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Arquitetos: NODE Achitecture & Urbanism
- Área: 9500 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Chao Zhang, Yongyu Chen
Descrição enviada pela equipe de projeto. A estação de tratamento de água de Nanbu está localizada na área de expansão urbana de Pingshan, a nordeste da cidade chinesa de Shenzhen. O rio que dá nome a área de expansão onde encontra-se a estação de Nambu, nasce em Meisha Jian e atravessa toda área de Pingshan, percorrendo em todo o percurso pouco mais de treze quilômetros. Durante o frenético processo de desenvolvimento econômico e expansão urbana das últimas décadas, a orla do rio foi completamente destruída provocando a contaminação de seu leito, a deterioração de todo um ecossistema, e consequentemente, da qualidade da água.
Foi a partir disso que as autoridades locais decidiram criar um programa integrado com a intenção de recuperar a bacia do rio Pingshan, o qual incluía a construção de uma estação de purificação e tratamento de água. Como parte deste programa, tanques de retenção foram construídos para melhor regular o fluxo dos ciclos das águas, atuando ainda como um importante elemento na reconstrução do ecossistema ciliar do rio Pingshan. No início de 2018, a convite das autoridades locais da cidade de Shenzhen, os arquitetos da NODE Achitecture & Urbanism assumiram o desafio de humanizar a Estação de Tratamento de Água de Nanbu, incluindo a gestão e o gerenciamento das zonas úmidas artificiais ou wetlands, assim como a criação do chamado Xiashan Wetland Park.
A estação de tratamento de água está localizada em uma área chamada de Yanzihu, bem no meio do trajeto do rio Pingshan. Esta superestrutura faz frente ao também novo Centro Internacional de Convenções de Shenzhen, o qual encontra-se do outro lado do rio. A instalação proposta, além de sua exuberante arquitetura, inclui um grande lago artificial que faz parte hoje do Parque Xiashan anexo ao local.
Definida como uma das principais áreas de expansão urbana da mega-cidade de Shenzhen, toda a área de Yanzihu será em breve anexada ao chamado espaço urbano formal da região metropolitana, expandindo os limites do aglomerado urbano da Grande Baía de Guangdong - Hong Kong - Macau. O projeto de planejamento urbano da área, entretanto, ainda está em andamento – o que faz de Pingshan um elemento fundamental neste contexto. Acontece que, devido ao fluxo irrefreável da expansão urbana em direção ao interior, se fazia necessário humanizar a então existente estação de tratamento de água, portanto, o projeto do Pingshan Terrace é basicamente uma reforma ou adaptação, a qual foi executada sem a necessidade de interromper o funcionamento de toda a estrutura. Além disso, os arquitetos do NODE se comprometeram a criar não apenas um novo espaço público, mas uma área aberta e intimamente integrada à vida da comunidade de Yanzihu.
A Estação de Purificação de Água de Nanbu é uma estrutura de mais de 6.000 metros quadrados, sendo que a maior parte do edifício encontra-se enterrada abaixo do nível do solo e apenas 1.200 metros quadrados acima do nível natural do terreno, os quais acomodam os espaços de gerenciamento e gestão de toda a estrutura. O complexo da estação de purificação e tratamento das águas do rio encontra-se isolado da área urbana de Nanbu, ancorado às margens do rio Pingshan aonde uma estrada deverá ser construída para dar acesso aos mais de 100.000 m2 do recém criado Parque Xiashan.
Pouco antes de sermos contratados para desenvolver o projeto da nova estrutura da Estação, o volume subterrâneo do sistema de tratamento de água já havia sido concluído. Apesar de sua estrutura assimétrica pouco convencional e não muito bem justificada, as autoridades locais determinaram que o novo projeto, incluindo o espaço público a ser criado, não deveria prever nenhum tipo de modificação na estrutura da estação já em operação. Por outro lado, recebemos carta branca para pensar o projeto do espaço público. Desta forma, o maior desafio encontrado neste projeto foi construir relações efetivas entre a estrutura bastante engessada da estação e o espaço aberto que o conecta com a cidade e o parque, sem no entanto, restringi-lo demais às condições determinadas pela pré-existência da estrutura da estação.
Propomos a criação de um passeio público no eixo norte-sul vindo do parque até chagar à cobertura do edifício, conectando a área verde ao norte com o rio Pingshan ao sul, atravessando a praça de drenagem e filtragem da água que dá as boas vindas aos visitantes na parte baixa do terreno. Como um reflexo da atividade interna do complexo sistema de tratamento e purificação da água, a praça hídrica comunica ao público à que esta infra-estrutura se presta, representando o último estágio de limpeza antes da água ser devolvida ao rio.
