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Arquitetos: RAD+ar (Research Artistic Design + architecture)
- Área: 450 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:William Sutanto
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Fabricantes: Mulia, Taco HPL, Toto
Descrição enviada pela equipe de projeto. Projetar em um país tropical não significa apenas criar estratégias para se proteger da chuva e do sol. A história da “arquitetura dos trópicos” remonta a milhares de anos, partindo das construções vernáculas indígenas até a posterior incorporação de suas diferentes abordagens por distintas culturas e modos de fazer. Muitas vezes, quando tentamos descrever o que seria arquitetura tropical recorremos ao estereótipo de telhados inclinados, generosos beirais e varandas, entretanto, algumas das soluções mais cotidianas e eficientes parecem ter sido esquecidas, desconhecidas pela maioria dos arquitetos contemporâneos.
Em tempos de crise ambiental e energética, como o que estamos vivendo atualmente, soluções construtivas conscientes e ambientalmente sustentáveis parecem ser o principal foco dos projetistas em busca do zeitgeist da arquitetura contemporânea. Buscar respostas ao contexto e clima específico do local onde projetamos, tem se fortalecido como uma das principais estratégias de projeto na busca por estabelecer uma arquitetura em equilíbrio com a natureza. E mais do que isso, que seja capaz e se adaptar a um mundo—naturalmente e socialmente—em constante processo de transformação.
É exatamente neste contexto que se insere o projeto para a nova sede do escritório de arquitetura RAD+ar, o qual foi utilizado pelos arquitetos para explorar novas soluções, reinventando aquilo que conhecemos como arquitetura tropical. Como resultado disso nasce a “Micro Tropicalidade”.
“Micro Tropicalidade” é uma estratégia de projeto que busca responder às condições específicas, sejam elas humanas ou climáticas, de um país tropical. É uma solução que vai muito além de simplesmente reproduzir antigas fórmulas e formas, como longos beirais e varandas porticadas. Trata-se de desenhar “fachadas multi-camadas”, reduzindo a radiação solar, direcionando a brisa constante e fresca para dentro de casa, significa também sombrear as aberturas, criar estratégias para resfriar as paredes e o ar assim como direcionar as vistas. No final, como resultado do somatório de todos estes elementos, encontramos uma expressividade pura, livre e, se assim pudermos chamá-la, tropical. Como uma estratégia de projeto voltada para construir um diálogo entre arquitetura e o ambiente natural dos trópicos, a Micro Tropicalidade desafia alguns dos princípios básicos daquilo que conhecemos como arquitetura tropical:
Reter a água ou livrar-se dela? A forte inclinação dos planos de cobertura das casas construídas nos trópicos parece ser uma resposta óbvia aos característicos altos índices pluviométricos. No entanto, apesar do desenvolvimento de novas tecnologias, a maioria dos edifícios construídos nestas latitudes continua a adotar essa abordagem—perdendo oportunidade de armazenar a água da chuva. Nossa estratégia de projeto busca dar um exemplo de como é possível dar vazão aos altos volumes de água da chuva e ainda assim, absorver o máximo volume de água possível para reaproveita-la futuramente. Assim é possível facilmente captar 100% água utilizada para a irrigação do jardim.
Funcionalidade / Vernacular. A arquitetura tropical evoluiu naturalmente ao longo do tempo, estabelecendo um “imaginário” de como a arquitetura dos trópicos se parece ou deveria parecer. A nossa proposta, por sua vez, procura contribuir com o futuro desenvolvimento de projetos tropicais mais conscientes de seu papel e lugar, incorporando novas estratégias que, a partir do tempo presente, procura estabelecer uma nova abordagem estética que, embora mantenha um pé na tradição, aponta para o futuro.
Largura máxima dos edifícios e novas estratégias de iluminação natural. A fim de minimizar a dependência dos sistemas de iluminação artificial durante o dia, a maioria dos códigos de obras em países tropicais recomenda a construções de volumes com no máximo 12 metros de largura, impondo um limite que impacta decisivamente na falta de variedade das tipologias que se constroem em tais localidades. Pensando nisso, decidimos criar aberturas pontuais no volume do edifício, proporcionando melhores condições de iluminação mesmo em um volume com 18 metros de profundidade, e o que é melhor, proporcionando uma maior diversidade de arranjos dos espaços interiores.
Manipulando a temperatura da casa através da orientação das aberturas. Países tropicais são conhecidos por suas altas temperaturas. A maioria dos edifícios construídos nestas zonas tendem a uma orientação norte-sul, maximizando as condições de iluminação enquanto minimiza o ganho térmico ao longo do dia. Nossa proposta mostra que outras abordagens não devem ser descartadas. Criando aberturas nas fachadas leste e oeste, é possível estabelecer uma maior diferença de temperatura dos planos de fachada, favorecendo assim a circulação do ar no interior da casa através do efeito chaminé.
Uma arquitetura capaz de reconhecer as especificidades das latitudes tropicais e que, a partir disso, expresse valores inerentes a sua cultura e local, talvez seja a melhor forma de construir uma relação equilibrada para com a paisagem natural e humana onde está inserida; promovendo a qualidade de vida e ajudando a construir novas referencias para o futuro.