A Garagem Sul no Centro Cultural de Belém – espaço expositivo dedicado à arquitectura – inaugura a exposição O Mar é a Nossa Terra, A construção sensível da linha de costa no próximo dia 10 de Março. A exposição convida-nos a inverter o ponto de vista habitual e a pensar a terra a partir do mar. O que poderemos aprender com esta mudança de perspectiva?
Com curadoria de André Tavares e Miguel Figueira, a exposição apresenta o tópico através de vários meios, desde filmes a maquetas, passando por desenhos de arquivo, livros históricos, fotografias, infografias, miniaturas de barcos e instalações vídeo. O Mar é a Nossa Terra está patente até 9 de Agosto e inclui um extenso programa público, de forma a fomentar a discussão sobre este tema.
"Esta exposição de arquitetura que não apresenta edifícios belos, mas mostra como ela nos ajuda a compreender que o mar é um lugar que habitamos." - André Tavares, cocurator
Vivemos hoje num contexto de emergência ambiental, e o mar é um dos espaços onde se jogam forças fundamentais de uma mudança inevitável. É o mar que determina como habitamos em terra. Perante essa evidência, um grupo de arquitetos tem desenvolvido um olhar original para o mar, retirando das suas dinâmicas naturais as coordenadas necessárias para compreender aspetos tão determinantes do quotidiano como a erosão costeira, a relação das cidades com o mar, os fluxos comerciais portuários e o mar como via de comunicação global, as formas de construção associadas à exploração dos recursos naturais marinhos.
A exposição O Mar É a Nossa Terra convida a inverter o olhar, a pensar a terra a partir do mar. O que podemos aprender com um olhar que, em vez de contemplar o horizonte, se envolve na complexidade das relações entre as forças naturais, as atividades humanas e o funcionamento dos ecossistemas? Esta exposição pretende dar evidência à necessidade de compreender melhor o espaço em que habitamos e contribuir para ajustar os modos como o transformamos. Inverter o olhar significa pensar o que construímos a partir de um espaço vital para o planeta: o mar.
Conteúdos da exposição
O visitante da exposição vai encontrar na Garagem Sul uma grande variedade de objetos, de filmes a maquetas, passando por desenhos de arquivo, livros históricos, fotografias, infografias, miniaturas de barcos e instalações vídeo. A exposição está organizada em várias secções: Linha Sensível, Areia, Rocha, Cidade, Alto, Varar, Legislação, Rebentação.
Os exemplos apresentados concentram-se, sobretudo mas não exclusivamente, na costa portuguesa. É a partir desse espaço que se apresenta um conjunto de quinze filmes que representam a relação dinâmica entre a atividade humana e os fluxos marítimos. Paralelamente a esta instalação vídeo, as várias salas apresentam alguns projetos de construção de dunas e de portos, relacionando-os com fenómenos naturais que vão da geomorfologia costeira ao anticiclone dos Açores. Isso permite caracterizar as relações entre dois tipos de costa — areia e rocha — e a forma das ondas que a conjugação destas dinâmicas produz, com os modos de abordar a água — varar e alto — e as formas de construção do território que lhes estão associadas. Estas observações convergem numa síntese — cidade —, apresentada em duas propostas de projeto para a Figueira da Foz.
São projetos que demonstram como o pensamento da arquitetura é fundamental para decidir e transformar a relação entre a cidade e o mar. Uma denuncia o absurdo ambiental que é um mar de areia, outra propõe retirar essa areia devolvendo-a ao seu curso natural, a deriva. Estas propostas, assim como a inclusão na legislação da forma das ondas mais notáveis de Portugal — a mais longa, a mais alta, a mais tubular — são exemplos da participação cidadã que é necessária para configurar o espaço que habitamos. A exposição concluiu-se com a constatação da proximidade cultural entre a arte-xávega e o surf, pondo em evidência a relação direta entre o homem e o mar. O modo como enfrentamos a rebentação das ondas acaba por conduzir às formas como construímos as nossas casas e o espaço em que habitamos.
