. Restos de samambaias altas, nascidas sobre terrenos cultivados, subiam a colina dificultando a percepção do ambiente. Voltei ali inúmeras vezes: a partir de certa altura via-se o mar, a baía cercada de montanhas baixas ao fundo, o movimento contínuo dos pássaros entre as árvores e o ruído leve e constante de um córrego que deveria estar próximo.
Do pequeno vale, uma vegetação alta, entremeada por juçaras, por sombras densas e pelos feixes de luz que entre elas encontravam caminho traziam Clarac, Rugendas, a descoberta europeia da floresta paradisíaca. Tudo ali estava pronto. Restava a contemplação. Pensar em um projeto, pensar em algo mais naquele ambiente: talvez se limitasse a um banco, a um imenso banco simbólico desse contemplar, banco de ver, não de sentar.
O tempo apenas acentuou a sensação de certa intocabilidade, a sensação de que qualquer coisa deveria aproximar-se do desapercebido e revelar-se muito sutilmente por entre os troncos verticais, dizendo não ser floresta, algo como um ponto, um ponto de cor como se descobre com surpresa: uma bromélia em galho alto pendendo suas folhas e erguendo sua flor ou, mais ainda, um tiê, uma saíra movimentando-se entre os galhos como um ponto de cor costurando todas as nuances de verde, um pássaro imerso na mata.