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Arquitetos: Estudio Tupi
- Ano: 2018
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Fotografias:Leka Mendes, Andrés Otero
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Fabricantes: Armstrong Ceilings, Bellart, By Kamy, Consult, Di Mármore, Exbra, Florense, Flow, Galo, JRJ, Luminae, M5, Madeiras Ecológicas, Mobbi, Renata Tilli, Rollit, Stobag, Top Seal, Uniflex
Descrição enviada pela equipe de projeto. Entre 16 de junho de 2018 e 02 de fevereiro de 2019, o Estudio Tupi projetou e ajudou a construir a nova sede da Uniflex Cidade Jardim dentro do edifício da loja Forma, projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, de 1987, em São Paulo. A intervenção propunha inicialmente que os novos elementos alocados no edifício tivessem sempre as cores primárias – vermelho, amarelo e azul. A ideia inicial, que motivou estudos formais, com o desenvolvimento de maquetes e perspectivas, baseava-se também na rígida composição entre formas geométricas – cilindros, quadrados, círculos – que dialogavam com o espaço original e o cinza do concreto aparente.
Esta ideia evoluiu durante os meses em que o projeto da Re-Forma acompanhou o andamento das obras. As formas geométricas foram simplificadas, sobrando quadrados e cubos. As três cores primárias deram lugar ao vermelho, que identifica os novos elementos sobrepostos ao edifício, ou aqueles que sofreram alguma intervenção. Desta forma, foram definidos os novos espaços necessários para que o projeto atendesse ao programa da Uniflex, que incluía a criação de salas fechadas para ambientação de um home theater, sala de reunião e sala da diretoria. Esses novos ambientes deveriam ainda ser climatizados e oferecer infraestrutura para implantação de produtos e serviços a serem comercializados – luminárias, cortinas, mobiliário de escritório, equipamentos de áudio e vídeo –, comandados por um sistema integrado de automação.
Os projetos de climatização e acústica demandavam ainda o fechamento do edifício – no projeto original de Paulo Mendes da Rocha, a porta-escada de entrada, quando aberta, deixava os interiores expostos às variações climáticas e aos ruídos externos. A escada, originalmente branca, foi pintada de vermelho, uma vez que perdeu sua função de porta.
O mesmo se deu com os guarda-corpos metálicos, que protegiam o desnível entre o piso principal e as lajes mais baixas – a vitrine, de frente para a Avenida Cidade Jardim, e os escritórios, voltados para o fundo do terreno –, repetidos no mezanino. Esses guarda-corpos foram mantidos nas quatro escadas que vencem os desníveis das lajes rebaixadas, pintados de vermelho e com seus apoios originais evidenciados em cima e na lateral do novo mobiliário metálico. O mobiliário, composto por cubos vazados que configuram grids ou preenchidos por armários, gavetas que evocam mapotecas ou cabideiros de tecidos, atendem à demanda de expor e armazenar os produtos, sem a necessidade de se instalar expositores convencionais.
Assim como simbolicamente os apoios dos guarda-corpos foram fixados no mobiliário – the book is on the table, reverenciando a obra de Paulo Mendes da Rocha como um tratado, livro posto sobre a mesa , outra parte dos mesmos foi deslocada para o limite entre o terreno e a calçada, criando um porte-cochère imaginário que delimita as áreas pública e privada. Dando continuidade ao programa de necessidades, foram criados grandes cubos metálicos vermelhos – no piso principal e no mezanino – a que abrigam o home theater, a sala de reunião e da diretoria – além de fazer as vezes de caixilho para a porta automática instalada logo após a chegada da escada. No fundo do terreno, esses elementos se repetem como uma edícula, para a exposição de toldos e mobiliário externo, comercializados pela Uniflex.
A parte mais complexa do programa – e também a mais importante para a Uniflex – era a definição dos expositores das cortinas e persianas, principais produtos da marca. Inspirado pelas altas janelas existentes no showroom de fábrica, criaram-se janelas alegóricas sobrepostas à estrutura interna de sustentação das fachadas. Essa estrutura, originalmente aparente e disfarçada por grades metálicas, seguiria exposta por trás de grandes caixas retroiluminadas, que serviriam de suporte para as cortinas, além de emular a iluminação natural, limitada originalmente a duas faixas estreitas de vidro, na frente e nos fundos, no nível das lajes rebaixadas. Estes painéis, cuja estrutura metálica foi pintada de vermelho, não se tocam entre si, permitindo entrever a estrutura metálica pintada de branco sobre o fundo do revestimento original das fachadas. A rígida paginação dessas caixas, que evidenciam a modulação do edifício, se repete no teto. As grades metálicas originais, que deixavam a estrutura aparente, foram substituídas por placas de forro acústico quadradas na cor cinza, que obstruem parcialmente a superfície do teto, seguindo o mesmo princípio de deixar visível a estrutura original pintada de branco sobre fundo preto.
As fachadas de alumínio, inicialmente projetadas por Paulo Mendes da Rocha como um outdoor apresentado no fluxo urbano da Avenida Cidade Jardim, foram adesivados de vermelho, impressas com o grid quadriculado descoberto em desenhos da época da construção da Forma. Na fachada frontal, optou-se por reproduzir as linhas do Templo Malatestiano de Rimini, na Itália, desenhado por Leon Battista Alberti, como uma marca d’água, na escala 1:1. Tanto a escolha do desenho do Templo Malatestiano, quanto a escolha da cor vermelha para a demarcação das intervenções, dialogando com teóricos do restauro arquitetônico e com a obra de pensadores contemporâneos, como o arquiteto Bernard Tschumi, o filósofo Jacques Derrida e o escritor James Joyce, são expostas de forma textual no livro Mea Culpa: ou como fizemos para reformar a Forma de Paulo Archias Mendes da Rocha