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Arquitetos: Bonaventura Visconti di Modrone
- Área: 400 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Marco Cappelletti
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em 2014, logo após concluir o curso de arquitetura, o então recém formado arquiteto italiano Bonaventura Visconti di Modrone foi convidado pela Ayitimoun Yo a projetar e construir um conjunto habitacional para crianças órfãs na pequena vila de Anse-à-Pitres, no sudeste do Haiti.
Como uma organização não governamental, a Ayitimoun Yo se dedica à cuidar destas crianças e pensando nisso, decidiu convidar o jovem arquiteto italiano para desenvolver o projeto de um edifício anti-sísmico para as crianças, um lugar que também pudesse servir como uma espécie de paraíso onde elas pudessem se sentir acolhidas e parte de uma nova grande família.
O desejo dos responsáveis pelo projeto Ti kay là era que o edifício fosse um espaço de fácil controle, um lugar que as crianças pudessem chamar de casa.
As crianças, por sua vez, necessitavam de diferentes áreas programáticas: um espaço interior o qual elas compartilham com seus companheiros de quarto; um espaço semi-aberto onde pudessem fazer suas tarefas e conviver com as demais crianças do abrigo; e um grande espaço aberto para brincar e se divertir como todo ser humano de suas idades merecem. Esta subdivisão espacial foi uma importante ferramenta estabelecida para lidar com o fato de que no abrigo convivem crianças de diferentes idades e origens.
Outro fator determinando no desenvolvimento do projeto era que o novo edifício se encaixasse perfeitamente em seu contexto arquitetônico específico. Pensando nisso, o arquiteto buscou inspiração em dois elementos típicos da arquitetura local: o assentamento lakou e a casa rural haitiana.
Lakou é o nome dado aos tradicionais assentamentos haitianos, onde as casas se organizam ao redor de um pátio central; para este projeto porém, o arquiteto reinterpretou este elemento, implantando os dois volumes das casas junto a dois dos quatro lados do terreno, deixando um grande espaço aberto entre os edifícios. A tradicional casa haitiana é composta por um volume retangular simples e despojado, com uma varanda aberta que é alegremente decorada e coberta por um telhado inclinado. Na cultura haitiana, o telhado inclinado significa especialmente respeito e aceitação, por isso este elemento foi incorporado repetidamente neste projeto, dando forma a sua silhueta característica.
Como o clima haitiano é muito quente e úmido, a estrutura do telhado encontra-se elevada em relação aos volumes das casas ou quartos, permitindo assim a livre circulação de ar fresco pelos volumes que compõe os espaços do edifício.
Alguns detalhes do projeto, como a cor das paredes e do piso de concreto, foram escolhidos diretamente pelas crianças através de oficinas desenvolvidas para incluí-las nos processo de projeto; isso ajudou os arquitetos à personalizar suas futuras casas, fortalecendo assim a sensação de pertencimento e identidade.
Observando atentamente e incorporando elementos do contexto arquitetônico local, pudemos projetar um edifício profundamente integrado à paisagem social e cultural do Haiti.
O maior desafio encontrado durante a fase de construção do edifício foi a organização da logística da obra; muitos dos materiais necessários foram trazidos da República Dominicana, principalmente da capital, Santo Domingo, que fica a mais ou menos um dia de viagem do canteiro de obras.
Além disso, devido a questões diplomáticas entre os dois países, foi muito difícil passar as mercadorias pela alfândega e transportá-las até o local.
Todos os outros materiais e componentes foram executados no canteiro de obra por artesãos da própria comunidade. A decisão de empregar exclusivamente mão-de-obra local foi tomada para engajar toda a comunidade na construção do abrigo, fazendo que não apenas as crianças, mas todos os moradores de Anse-à-Pitres se sentissem parte desta bela e generosa iniciativa.