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Arquitetos: Vão
- Área: 100 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Federico Cairoli
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Fabricantes: Acier Metálica, SV Vidros e Espelhos, Tronco Marcenaria, reka iluminacao
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Ap. Simão Álvares consiste na transformação de uma então fragmentada cobertura no bairro de Pinheiros em um amplo e dinâmico espaço, compatível ao estilo de vida de um jovem casal de designers. Construída na década de 80, a tipologia original era composta por pequenos ambientes, desenvolvidos ao redor de um longo corredor que percorria o apartamento desde a porta de entrada até a estreita sala de estar, iluminada por uma única janela.
Esta área de circulação, morta e excessiva, foi suprimida no projeto com a demolição total das alvenarias internas; contudo, o eixo demarcado pelo corredor veio a estruturar também o partido da reforma. Ao atravessar transversalmente toda a extensão do espaço, o eixo passou a redistribuir o programa em dois grandes setores: um de convívio (sala de estar, jantar e cozinha) e outro privativo (quartos e banheiros). O elemento construtivo que demarca essa transição é um painel composto por compensados navais e revestidos de madeira tauari. As possibilidades de aberturas existentes no painel permitem integrar parcialmente ou desassociar por completo (ao conformar um plano opaco e monolítico) as áreas privativas das comuns.
Quando abertas, as portas-camarão junto ao quarto multiuso ampliam a sala de estar e desvendam a estante de livros, embutida no núcleo de concreto onde encontra-se o lavabo. Quando fechadas, por exemplo na eventualidade de hospedar uma visita, o acesso ao quarto e ao lavabo faz-se através de uma porta pivotante, logo após a interrupção do painel camarão pelo pilar de concreto.
Outra abertura pivotante dá acesso à área privativa do casal, conformada por uma circulação animada por usos. À esquerda, as portas revestidas pela mesma madeira, abrem o armário de roupas, o sanitário e o chuveiro; enquanto, à direita, duas bancadas de concreto recebem um roupeiro e a pia. Na reentrância onde originalmente estava a área de serviço, foi encaixada a cama, isolando o dormitório dos demais programas ligados à suíte.
Do outro lado do grande painel, as áreas comuns de convivência compartilham um espaço único, sem divisórias. Apenas dois elementos fixos anunciam a transição entres os ambientes: a bancada de apoio da cozinha, que ampara o sofá da sala de estar, e o banco de serralheria, delimitador da sala de jantar, que flutua engastado na bancada e no pilar existente. Assim como o banco, a mesa de jantar foi desenhada especialmente para as dimensões específicas do espaço. O tampo associado à duas vigas, produzidos em vidros espessos, vencem diretamente o vão da mesa, apoiada num embasamento de serralheria apenas em suas extremidades.
O vidro também aparece fortemente presente no segundo painel previsto pelo projeto: uma composição de planos que mediam as aberturas da varanda e isolam a área de serviço, encaixada na segunda reentrância da planta. A mescla entre o material na pureza de sua transparência e em sua variação mais translúcida, resultado do processo de acidação, surgiu do desejo de propor grandes aberturas sem comprometer a privacidade dos moradores.
Na varanda, a demolição parcial de uma parede alta, bem como da cobertura anexada a ela pelo antigo morador, revelou a principal vista voltada aos bairros-jardins. E para celebrar a conquista do horizonte, um volume de concreto utilizado como banco faz um convite ao estar externo. Executada meses após a finalização da obra, a última intervenção fez-se necessária com a adoção de um cachorro: telas mosqueteiro para fins de proteção foram suspendidas por finos perfis de serralheria, acoplados externamente ao guarda-corpo, configurando a terceira e última camada de painéis.