A cobertura do edifício surge como um plano extrudado e deslocado acima do edifício, fruto de uma operação formal que pretende criar uma plataforma escalonada que se inclina em direção ao lago, proporcionando a criação de novas relações visuais entre o projeto e a paisagem circundante, operando como um espaço público aberto a toda a comunidade de Yanzihu.
A plataforma escalonada no telhado é estruturada por uma série de planos sobrepostos responsáveis por criar uma relação espacial dinâmica e enriquecedora em conjunto com o edifício existente. Assumindo a forma de um espaço público elevado, esta plataforma permite que os cidadãos adentrem um território anteriormente inacessível através de um sistema independente de circulação que evita qualquer perturbação na operação funcional e no gerenciamento diário da estação de tratamento de água.
Para que o sistema opere de maneira efetiva, foi necessário instalar um poço de ventilação permanente integrado a uma chaminé que supera a altura máxima do edifício em até quinze metros. Contornando esta torre de ventilação, uma escada em espiral foi criada para permitir o acesso à cobertura, oferecendo uma perspectiva panorâmica para o parque ao mesmo tempo que minimiza a presença imponente da torre.
O edifício existente é uma estrutura robusta, funcional e majoritariamente subterrânea, o qual foi totalmente construído em concreto. O projeto levado à cabo pela equipe de arquitetura da NODE, nasce de uma necessidade de humanizar uma infraestrutura tão introspectiva quando necessária. A cobertura leve de aço funciona então como uma extensão do edifício, não mais voltado apenas à sua operacionalidade mas principalmente para construir novas relações espaciais, convidando a comunidade a interagir com seus espaços e criando um lugar de encontro e socialização.
Um dos maiores desafios deste projeto entretanto, foi adaptar o volume da cobertura – e consequentemente os espaços que ela cria – à estrutura irregular de concreto do edifício existente. Este plano elevado em forma de passarela ou mirante foi então resolvido através de uma mega treliça que transfere as cargas da cobertura às colunas de concreto já previstas anteriormente para suportar este peso adicional.
Com uma topografia construída, a cobertura deve – acima de tudo – garantir uma drenagem eficiente assim como a captação e o redirecionamento das águas pluviais. Devido a sua monumentalidade, questões meramente práticas passaram a ser enormes desafios. A água que escorre pela cobertura metálica do edifício é então captada por pontos próximos às colunas, encaminhando a água coletada para o sistema de drenagem que inclui um espelho d'água que compõe com o projeto de paisagismo.
Como a principal interface pública do edifício da estação de tratamento de água, esta passarela elevada ou cobertura é devidamente acessível. Os pisos revestidos em madeira plástica foram projetados para atender aos mais rigorosos códigos de segurança, acessibilidade e drenagem. Esta paisagem topográfica construída é composta por diferentes planos, alternando superfícies inclinadas de concreto, estruturas metálicas e tábuas de madeira plástica, as quais contam com um afastamento mínimo para permitir o devido escoamento da água da chuva.
Em seu ponto mais elevado, a cobertura conta com uma estrutra em forma de arquibancada, onde podem ser realizados eventos performáticos de todo o tipo para um grande número de pessoas, tudo isso com um pano de fundo exuberante e impressionantes vistas para a paisagem do Parque Xiashan. Suas formas arrojadas, marcadas por plataformas elevadas e sobrepostos, degraus e planos inclinados, foi a forma encontrada pelos arquitetos para melhor resolver a situação inesperada criada pela presença de uma estrutura irregular e pouco convidativa.
Deste modo, esta cobertura monumental que se revela em formas complicadas e contraditórias representa e si, todo o esforço empreendido para humanizar uma estrutura pouco apta ao programa proposto. Pensando nisso, a fluidez da paisagem proposta, que se estende desde o térreo até a cobertura, é a maior prova de que nosso objetivo foi alcançado. Através de soluções funcionais fomos capazes de criar um espaço público acessível e acolhedor, perfeitamente adaptado às condições climáticas específicas.
O Pingshan Terrace junto à Estação de Tratamento de Água de Nanbu é desta forma, um dos nossos principais projetos de infraestrutura pública, uma estrutura que não pode ser considera apenas uma arquitetura da paisagem, mas um espaço público integrado à complexas soluções tecnológicas e construtivas. Nosso principal objetivo com este projeto era transformar uma instalação funcional e pouco apta ao programa proposto, em um agradável espaço de caráter público e fundamentalmente educacional.