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Arquitetos: Contemporânea Paulista
- Área: 300 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Leo Giantomasi, Fabiula Domingues
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Estação Ferroviária de Campo Grande, na Vila de Paranapiacaba, em Santo André (SP), a 40 km da capital paulista, volta à vida. A partir de 2021, o prédio histórico, com 300 m² de área construída e 7.500 m² de área externa, será ocupado novamente. Com risco de desabamento depois de um incêndio e 20 anos de abandono, a Estação foi totalmente restaurada e refuncionalizada. A obra durou 10 meses e envolveu uma equipe interdisciplinar composta por mais de 40 pessoas. O projeto de restauro teve gerenciamento da arquiteta Fabiula Domingues. Inaugurada há mais de 130 anos, em 1º de agosto de 1889, este edifício histórico, construído pela empresa inglesa São Paulo Railway, integrava o contexto de crescimento do estado de São Paulo na segunda metade do século XIX.
O projeto cultural da Estação Ferroviária de Campo Grande contemplou o restauro e a reconstrução total da área interna - telhas, tijolos, madeiramento estrutural, argamassa de revestimento, piso, portas e janelas. Na área externa, foi recuperada com novo piso, cercamento com alambrado, preparação do solo para o estacionamento, nova área de dejetos, postes de luz e uma iluminação monumental, que valoriza o restauro do prédio e destaca sua beleza estrutural. A partir de 2021, a estação será usada como centro de controle operacional das composições MRS que trafegam pela região em direção ao Porto de Santos ou retornando no sentido do interior de São Paulo, entre outros destinos. O projeto cultural de Restauro da Estação Ferroviária de Campo Grande foi patrocinado pela MRS Logística (concessionária de transporte de carga pela ferrovia), por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com o valor aprovado de R$ 1.746.599,96. A iniciativa teve apoio da Prefeitura de Santo André e do Comdephaapasa - Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André. Referenciado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS da ONU, o projeto foi elaborado pelo arquiteto Laerte Gonzalez e a obra executada pela Anwal Engenharia.
“Temos muito orgulho do projeto cultural de restauro da Estação de Campo Grande. A MRS apoia fortemente a preservação da memória ferroviária, e Campo Grande é um projeto que evidencia nosso compromisso com o patrimônio ferroviário. A estação voltará a ser operacional, um espaço com atividades ferroviárias, no controle do tráfego de composições, e também terá espaço para atividades educacionais. Nossa expectativa é poder apoiar mais ações de restauro ao longo dos próximos anos”, afirma o gerente geral de Relações Institucionais SP da MRS Logística, José Roberto Lourenço. “Participar da requalificação e restauro da Estação Ferroviária de Campo Grande, foi uma grande honra. Hoje, com a obra concluída, ver a unicidade estilística restaurada e a nova funcionalidade empregada, significa que conseguimos dar um primeiro e importante passo para a preservação da memória ferroviária”, comemora a arquiteta Fabiula Domingues, responsável pela coordenação da obra de restauro. “Nesta gestão, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, a Prefeitura de Santo André tem se empenhado para viabilizar a recuperação dos relevantes símbolos históricos de Vila de Paranapiacaba e da região. Devido à dimensão e à complexidade desse patrimônio, ações em parceria tem se mostrado uma estratégia muito efetiva. De tal modo, a recuperação da Estação de Campo Grande é também a recuperação de uma parte significativa da história de Santo André e de todo o Estado de São Paulo. Este restauro, bem como as outras revitalizações realizadas na Vila de Paranapiacaba pela Prefeitura, MRS, Iphan, comunidade e outros parceiros, são de suma importância para recuperação e promoção deste grande complexo patrimonial”, destaca o secretário de Meio Ambiente em exercício, Alexandre Audino.
Restauro cuidadoso e minucioso em todas as peças e etapas. Com telhado, piso, janelas, portas, instalações elétricas e hidráulicas totalmente refeitos, a Estação Ferroviária de Campo Grande restaurada é um novo patrimônio para a cultura nacional. Fechado por quase 20 anos, o local estava abalado por um incêndio ocorrido em 2010. No início de 2020, a estação encontrava-se inacessível e corria o risco de desabar, com grande quantidade de vegetação, umidade, sujeira e microrganismos (como fungos e bolores) causadores de doenças. Na recuperação do local, a limpeza foi imprescindível para que fosse possível visualizar os danos e tomar as providencias de restauro, garantindo a estabilidade das paredes e a melhora na qualidade do ar. Por meio de minuciosa atividade manual, de limpeza e restauro, o projeto recuperou todos os elementos históricos possíveis da arquitetura original. Cerca de duas mil telhas, fabricadas no século XIX pelas famosas olarias francesas de St. Henry Marseille, foram limpas e testadas quanto à absorção antes de retornarem à cobertura.
Todo material de demolição remanescente da obra foi doado à Prefeitura Municipal de Santo André e dois tijolos ao Museu do Tijolo. Com a marca SPR, da Cia. São Paulo Railway, respiradores de ferro, utilizados para a troca de ar perto do chão, foram recuperados e três réplicas foram construídas para os vãos onde eles estavam faltando. Todas as janelas de madeira pinho de riga, que tinham sido destruídas, foram refeitas com madeira de lei cedrorana, no modelo inglês guilhotina. O piso de madeira, que também não havia resistido ao tempo, foi reconstruído em garapeira, madeira de alta resistência, muito conhecida como garapa ou grapiá. O forro seguiu o desenho original com réguas de madeira formando o desenho saia-camisa moldado com um rodateto. O telhado da marquise da estação, na plataforma de embarque e desembarque, foi totalmente reconstruído.