Programas públicos
Como é prática da Garagem Sul, a exposição O Mar É a Nossa Terra é acompanhada por uma programação paralela que permite aos visitantes aprofundar a descoberta dos conteúdos apresentados. Essa programação inclui visitas guiadas conduzidas pelos monitores da Garagem Sul, mas também por participantes da exposição e especialistas convidados; essas visitas prolongam-se também a obras e espaços da cidade, neste caso incluindo uma visita à Figueira da Foz. Há ainda um conjunto de oficinas para todos os públicos, de crianças a adultos, e mesmo escolas nos vários graus de ensino. Estas atividades estão agendadas, mas também podem ser realizadas nas datas mais convenientes (mediante marcação prévia).
Equipe de curadoria
A exposição tem a curadoria dos arquitetos Miguel Figueira, autor de obras como as intervenções no espaço urbano e o Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, e André Tavares, programador da Garagem Sul / Centro Cultural de Belém e investigador no Lab2PT da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho. Resulta de um trabalho coletivo que contou também com a participação do arquiteto Pedro Maurício Borges e dos designers change is good (José Albergaria & Rik Bas Backer), dos arquitetos Marta Labastida, Ivo Poças Martins e Pedro Bandeira, assim como do surfista Eurico Gonçalves e da produtora Carla Cardoso. Além das várias instituições parceiras, colaboraram na preparação da exposição Aitor Ochoa Argany, Daniel Duarte Pereira e Diego Inglez de Souza no âmbito do grupo de investigação Fishing Architecture do Lab2PT, Escola de Arquitetura da Universidade do Minho.
Biografias dos curadores
Miguel Figueira (Coimbra, 1969) é arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Foi responsável pelo Gabinete Técnico Local de Montemor-o-Velho (1997–2002) e, até 2014, pelo Projeto Urbano na autarquia. Coordena desde 2009 o movimento cívico SOS Cabedelo. Em 2003 recebeu o Prémio Nacional de Arquitetura Alexandre Herculano e, em 2011, o conjunto da sua obra foi distinguido com o prémio AICA da Associação Internacional de Críticos de Arte. Cofundador do movimento cívico SOS Cabedelo, em 2011 partilhou o prémio Movimento Milénio Cidade Surf com Eurico Gonçalves.
André Tavares (Porto, 1976) é arquiteto, investigador na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho e programador de arquitetura na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém. É coordenador da Dafne Editora, foi diretor do Jornal Arquitectos entre 2013 e 2015 e curador-geral, com Diogo Seixas Lopes, da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2016, The Form of Form. É autor de vários livros, com destaque para Uma Anatomia do Livro de Arquitectura (Dafne Editora/Canadian Centre for Architecture, 2016) (EAUM) e investigador no LAB2PT. É autor de livros como Projectos Específicos para Um Cliente Genérico (Dafne Editora, 2006) e Escola do Porto Lado B: 1868–1978 (CIAJG, 2014), e coautor de Atlas de Parede Imagens de Método (Dafne Editora, 2011; Lars Müller, 2012) e Poder/Arquitectura (Casa da Arquitectura/Lars Müller, 2017). Em 2015, foi-lhe atribuído, pela Associação Internacional de Críticos de Arte, o Prémio AICA de Crítica e Ensaística de Arquitetura.
O Mar é a Nossa Terra, A construção sensível da linha de costa
- Inauguração: Terça-feira, 10 de Março – 19h
- Horários de abertura: Terça a Domingo, das 10h às 18h
- Bilhetes: 6€ (Entrada gratuita no primeiro Domingo de cada mês)
- Local: Garagem Sul / Centro Cultural de Belém
- Endereço: Praça do Império, 1449-003 Lisboa
Título
O Mar É a Nossa TerraTipo
ExposiçãoOrganizadores
Garagem Sul / Centro Cultural de BelémDe
10 de Março de 2020 07:00 PMAté
09 de Agosto de 2020 06:00 PMOnde
Garagem Sul / Centro Cultural de BelémEndereço