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Arquitetos: Felipe SS Rodrigues
- Área: 110 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Guilherme Pucci, Felipe SS Rodrigues
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Fabricantes: Terracor, Arqlinea Móveis, Cia da Iluminação, Cota Construções, Dpot, JRJ Tecidos, Jacqueline Terpins, Katmandu, Marluce Cortinas, Officio Marcenaria, Pedras Bellas Artes, RB Pisos, SCA Planejados, Sollos, Tecer Tapetes, reka iluminacao
Descrição enviada pela equipe de projeto. Há alguns anos haviam mesas de trabalho e salas de reunião nestes andares. O arquiteto Angelo Bucci converteu o edifício de escritórios em apartamentos residenciais para a incorporadora SKR. Este projeto ocupa 2/4 do terceiro andar, resultado da unificação de duas das novas unidades. Desenvolver os interiores deste apartamento significou dar continuidade a uma linha de pensamento que começa na calçada. São raros os edifícios em São Paulo que proporcionam uma experiência integral de contemporaneidade e integridade.
A começar, este edifício não se chama Champs-Élysées ou Cosmopolitan, tampouco possui aquelas varandas gourmets permitidas por uma legislação caolha que são convite e testemunho de que os brasileiros têm aptidão para favelização dentro de todas as classes sociais. Esta sendo uma construção existente, proporcionou um pé-direito impraticável ao novos empreendimentos e janelas enormes que fazem do próprio apartamento uma varanda.
Embora a atividade de Interiores seja minimizada já na base da formação acadêmica, nem este arquiteto nem o entusiasmo dos proprietários cederam para atalhos fáceis que levam a velhas novidades combinatórias e a ambientes excessivamente pasteurizados. O projeto do apartamento foi mediado por uma maquete física 1:75 que condensou toda a experiência projetual. A maquete inocente suaviza o fato de que para a conversão 1:1, seria necessário o esforço de algumas dezenas de homens e quase 5mil reais por metro quadrado.
A viga da fachada foi quebrada pelo menos duas vezes pelo proprietário ao apontar sua insatisfação com a obstrução da janela da cozinha pelo arquiteto que colocava em contradição seu investimento e o elogioso parágrafo anterior. Desse conflito surgiu em coautoria a anti-cozinha, que não encostava nas paredes – a conhecida ilha promovida a unidade autônoma. A ideia anticonvencional necessitou de aprovações convencionais, pelo vizinho de baixo – ainda, por sorte, o CEO da SKR, Silvio Kozuchowicz – convencido pela mesma maquete.
A complexidade nutrida pela confiança dos proprietários se desdobrou em horas empenhadas de criação sobre vários dos elementos constituintes do apartamento: os interruptores hightech dependeram da consultoria de um técnico em eletrônica; a saga do tapete niemeyeriano desenhado sobre um molde de papel como fazem os estilistas; as chapas de pedras naturais, escolhidas no ar, erguidas por guindastes na marmoraria, içadas pelas janelas do apartamento e carregadas por 7 homens até o lugar definitivo indicado na maquete de papel; os painéis de revestimento alumínico, que até serem definidos demandaram a insistência do arquiteto para que fossem como os do Louvre Lens; a escolha da madeira africana - que não seriam as inerciais Pau Ferro ou Carvalho Americano; o móvel da cozinha e o sofá projetados por este arquiteto e desenvolvidos pela antiga equipe da Loja Forma baseado em modelos do George Nelson e Isay Weinfeld. A cortina desenvolvida como elemento arquitetônico, como já celebra a designer Petra Blaisse em vários projetos de Rem Koolhaas; as cadeiras e poltronas do mestre da madeira Zanine Caldas contrapondo a toda precisão paulistana.
Ao final da obra a maquete não passaria de uma casa de bonecas para a filha do casal que começa a balbuciar as primeiras palavras com a tinta ainda fresca. A pequena Tarsila terá como parâmetro espacial, no início de sua jornada, aquele universo que este arquiteto e seus pais ousaram construir.