Os arquitetos reproduziram o desenho da estrutura original por meio de levantamento cadastral e iconografia (imagens antigas). Até os detalhes da decoração da marquise tiveram de ser refeitos. Foram fabricados novos pináculos invertidos de madeira, que têm esse nome porque ficam de cabeça para baixo e lembram pinhos pendurados. Atividades educativas online para público e moradores da região resultaram em Inventário Participativo do Patrimônio Cultural Durante a execução da obra, também foram oferecidas atividades educativas online, organizadas por Doutores e Mestres integrantes da REPEP (Rede Paulista de Educação Patrimonial). O resultado desses encontros e estudos resultaram no Inventário Participativo do Patrimônio Cultural. Elaborado pelos pesquisadores, este documento foi disponibilizado à população e às Prefeituras Municipais e reúne informações sobre os mais de 130 anos de história do prédio da Estação Ferroviária de Campo Grande e da região onde está localizado.
Com formação multidisciplinar em arquitetura, antropologia, geografia e história na USP, UNICAMP, UNESP e PUC-SP, os profissionais trabalharam sob coordenação do Mestre em Antropologia Social pela USP Carlos Eduardo Gimenes e da Arquiteta e Urbanista Ana Paula Soida. A equipe organizou dois encontros online voltados para interessados nas áreas de cultura, educação e, em especial, a agentes culturais, professores estudantes e moradores dos municípios de Santo André e Rio Grande da Serra, que trataram dos temas história e preservação. As lives ‘A importância da Educação Patrimonial em obras de restauro’ e ‘Inventário Participativo em obras de restauro’ incentivaram a difusão e a preservação da memória, por meio do patrimônio histórico. Outras curiosidades históricas e da obra de restauro da Estação de Campo Grande.
A São Paulo Railway foi a primeira estrada de ferro construída no estado, entre os anos de 1860 e 1867, por investidores ingleses. Os trens levavam passageiros e mercadorias do litoral, em Santos, ao interior, passando por várias cidades até o ponto final na capital paulista. Construída inicialmente para ser uma parada de manutenção dos trens que faziam o transporte da madeira extraída na região de Paranapiacaba, a Estação Ferroviária de Campo Grande foi ganhando importância e passou a ser usada para embarque e desembarque de pessoas e também para o carregamento de lenha e carvão. A Estação Ferroviária de Campo Grande foi construída com materiais importados. Pesando quase 3 kg cada uma, milhares de telhas da olaria St. Henry Marseille viajaram da França até a cidade de Santo André (SP) para cobrir o edifício. O período do reinado da Rainha Vitória (1837-1901), na Inglaterra, influenciou a construção da Estação Ferroviária de Campo Grande. Seguindo o estilo vitoriano, o projeto original do edifício inclui grandes janelas na fachada de tijolos aparentes. As janelas do modelo guilhotina são atribuídas ao inventor britânico Robert Hooke (1635 -1703) e eram comuns em prédios dos estilos Georgianos (reinados de George I, II, III e IV de 1714 até cerca de 1830) e Vitorianos (reinado da Rainha Vitória de 1837 a 1901).
Descobrir a cor das paredes, por meio de prospecções pictóricas, era um desafio para recuperação do local. Foi preciso raspar cuidadosamente as quatro camadas que cobriam a primeira pintura, cor de areia, e analisar a composição da argamassa histórica. Uma obra de restauro pode revelar surpresas sobre a planta original dos prédios. Quando os operários retiraram a vegetação que cobria todas as áreas, os arquitetos registraram que uma das janelas havia sido construída de forma diferente na face Noroeste, com o peitoril de cimento. As demais janelas deste mesmo lado têm peitoril de ferro fundido. O posicionamento do sol influenciou a arquitetura original. A fachada Noroeste, voltada para a área do novo estacionamento, é uma área ensolarada e onde a maior parte dos peitoris das janelas são de ferro fundido.
Já a fachada Sudeste, onde era a plataforma de embarque e desembarque, é uma área de sombra sob a marquise, o que explica a opção por peitoris de granito, mais resistentes à umidade. Para ampliar a entrada de luz e permitir a troca de ar interno e externo, a Estação Ferroviária de Campo Grande possui uma abertura redonda próxima ao telhado, chamada óculo, que foi recuperada, retomando a sua função de ventilação cruzada da estação. Com a marca SPR, da Cia. São Paulo Railway, os respiradores de ferro fundido estão presentes em vários pontos da base do edifício para permitir a troca do ar interno com o externo, o que faz diminuir a variação da temperatura capaz de prejudicar o piso de madeira. Durante a obra, foi descoberto que três dos respiradores precisariam ser repostos por réplicas construídas em resina epóxi e lã de vidro. Com capacidade para durar até 400 anos, as réplicas foram colocadas na fachada Sudeste do prédio, uma área de sombra onde a umidade poderia afetar as peças antigas de metal.