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Arquitetos: VAGA
- Área: 210 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Pedro Napolitano Prata
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Fabricantes: Cozil, Móveis Delucci, Paula Souza Cerâmicas
“Um restaurante vegano, com ingredientes 100% orgânicos e nacionais, fornecidos por pequenos produtores de diversas regiões do Brasil, inserido em um ambiente onde seus animais são bem-vindos, com abundância de iluminação natural e acessível a todas pessoas.” São estes os principais fundamentos que motivaram a criação do Restaurante Cajuí, situado no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Aliado à avaliação inicial da construção preexistente, o conceito idealizado pelos clientes foi o principal alicerce para a concepção das primeiras simulações arquitetônicas.
O acentuado aclive presente logo no acesso ao imóvel, os inúmeros patamares da construção existente ascendentes até o fundo do lote e a escuridão de um imóvel estreito, praticamente coberto na sua totalidade, indicavam os desafios físicos inaugurais para a implementação do conceito na arquitetura.
Inicialmente, com a intenção de cumprir com as premissas logística e funcional, o espaço foi dividido em duas zonas por um volume baixo que compreende o banheiro para pessoas com deficiência e o bar. As escadas foram concentradas em locais estratégicos para vencer o desnível de forma a reduzir o número dos platôs preexistentes, proporcionando uma circulação mais fluida e intuitiva. Além disso, tornou-se necessária a implantação de uma plataforma elevatória a partir do nível da calçada até o nível do primeiro platô a fim de garantir a acessibilidade ao salão inferior, bar e sanitário.
Retomando os aspectos subjetivos que cercam a imagem almejada pela arquitetura, o nome do restaurante é referência direta ao pequeno fruto da família do caju, nativo do cerrado brasileiro. O cajuí, assim, foi adotado como ícone de uma das bandeiras levantadas pelos proprietários: o alerta para o desmatamento crescente em um bioma rico e singular que serve de inspiração tanto para o cardápio como para a ambiência do restaurante. Desta forma, adotou-se como condição absoluta ao projeto o enaltecimento da interação entre luz e cor, de forma que a incidência da iluminação natural sobre os materiais e cores empregados no espaço aludisse ao ambiente do cerrado brasileiro. Esta relação entre arquitetura e natureza foi excepcionalmente zelada durante todo o processo de criação e foi considerada em todas as decisões projetuais.
Os elementos arquitetônicos identificados no imóvel previamente à reforma expunham uma construção em alvenaria envolvida por estruturas provisórias precárias. Como uma das premissas era evitar grandes reformas estruturais no imóvel, a solução adotada foi concentrar as principais modificações nas novas estruturas auxiliares, fazendo com que essa envoltória cumprisse com a função de abrigo ao mesmo tempo que fosse o elemento responsável pela transmissão de luz natural e interação entre interior e exterior.
O resultado obtido foi uma estrutura de madeira anexa ao corpo da edificação existente. A telha translúcida permitiu a entrada de luz natural que, filtrada pelo forro de juta orgânica, influencia diretamente na coloração no ambiente nos diferentes momentos do dia. O piso de cimento queimado com pigmentação vermelha, além de ser uma alusão ao solo do cerrado, age em harmonia com a luz, fazendo com que as paredes brancas absorvam um pouco das cores terrosas usadas no projeto e ajudem transmitir a atmosfera desejada.
Além da minimização das intervenções durante a reforma, tomou-se o cuidado para que quase todos os resíduos gerados na obra fossem reutilizados na mesma, seja para o deck da área de espera, para o enchimento de pisos ou para o forro de bambu ao fundo do restaurante. Na parte de trás, junto à área de funcionários, foram construídos grandes canteiros para cultivar os principais ingredientes usados na gastronomia. O paisagismo, presente e protagonista em todos os ambientes, vai além do decorativo e torna-se funcional, sendo encarado como parte integrante da arquitetura e do funcionamento cotidiano do restaurante.